Opinião

Fantástico sofre da crise dos 50 e flerta com o Cidade Alerta da Record

Confira a análise do colunista Sandro Nascimento


Maju Coutinho e Poliana Abritta no Fantástico
Fantástico completa 50 anos no dia 05 de agosto de 2023 - Foto: Reprodução/Globo

O Fantástico completará 50 anos em agosto sentindo os efeitos da idade. A revista eletrônica da Globo, que tem o subtítulo de Show da Vida, atravessa seu pior período desde a estreia, e deixou de ser importante para se assistir no domingo para ter assunto no trabalho, na escola ou entre amigos na segunda-feira. Atualmente, você acompanha 40 minutos do Fantástico e percebe um programa arrastado, sem criatividade e distante da sua essência.

Nos últimos finais de semana, o Fantástico vem, cada vez mais, ampliando o tempo de arte para editoria policial. No último domingo (21) não foi diferente e a atração dedicou quase 55 minutos para reportagens sobre violência. Virou quase um Cidade Alerta gourmetizado.

Outra aposta da atração é o chatíssimo Avisa Lá que Eu Vou, de Paulo Vieira. Um quadro de humor onde a única pessoa que deve achar graça é quem escreve ou quem apresenta. Foram oito minutos intermináveis.

Um dos poucos momentos que flertou com a essência do antigo Fantástico foi a matéria sobre o trem do futuro na Europa. A reportagem explicou a ultravelocidade do projeto holandês, mas percebi que matéria não foi bem explorada. Talvez para encaixar a editoria policial no tempo de arte do programa.

É motivo de celebração no jornalismo ter as competentes jornalistas Maju Coutinho e Poliana Abritta à frente do Fantástico, mas, infelizmente, estão engessadas no vídeo. As brincadeiras entre elas para dar um tom de informalidade na apresentação do Fantástico estão muito roteirizadas e sem nenhuma espontaneidade. Estão presas ao teleprompter. Até a GloboNews, um canal pago de notícias, possui mais descontração.

Falta ousadia no Fantástico

O único ponto em que o atual Fantástico abre para o entretenimento é quando um cantor visita a redação do programa. Porém, as entrevistas têm a mesma profundidade de um funil. Nisso, o Domingo Espetacular da Record leva vantagem por ter o nome de Roberto Cabrini.

No seu livro publicado pela editora Casa da Palavra, Boni, ex-todo poderoso da Globo e criador do Fantástico, explicou o que queria levar ao ar quando formatou o projeto: “Eu não queria apenas um programa de reportagens com números musicais entremeados e sim alguma coisa que reunisse tudo o que a televisão fazia, com notícias, reportagens, música, humor, circo, dramaturgia e curiosidades”.

Nessa explicação de Boni, percebemos que o Fantástico perdeu sua essência no decorrer dos anos. Precisa se revigorar porque está sofrendo com a crise dos 50. Falta a ousadia da juventude. Hoje está velho, antiquado, capenga e perdendo relevância. E isso não é algo que resolve com um cenário pirotécnico, mas melhorando seu conteúdo. O antigo Fantástico ditava tendências.

Sandro Nascimento

Em outro trecho do Livro do Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho conclui: “O Fantástico foi o primeiro show do gênero em todo o mundo. O Sixty Minutes, anterior ao nosso programa, era apenas jornalístico. O Twenty Twenty veio muito depois. O formato e o título do Fantástico foram vendidos para mais de sessenta países e plagiados com o mesmo nome da Itália e na Espanha. O programa recebeu os mais importantes prêmios da televisão. O Fantástico era Fantástico”.

Confira a abertura clássica do Fantástico, com Isadora Ribeiro:

Imagem da thumbnail do vídeo

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