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Há 10 anos, Globo fazia duas transmissões diferentes da final da Libertadores


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Foto: Divulgação

Por Edu César
Especial para o NaTelinha

 

Nos últimos anos, tem sido comum filiais e afiliadas da Rede Globo fazerem transmissões separadas de jogos de futebol com o intuito de regionalizá-las. Assim foi, por exemplo, na atual Copa do Brasil com Cruzeiro x Vitória, feito na ida e na volta por Rogério Corrêa na Globo Minas e Thiago Mastroianni na TV Bahia. Mas em termos das cabeças de rede Rio de Janeiro e São Paulo, isso não acontece. Bom, na verdade, no dia 16 de agosto de 2006, isso foi diferente. Mas até chegarmos a esta data, vale o que Roberto Avallone chamaria de "pitadinhas históricas".

"Olho no Lance", a excelente biografia de Silvio Luiz escrita por Wagner William, narra que algo assim quase aconteceu no primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro de 1981. A Record estava em má fase, muito longe dos áureos tempos dos anos 60, mas sobrevivia graças às coberturas de futebol, que chegaram à liderança em São Paulo sobretudo pela popularidade de Silvio e sua equipe. Para tentar neutralizá-la, a Globo pensou em outro nome igualmente campeão de audiência. Por ideia do diretor Nilton Travesso, o "Pai da Matéria" Osmar Santos (líder de audiência no futebol da Rádio Globo) foi escalado para fazer Grêmio x São Paulo no Olímpico somente para SP, enquanto Luciano do Valle narraria para todo o Brasil.

No entanto, o diretor esportivo Ciro José (que poucos anos depois seria comentarista da Record) pegou um jatinho do Rio de Janeiro até a capital gaúcha e vetou esta ideia - assim, Luciano narrou a vitória gremista por 2 x 1 também para os paulistas. Ao abrir sua transmissão, Silvio não deixou escapar o que ocorria na concorrente e soltou: "está pegando fogo na aldeia!". Muitos anos depois, seria a própria Record que adotaria o expediente das transmissões separadas em uma decisão ao ter o próprio Luciano do Valle - desta vez sendo ele o locutor regional - narrando apenas para São Paulo os dois Paulista x Fluminense da final da Copa do Brasil de 2005, enquanto Maurício Torres os fez pela rede nacional.

Mas voltemos ao dia 16 de agosto de 2006, uma quarta-feira. Duas janelas de futebol foram abertas na grade da Globo, sendo a primeira às 15h10, no espaço da "Sessão da Tarde". Depois de comentar a Copa do Mundo na Alemanha pelo BandSports, Dunga estreou não apenas no comando técnico da Seleção Brasileira, mas na própria carreira de treinador, com um empate em 1 x 1 com a Noruega, em amistoso disputado em Oslo. A equipe global no estádio teve Galvão Bueno, Paulo Roberto Falcão, José Roberto Wright e Tino Marcos. A segunda foi a habitual da noite, às 21h55, iniciada após um capítulo com duração menor que o habitual de "Páginas da Vida" (eram dias de Horário Político às 13h e às 20h30).


Todas as regiões brasileiras assistiram Internacional x São Paulo, final da Copa Libertadores, a segunda seguida com dois brasileiros. Os são-paulinos buscavam repetir o feito diante do Atlético Paranaense e os colorados queriam um título inédito. Sim, todas as regiões brasileiras assistiram aquele jogo sensacional, cujo empate em 2 x 2 (confirmado apenas no último apito de Horacio Elizondo, já que a possibilidade de prorrogação estava vivíssima até o segundo derradeiro) deu a taça aos gaúchos após ganharem a ida no Morumbi por 2 x 1. Não, não foi a mesma transmissão para todas elas. O Campeonato Brasileiro fez a Plim-Plim adotar a estratégia de coberturas separadas, 25 anos depois dela não acontecer justamente e curiosamente em Porto Alegre.

Naquele meio de semana, a Série A da CBF teve disputada a 17ª rodada. Duas partidas foram marcadas para as 22h daquela quarta: Figueirense 1 x 1 Flamengo e Fluminense 1 x 2 Corinthians. Elas foram transmitidas com exclusividade pela Record, em seu último ano de sublicenciamento dos torneios repassados pela Globo. Era habitual o Brasileirão ter dois jogos em TV aberta para SP às quartas-feiras, mas pela primeira vez a sublicenciada tinha só para si o "filé" da detentora. Apesar disso acontecer em uma noite absolutamente diferenciada, a Record teve motivos para sorrir: a vitória corintiana registrou 11 pontos no Ibope, contra 47 da decisão da Libertadores. Por causa disso, Éder Luiz não pôde transmitir Internacional 2 x 2 São Paulo. A Rádio Transamérica não pôde contar em Porto Alegre com seu titular de esportes, que era prioritário da TV Record às quartas e aos domingos, e por isso Oswaldo Maciel narrou a Libertadores pela emissora FM.

