Os autores que despertaram o hábito de ver as novelas da Globo
A era dos medalhões da Globo marcou gerações com novelas icônicas
Publicado em 03/08/2025 às 10:00
Conforme já escrevi anteriormente, naturalmente, as mudanças acontecem, seja lá quais forem os motivos. A Globo vive essa situação nas suas novelas, com mudanças que vêm ocorrendo desde 2014.
A geração de noveleiros, especialmente dos anos 80, 90, 2000, 2010 — décadas em que se formou um time de grandes autores, que se tornaram os medalhões da emissora —, tem sentido falta das inúmeras histórias de sucesso criadas por esse time.
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Muitas novelas cravavam mais de 50 pontos de audiência, tramas que faziam parte das rodas de conversa em todos os lugares, desfechos que paravam o país. Obras que revelaram tantos talentos, discutiram temas inéditos na época, lançaram moda e bordões, ditaram os sucessos nacionais e internacionais na música — enfim, histórias que emocionaram milhares de pessoas.
Teve grandes sucessos em todas as faixas de horário: das seis, das sete e das oito, que se tornou, em 2011, novela das nove. Uma safra de autores semeou, construiu e conquistou um grande público. Dava gosto assistir às novelas. Torcer pelos personagens que cativavam e encantavam nosso imaginário.
Gilberto Braga
Gilberto Braga tinha um estilo muito peculiar e abordava as diferenças sociais com glamour. Figurou no horário nobre da Globo trazendo grandes histórias que pararam o país.
Começou sua carreira nos anos 70; entre outras tramas no ar nesta década, escreveu Escrava Isaura, exibida em 1976, um sucesso mundial. Gilberto emplacou nos anos seguintes: Dancin’ Days (1978), Água Viva (1980), Brilhante (1981), Louco Amor (1983), Corpo a Corpo (1984), Vale Tudo (1988).
Continuou prendendo o público na década seguinte com O Dono do Mundo (1991), Pátria Minha (1994), Celebridade (2003), Paraíso Tropical (2007), Insensato Coração (2011) e seu último trabalho, a polêmica Babilônia (2015), todas no horário nobre da Globo.
Braga também desfilou em outros horários, inclusive com o grande sucesso das seis, Força de Um Desejo (1999). Escreveu algumas minisséries, destaco Anos Dourados (1986) e Anos Rebeldes (1992). Gilberto Braga nos deixou em outubro de 2021.
Benedito Ruy Barbosa
Benedito Ruy Barbosa faz parte dessa seleta galeria da Globo. Tramas rurais elaboradas como só ele sabe criar ocuparam a faixa das seis e das nove. Foram vários sucessos, entre eles: Renascer (1993), O Rei do Gado (1996), Terra Nostra (1999) e Esperança (2002). Em sua passagem pela extinta TV Manchete, Pantanal (1990).
Teve algumas releituras de suas obras assinadas pelas filhas Edmara Barbosa e Edilene Barbosa. Pelo neto Bruno Luperi, que sob sua supervisão foi responsável pelas novas versões de Pantanal e Renascer. A última obra inédita de Benedito foi Velho Chico (2016). Hoje, aos noventa e quatro anos, será que escreverá uma nova novela?
Manoel Carlos

O mestre Manoel Carlos também figura nesta importante galeria de medalhões. O dono das Helenas mais amadas, das vilãs sutis, do Leblon e suas peculiaridades. Abordou temas sensíveis e, na Globo, principalmente no horário nobre, deu vida a personagens inesquecíveis, amados e odiados.
Foram muitas emoções em um texto tão sofisticado e popular ao mesmo tempo. O autor passou por várias emissoras, porém sua melhor fase foi na Globo: A Sucessora (1978), Baila Comigo (1981), Sol de Verão (1982).
Depois de um tempo, voltou no horário das seis com Felicidade (1991) e História de Amor (1995), e brilhou no horário nobre com Por Amor, Laços de Família, Mulheres Apaixonadas, Páginas da Vida, Viver a Vida e seu último trabalho em 2014, Em Família, que foi exibida exatamente no começo em que os números de audiência começaram a mudar.
Suas minisséries que fizeram muito sucesso foram: A Presença de Anita (2001) e Maysa: Quando Fala o Coração (2009).
Atualmente, aos 92 anos, com a saúde delicada, o grande autor se aposentou, mas sua obra é inesquecível, saudosa e imortal.
Silvio de Abreu

Um autor que praticamente inovou e definiu o estilo das novelas das sete foi Silvio de Abreu, colecionador de grandes sucessos. Teve uma rápida passagem pela Tupi com Éramos Seis (1977), uma trama emocionante.
Na Globo, no horário das sete, entre tantas, levou ao público Pecado Rasgado (1978), Plumas e Paetês (1980), Guerra dos Sexos (1983) e Sassaricando (1987). No horário nobre, teve o grande sucesso A Próxima Vítima (1995).
Outras novelas de Abreu que marcaram a teledramaturgia: Torre de Babel (1998), Belíssima (2005) e Passione (2010). No ano de 2014, se tornou diretor de dramaturgia do canal e se dedicou à seleção das novas novelas, uma fila bem programada e organizada para todas as faixas.
Silvio de Abreu revelou e inovou a galeria de autores; muitos estão no ar atualmente e compõem o novo time da emissora.
Carlos Lombardi e Glória Perez
Outros autores que se destacaram na arte de escrever novelas: Lauro César Muniz, hoje com 87 anos, criou grandes novelas, entre elas: Roda de Fogo (1986) e O Salvador da Pátria (1989).
Carlos Lombardi brilhou no horário das sete. Vou citar, entre tantos sucessos, Bebê a Bordo (1988) e Quatro por Quatro (1994). Walter Negrão, agora aos 84 anos, teve sob sua autoria grandes histórias no horário das seis, entre elas Fera Radical (1988) e seu último trabalho Sol Nascente (2016).
Glória Perez encantou o público com temas inéditos e uma viagem por muitos lugares. A autora prepara trabalhos futuros, mas quem não se lembra de Explode Coração, O Clone, América, Caminhos das Índias e A Força do Querer? Inesquecíveis histórias regidas por uma das maiores autoras do país.
Tivemos ainda Aguinaldo Silva, que volta à grade da emissora com a novela Três Graças, prevista para estrear em outubro. Entre tantos feitos, os dois maiores sucessos criados por ele foram Tieta e Senhora do Destino.
Janete Clair
Duas autoras que fizeram história e serviram de inspiração para tantos escritores e roteiristas: Janete Clair, que criou uma obra inovadora para a época, e Ivani Ribeiro, criadora do grande sucesso A Viagem, que faz parte do hall das melhores novelas. O público pode acompanhar sua reprise no ar no Vale a Pena Ver de Novo.
São dezenas de autores que fizeram a vida de muitas pessoas se tornar mais alegre: o mestre Dias Gomes, Marcílio Morais, Antônio Calmon, Maria Adelaide Amaral, Alcides Nogueira, Ana Maria Moretzsohn, Elisabete Jhin e tantos mais.
Um vasto acervo de novelas que, graças à tecnologia, podemos rever no streaming da emissora.
Agora, uma nova era. Uma nova realidade nos números de audiência. O time de autores é outro. Novos estilos, novas maneiras de contar a história. O que não podem esquecer é de usar os principais ingredientes de um bom folhetim, mesmo com seu toque e o seu DNA. Basta seguir a receita.