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"Boogie Oogie" é novelão tão clássico quanto a época que retrata

Território da TV


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Divulgação/TV Globo

Durante toda a divulgação da nova novela das seis da Globo, “Boogie Oogie” foi muito comparada com “Pecado Mortal”, folhetim encerrado há pouco tempo pela Record e que também se passava nos anos 1970.

As semelhanças seguem evidentes em parte da trilha sonora, mas a essência das tramas é bem distinta. Enquanto “Pecado” se apoiava todo o tempo para ressaltar o fator histórico, “Boogie” usa a época apenas como pano de fundo para proporcionar o mais clássico folhetim possível.

Estreante em terras brasileiras, Rui Vilhena mostrou que conhece bem os artifícios de nossos autores e os aproveitou de forma até óbvia, mas sem pecar pelo didatismo.

O texto consegue ser simples sem ficar raso. Sem firulas, deixa muitas vezes que as boas interpretações se destaquem. Foi o que aconteceu no caso dos protagonistas Ísis Valverde e Marco Pigossi.

O elenco não tem sobressaltos que se destoem negativamente, mas chega a ser absurda a utilização de Heloísa Perissé tão rapidamente após ela estrelar “A Segunda Dama”. Na ideia de dar uso total ao seu elenco, a Globo acaba soando como se não tivesse (ainda) um extenso banco de atores.

A base das histórias que serão estreladas pelo elenco já foi apresentada: um amor platônico e uma troca de bebês na maternidade. Nada que não tenhamos visto antes, nada que não tenhamos vontade de conferir novamente.

Afinal, a teledramaturgia roda sim em círculos. O que muda é como tudo é contado a cada novo giro. Pelos minutos iniciais, aparentemente vem bons meses pela frente.

E todo esse lado positivo é apoiado em uma direção competente, que conseguiu imprimir um tom leve para uma época que poderia ser tratada de forma mais sombria, já que o país estava mergulhado em uma ditadura militar em 1978.

Impressionou também o cuidado com certas referências ao ano. Por exemplo, personagens comemoraram a vitória do Brasil na Copa do Mundo sobre a Polônia por 3 a 1. A partida realmente ocorreu na primeira fase do Mundial da Argentina e o placar foi o retratado no ar.

Quando se mostrou a repercussão da partida, em vez dos já manjados telejornais fakes que volta e meia são elaborados com fins dramatúrgicos, foram buscadas imagens de Cid Moreira no “Jornal Nacional”.

Outra sutileza foi a utilização de uma máquina de escrever para as passagens de tempo. Mais um toque diferente ao “natural”, que seria o aviso ser feito em uma cena de paisagem aberta.

Assim, tão lógica na trama central e ao mesmo tempo tão rica em detalhes, que “Boogie Oogie” tem tudo para ser uma das melhores contradições de 2014.

 

No NaTelinha, o colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)


 

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