"Haja Coração" foi boa novela, mas sofreu com falta de profundidade
Publicado em 08/11/2016 às 20:33
Quando estreou, já sabíamos o que esperar de "Haja Coração". Seria uma adaptação para os tempos atuais de "Sassaricando" e que não iria reinventar a roda no horário das 19h.
Ao seu fim, realmente a novela simplesmente cumpriu a sua missão, e cumpriu bem. 27 pontos de audiência de média geral é algo ótimo para o horário. Se não teve a explosão final de "Totalmente Demais", conseguiu manter os números das 19h em alta.
De qualidade, realmente foi uma boa trama. Personagens carismáticos mantiveram o interesse durante todo o tempo. Pegando um papel complicado e marcante, Mariana Ximenes conseguiu fazer uma Tancinha nova e que nada lembra a original de Claudia Raia. Quem diria, mas a Tancinha 2016 teve cara própria e isso foi um grande mérito da atriz.
O trio que completa a história principal foi dividido. João Baldasserini fui muito bem e sua boa atuação, aliado ao seu carisma pessoal, o fez ganhar a maioria da torcida do público para ficar com a protagonista. Foi o melhor personagem da novela que funcionou de todos os meios: vilão, mocinho, anti-herói...
Já Malvino Salvador, mais uma vez, mostrou ser um ator com limitações, e com um papel ruim, seus problemas como ator ficaram mais latentes. Uma prova disso foi a cena onde Tancinha e Apolo se acertaram. Até o choro de Malvino foi falso.
Inclusive, fica uma crítica para a cena final, que acabou utilizando um chroma-key nível dos que a RedeTV! usa em suas piores produções. E o mesmo expediente foi usado nos finais de "I Love Paraisópolis" e "Totalmente Demais". Virou regra usar fundo falso ruim em trama das 19h?
Por fim, vale-se elogiar aqui o casal Shirlei e Felipe, interpretados por Sabrina Pretaglia e Marcos Pitombo, que com uma química explosiva tomaram a novela de assalto em determinado momento, deixando o trio protagonista de lado certa hora.
E o humor?
Muitas vezes, o núcleo de humor salvou o folhetim. Tatá Werneck, se não apresentou exatamente uma nuance nova em sua carreira, exalou química com Gabriel Godoy e fez rir em vários momentos. Seu final como uma Tancinha 2.0 foi extremamente bem sacado.
Outros destaques foram Grace Gianoukas, perfeita como matriarca da família Abdala. E mais uma sacada genial foi trazer Cristina Pereira, a Fedora de "Sassaricando", para o núcleo da família.
Agitou a trama e fez uma dupla ótima com Tatá Werneck.
Ellen Rocche também merece citação. Definitivamente, deixou de lado a pecha de apenas ser um rosto e um corpo bonito, e mostrou ser uma boa atriz, fazendo rir demais como a ex-BBB Leonora Lammar. Merece um papel mais forte ainda em outro trabalho.
Longe de ser perfeita
O final apresentado nesta terça-feira (8) não foi exatamente o melhor. Tancinha e Beto fluiria melhor para a coesão da novela, e seria um prêmio para Baldasserini. Fora isto, o desfecho foi bem chichê e até por várias vezes "meloso".
O grande defeito da novela foi não se aprofundar no roteiro várias vezes. Daniel Ortiz não teve ambição - e admitiu isso várias vezes - e isso acabou criando uma barriga em alguns momentos.
Atores abaixo da crítica também prejudicaram a novela. José Loreto foi péssimo como Adones, mesmo tendo carga dramática para ir melhor. Outra que foi mal é Cléo Pires, que não teve carisma e presença para ser um contra-ponto à Tancinha, muito pela própria falta de capacidade dramática de Cléo.
"Haja Coração" cumpriu sua missão, conseguiu ser uma boa novela apesar de defeitos, e manteve a audiência. Mas evidenciou algo que a Globo precisa rever: a falta de ambição atuais de suas tramas. Podem dar audiência, mas parecem só servir para isso. É uma peculiaridade da gestão Silvio de Abreu, e que ficou visível com a findada trama das 19h.
Gabriel Vaquer escreve sobre mídia e televisão há vários anos. No NaTelinha, é responsável por reportagens variadas e especiais. Ainda assina as colunas "Antenado", sobre TV aberta, e "Eu Paguei pra Ver", sobre TV por assinatura. Converse com ele. E-mail: gabriel@natelinha.com.br / Twitter: @bielvaquer