Como Regina Duarte foi de namoradinha do Brasil a secretária de Bolsonaro
A atriz já se envolveu em diversas polêmicas por conta de seu posicionamento político
Publicado em 19/04/2022 às 05:59
Em 19 de abril de 1971, estreava a novela Minha Doce Namorada, trama que consagrou Regina Duarte como a "namoradinha do Brasil". No folhetim de Vicente Sesso, a atriz deu vida à Patrícia, uma jovem órfã e sonhadora que se apaixona por Renato (Cláudio Marzo - 1940-2015) e enfrenta muitas intrigas até conseguir ter seu final feliz ao lado do amado. O título chegou a incomodar a paulistana, que se via presa a papeis de mocinhas românticas e não conseguia interpretar outros tipos.
Em 1976, com a prostituta Janete em uma peça teatral chamada Réveillon, Regina iniciou o rompimento com esse estereótipo e, três anos depois, protagonizando Malu Mulher (1979), viveu Maria Lúcia Fonseca, uma socióloga com ideais feministas que a ajudou a dar a virada que queria em sua carreira. Daí em diante, a atriz estrelou diversas produções e montou um currículo impecável na televisão, no cinema e no teatro. Entre seus trabalhos mais marcantes, estão Selva de Pedra (1972), Roque Santeiro (1985), e três Helenas de Manoel Carlos: em História de Amor (1995), Por Amor (1997) e Páginas da Vida (2006).
Curiosamente, o seriado que serviu como ponte entre Regina e personagens que fugiam da imagem de mulheres indefesas foi criticado pela atriz 40 anos depois. Em 2019, durante entrevista ao Conversa com Bial, a veterana admitiu que não concordava com os rumos que a trama percorreu. "Eu estava achando ela muito chata, muito autoritária, muito dona da verdade, muito feminista. Aquilo que eu nunca quis ser", pontuou, se declarando conservadora e reclamando de ser chamada de fascista por apoiar o governo de Jair Bolsonaro.
Nos últimos anos, a atriz tem recebido mais comentários por conta de seu posicionamento político do que por sua carreira artística, mas seu envolvimento com o assunto não é de agora. Na década de 70, durante a ditadura militar, Regina apoiou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso pelo MDB e chegou a posar para uma foto entre ele e Lula. Já em 1984, viveu a luta pelas Diretas Já e pôde ser vista até mesmo em um palanque de comício, pedindo a volta da democracia. No mesmo ano, a paulistana visitou Cuba e recebeu homenagens do então ditador comunista Fidel Castro (1926-2016) pelo sucesso de Malu Mulher.
Em 1985, a veterana manifestou novamente apoio a Fernando Henrique Cardoso, que concorria à Prefeitura de São Paulo e acabou perdendo para Jânio Quadros (1917-1992), do PTB. Já no fim da década de 90, Regina pediu a reeleição de FHC (PSDB) para a presidência e ainda tentou angariar votos para Mário Covas (1930-2001), que era candidato a continuar no governo de São Paulo pelo mesmo partido do então presidente. Regina chegou a aproveitar o horário eleitoral para falar de Chiquinha Gonzaga (1999), minissérie estrelada por ela na Globo.
Um dos posicionamentos da mãe de Gabriela Duarte que mais repercutiram foi uma participação que ela fez na campanha de José Serra (PSDB), em 2002. No vídeo exibido na TV, Regina dizia sentir medo [de Lula vencer a eleição para a presidência do Brasil] e do "país perder a estabilidade que já tinha sido conquistada". De 2016 até hoje, a atriz se declarou a favor do impeachment de Dilma Roussef, apoiou João Doria quando este era prefeito de São Paulo pelo PSDB e engajou na campanha de Jair Bolsonaro, então do PSL, chegando a compará-lo com seu pai.
"Quando conheci o Bolsonaro pessoalmente, encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha", disse, em entrevista à Folha de S. Paulo, dois dias antes do segundo turno da votação que elegeu Bolsonaro presidente. De lá pra cá, Regina continua demonstrando apoio ao atual governo em seu perfil no Instagram.
Regina Duarte se tornou secretária de Bolsonaro e revoltou classe artística
Foto: Divulgação
Em janeiro de 2020, Regina Duarte foi convidada por Jair Bolsonaro para assumir a Secretaria Especial da Cultura e passou a ocupar o cargo em 4 de março daquele ano. Alegando sentir falta da família, a atriz ficou somente dois meses no posto e deixou a função com a promessa de que assumiria a Cinemateca de São Paulo, o que não aconteceu até hoje.
A trajetória de Regina na secretaria de Cultura foi curta, mas chegou a render um abaixo-assinado do qual mais de 500 atores, cantores, roteiristas e outros profissionais da classe artística participaram para dizer que a veterana não os representava. O manifesto foi uma reação de repúdio ao menosprezo do órgão às mortes ocorridas na pandemia e na ditadura militar e ao desdém com o qual a atriz mencionou a tortura daquela época.
O vínculo da intérprete com a Globo foi encerrado em fevereiro de 2020, após Regina aceitar o convite de Bolsonaro para fazer parte de seu governo.
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