Filha de Marília Pêra leva calote e é humilhada em Portugal
Nina Morena mora em Lisboa desde 2019
Publicado em 11/11/2022 às 15:37
A atriz Nina Morena, filha de Marília Pêra (1943-2015) e do escritor Nelson Motta, teve uma experiência negativa com um espetáculo teatral do qual ela participou em Portugal, onde mora desde 2019. Pela produção, que empregava outros brasileiros além dela, a artista receberia uma remuneração mensal de € 1 mil (cerca de R$ 5,4 mil na cotação atual) durante seis meses, mas isso não aconteceu.
Nina fazia o papel de Ms. Complicated na Drag Taste, montagem que unia teatro e gastronomia, e, para chegar ao valor de seu cachê, seriam necessárias 32 apresentações por mês, com um cachê unitário de € 32,25 (R$ 175). Porém, de acordo com relatos da atriz ao jornal O Globo, o projeto enfrentou diversos problemas, sendo o primeiro deles o cancelamento da maioria das datas por Pedro Pico, idealizador da produção e fundador da marca. Isso reduziu os pagamentos de forma drástica.
"Ele foi cancelando, porque foi ficando bêbado e dando problema. Mas sempre tinha público, porque ele é talentoso, mas mau caráter. Tanto que há inúmeras reclamações de pessoas sem reembolso e funcionários sem pagamento. Ele foi se enrolando", lembrou ela.
Em julho, Nina foi diagnosticada com Covid-19 e se afastou dos palcos. Na mesma época, Pico sumiu e ela foi acionada para substituí-lo em cena. "Na véspera de eu voltar, disseram que ele estava desaparecido e perguntaram se eu poderia fazer o papel dele. Foi um Deus nos acuda, porque eu não sou drag queen e estava saindo da Covid. Foi difícil, mas fiz uma noite. Só não me senti segura para fazer a segunda vez, como eles queriam", afirmou.
Segundo a atriz, quando soube do episódio, Pedro ligou para ela. "Completamente bêbado, me humilhou e falou coisas horrorosas e me culpou por afundar a Drag Taste. No dia seguinte, fiz o meu papel e ele ligou para me xingar de puta para baixo, manipulando, falando que eu era a responsável por destruir tudo, deixando todos desempregados. Foi pesado e fiquei deprimida três meses, sem conseguir trabalhar, enquanto ele fechava a Drag Taste e deixava trinta desempregados sem pagamento", lamentou.
Filha de Marília Pêra recebeu menos do que o combinado
Ao todo, Nina Morena diz ter feito poucos espetáculos. Na soma do valor unitário de cada apresentação, ela ainda precisaria receber € 62,5. "Meu valor ficou baixo porque era para fazer espetáculos de sexta a domingo, que foram cancelados. E os demais ele foi pagando. Mas não é pelo dinheiro, é porque ele só não me pagou porque ele achou que eu era uma puta e que não tinha que pagar", reclamou.
"Ele disse que era para ir na Drag Taste e pegar coisas e vender. E as pessoas na rua sem dinheiro para pagar o aluguel ou comprar comida. Tem gente da equipe para quem ele deve € 4 mil, € 3 mil ou € 1,5 mil."
A drag queen brasileira Paolle Santos estava presente nos bastidores quando Pedro Pico ligou para Morena. "Tentamos entender e acalmá-la. Foi horrível. Ela, pós-Covid, fez o papel dele no espetáculo (...) Quando (Pedro) aparecia, estava fisicamente alterado, cheirando a álcool e agressivo. O espetáculo acabou, todos foram demitidos e sem aviso prévio".
Santos disse que Pico lhe deve € 4 mil (R$ 21 mil) e ainda a recrutou para um novo espetáculo, mas nunca apareceu nos ensaios e ainda foi xenófobo quando ela foi buscar suas coisas. "Fomos em duas delegacias pedir apoio. Só depois de os policiais ligarem para o Pedro e para a mãe dele que ela apareceu. Fomos humilhadas, ela tirou fotos nossas, quis anotar no caderno o que estava sendo retirado", lembrou.
"A policial disse que não era necessário, mas ela continuou. O funcionário dele foi xenófobo e pediu para eu e minha amiga voltar para o Brasil, alegando que Portugal não era nosso lugar. (...) Tentamos um diálogo com o Pedro outro dia. Depois de insistir muito, ele apareceu totalmente agressivo, gritando, colocando o dedo na nossa cara, expulsando a gente e dizendo estar sendo roubado", contou.
Atrizes procuraram o governo português
Toda a situação envolvendo Nina Morena, Pedro Pico e outros atores chegou ao governo local. Na última quarta-feira (9), a deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, enviou um comunicado ao Ministério da Cultura e ao presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva, do Partido Socialista. Ela questiona se há conhecimento do problema, se a empresa Drag Taste recebeu recursos públicos e como a pasta apoiará os profissionais desempregados.
"O que parecia ser um fenômeno de sucesso se revelou um pesadelo para trabalhadores da cultura", escreveu a parlamentar.
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