Na Rede Globo, a cobertura para todo o Brasil foi a de SP, com Cléber Machado, Casagrande, Arnaldo Cezar Coelho e Mauro Naves enviados ao Beira-Rio, completando a equipe o local Glauco Pasa. Nas noites de quarta com dois jogos para SP, uma birra boboca fazia com que uma não desse o resultado da partida da outra e vice-versa só para não dar ao telespectador uma margem para troca de canal. Assim, a primeira menção da Globo a Fluminense x Corinthians aconteceu somente no "Show do Intervalo", quando exibidos os três gols - detalhe: saídos antes ainda dos 15 minutos. Depois, uma única outra foi feita na segunda etapa, logo antes do primeiro empate são-paulino. A própria rodada do Brasileirão ficou restrita ao intervalo. Durante a bola rolando, somente outro registro foi feito: o do gol de empate do Figueirense no começo do segundo tempo.

Enquanto isso, apenas o Rio de Janeiro assistiu Inter x São Paulo com uma transmissão própria, essa feita dos estúdios por Luís Roberto, Sérgio Noronha e Renato Marsiglia, sendo enviado José Ilan para fazer a reportagem ao lado de Fernando Becker. Assim como em SP com o Corinthians, também naquela noite a Record teve pela primeira e única vez o "filé" Flamengo para o RJ. Para não perder a audiência dos rubro-negros, a Globo colocava seguidamente os lances mais importantes do seu jogo durante a decisão no Beira-Rio, além do que acontecia no Maracanã com o Fluminense. Em 2009, o SporTV veiculou o áudio desta cobertura regionalizada da Globo (e não o seu próprio, com narração de Luiz Carlos Jr.) em episódio da série "Jogos Para Sempre" dedicado à final.

Embora exclusiva de Globo e SporTV na televisão, a Libertadores de 2006 tem outros episódios interessantes para registro. Um deles: naquela época, apenas as partidas realizadas em SP não podiam ser filmadas por emissoras não detentoras dos direitos, que tinham de exibir os gols cedidos pela Plim-Plim. Nas demais praças, a filmagem era liberada normalmente. Isso permitiu, por exemplo, à TV Bandeirantes ter em seus arquivos para reportagens em seus noticiários um registro completo em imagens próprias da volta no Beira-Rio. Nos últimos anos, não existe mais nenhuma exceção do gênero, nem em São Paulo e nem em qualquer outra parte do país. Pior: em 2014 e 2015, a Band ficava privada de mostrar os gols da Libertadores nos programas "Jogo Aberto" e "Os Donos da Bola" por eles serem enviados pela Globo apenas à noite.

Já o Grupo Bandeirantes fez pelo rádio uma cobertura diferente com figuras conhecidas da telinha. O jogo foi narrado por Ulisses Costa, que conciliava a RedeTV! com a Rádio Bandeirantes (ele se transferiu para a Band aberta em 2007), e os comentários foram de Paulo Bonfá, então colunista humorístico da rádio e que ainda fazia o "Rock Gol" na MTV. Além disso, jornalistas torcedores dos dois finalistas também foram escalados: o colorado Felipe Vieira, que também apresentava no início da noite o "Band Cidade" na TV Band/RS e que hoje está na Rádio Guaíba e com retorno marcado ao vídeo para setembro pela TV Urbana, canal UHF da capital gaúcha; e o são-paulino Luiz Megale, que trocou o rádio pela TV ao se tornar correspondente nos EUA em 2011, atualmente sendo apresentador do "Café com Jornal" na Band e do "Rádio Livre" na Bandeirantes AM/FM.

Em tempo: vale observar que uma final de Libertadores com presença do Brasil e uma rodada do Campeonato Brasileiro se cruzariam na mesma noite novamente em 2009. Porém, com procedimento diferente de três anos antes. Cruzeiro 1 x 2 Estudiantes foi transmitido pela Rede Globo para todo o Brasil com Galvão Bueno, mas com as exceções de São Paulo, que viu Flamengo 1 x 2 Palmeiras com Cléber Machado, e de Rio de Janeiro e interior do Rio Grande do Sul, que acompanharam Internacional 4 x 2 Fluminense com Luís Roberto. Os dois jogos do Nacional também foram feitos pela Bandeirantes, mas sem exclusividade absoluta igual à Record naqueles de 2006.

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