Antecipada, "Segundo Sol" não tem história para ser uma novela
Publicado em 05/09/2018 às 06:35
Quem assiste à novela "Segundo Sol" tem a convicção da elevada criatividade de João Emanuel Carneiro. Afinal, estender a história sobre a saga Beto Falcão (Emílio Dantas) em 180 capítulos não é uma tarefa fácil e requer uma sagaz paciência para o telespectador.
"Segundo Sol" teria no máximo fôlego para ser formatada em uma supersérie, ou de forma ideal, uma minissérie de quatro capítulos. Diante do que está sendo exibido até aqui, virou um gato correndo atrás do próprio rabo.
Se fosse obedecer os planos iniciais da Globo em relação a ordem da fila de autores para as novelas das 21h, Karola (Deborah Secco), Roberval (Fabrício Boliveira) e Laureta (Adriana Esteves) só entrariam no ar no final deste ano. Mas a trama de João Emanuel trocou de lugar com "O Sétimo Guardião" e foi antecipada em seis meses o início dos seus trabalhos.
Na época, a Globo alegou que o adiamento da nova trama sobre o realismo fantástico de Aguinaldo Silva seria para dar férias a equipe do diretor Rogério Gomes, que segundo a emissora, iria emendar "A Força do Querer" com "O Sétimo Guardião". Mas todos suspeitam que a troca nas ordens das novelas tem relação com a polêmica em torno da sinopse de Silva, envolvida num processo sobre coautoria na Justiça.
Diante dos loopings nas situações, incoerências na história e personagens mal construídos, alguns até caricatos, a antecipação de "Segundo Sol" foi nociva ao êxito do folhetim, que prometia ser a redenção de João Emanuel depois do fracasso de "A Regra de Jogo", em 2015, e o seu retorno ao sucesso após "Avenida Brasil", há seis anos.
"Segundo Sol" parece que entrou no ar em maio ainda com sua trama imatura, mal costurada, talvez uma consequência de ser produzida a toque de caixa para atender uma demanda no setor de dramaturgia da Globo.
Existem inúmeros exemplos na sinopse que pecam na falta de concepção. Como Beto nunca ter sido reconhecido nas ruas da Bahia, mesmo andando sem disfarces, o sentido da vingança de Roberval não ter uma boa justificativa e a demora de Luzia em procurar um advogado para ajudá-la na acusação de assassinato, mesmo sendo rica. Pontos que colocam a inteligência do público em xeque.
Atualmente, ocorreu uma mudança no comportamento de Rosa (Letícia Colin), na mesma proporção que vem perdendo relevância na novela, o que parece ser um recurso com o intuito de postergar sua participação na reta final. Uma pena, Colin era um grande destaque na história e estava roubando o protagonismo, merecidamente.
O capítulo 100, que geralmente marca as revivoltas nas novelas, está previsto para entrar no ar nesta próxima quinta-feira (06), e a partir da data, "Segundo Sol" começa a preparar terreno para seu encerramento em novembro, quando será substituída por "O Sétimo Guardião".
Agora, a trama vai girar em torno dos segredos na relação de Karola e Laureta, a verdade sobre Severo (Odilon Wagner) e Zefa (Claudia Di Moura), o passado de Nestor (Francisco Cuoco), a nova acusação de Luzia (Giovanna Antonelli) e sua aproximação com seus filhos, a redenção de Roberval e a morte de Remy (Vladimir Brichta). Parece muita coisa, mas tudo caberia em uma semana, mas durará longos dois meses.
Mesmo que algum vilão se torne mocinho ou vice-versa e surpreenda o público nos próximos capítulos, uma marca de João Emanuel, "Segundo Sol" não será lembrada como um folhetim marcante em seu horário.
Uma novela não existe apenas em torno de uma brilhante última semana, mas a capacidade de levar uma história interessante por 180 capítulos. Isso até aqui não foi feito.