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NT Internacional: O poder dos fãs nos rumos dos programas pelo mundo

Seja com sua opinião ou até mesmo criando seus próprios episódios, público já interfere nas suas atrações favoritas


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Artes de fã do anime "Sailor Moon" foram confundidas com a própria nova série oficial e repercutiram positivamente entre os fãs

Entre meados de agosto e início de setembro, um boato envolvendo uma nova versão do anime "Sailor Moon" rodou pela internet. Começaram a circular entre sites de aficionados uma série de character designs, descrições e sinopses que imaginavam um futuro alternativo para os personagens da obra da autora japonesa Naoko Takeuchi. A qualidade dos traços e a riqueza de detalhes da premissa apresentada, que incluía uma nova geração de super-heroínas formada pelas filhas das personagens originais, fez muita gente acreditar que se tratava de algo oficial.

As informações viralizaram rapidamente mundo afora, sendo elogiada e repercutida com voracidade. De fato, uma nova série de animação das chamadas "Guerreiras da Lua" está em produção, anunciada recentemente para um lançamento no ano que vem (mais detalhes podem ser lidos abaixo), mas todos os desenhos e descrições que os fãs haviam rapidamente tomado como verdadeiros eram, na realidade, artes de um fã das personagens - que publicou a apresentação em sua conta no site Pixiv (ela pode ser vista em sua versão completa aqui, em japonês). "Makacon", o autor, acabou por ganhar uma inusitada fama virtual, tendo sua série de artes elogiada e repercutida por fãs do mundo todo - e, quem sabe, até dando dicas para os criadores do novo anime oficial sobre o que os fãs estão esperando deles.

O episódio chama a atenção para uma interessante tendência das séries e franquias populares para televisão, quadrinhos e outras mídias: a apropriação do fã sobre seu programa, a ponto de imaginar ele mesmo possibilidades e histórias envolvendo suas personagens favoritas - as chamadas "fan-fiction". O que, até os anos de advento da internet, costumava se resumir a contos, fanzines e até romances alternativos criados por fãs de livros, romances e mangás (a popularização da franquia "Harry Potter" e dos nichos de fãs de séries de TV isoladas, como "Star Trek" e animes japoneses, ajudou a tornar este subgênero conhecido), aos poucos, vem ganhado ares profissionais e deixando os limites da literatura de fã para fã.

Se na literatura é famoso o caso de "Cinquenta Tons de Cinza" - originalmente uma "fan-fiction" que imaginava os protagonistas da série de livros "Crepúsculo" em situações picantes e posteriormente foi retrabalhada por sua autora na forma de uma série original de livros, alcançando o sucesso no mercado editorial - outro caso curioso e atual chama a atenção para o que pode virar uma tendência em produções futuras para TV e outras mídias: o diálogo dos fãs com o próprio criador da obra original, dando novos rumos a ela.

Em um episódio da terceira temporada do desenho animado do Cartoon Network "Hora de Aventura", a ideia de fan-fiction é integrada à narrativa a partir de uma criativa situação envolvendo o vilão Rei Gelado. Ele cria uma história em que todos os personagens do seu universo, a Fantasiosa Terra de Ooo, assumem sexos opostos: o garoto aventureiro Finn vira Fionna, o cachorro Jake vira a gata Cake, a Princesa Jujuba vira o Príncipe Chiclete e daí em diante. Uma personagem importante da série original, no entanto, faz apenas uma ponta sem falas na sua versão masculina: a vampira Marceline, ou Marshall Lee no universo de "Fionna e Cake".
 


Fãs da série e da personagem na comunidade DeviantArt, incomodados com a ausência, produziram a toque de caixa uma cena extra para o episódio, em que Marshall dialoga e dança com Fionna, gerando inclusive um affair entre os dois. A chamada "Missing Scene" tornou-se popular o bastante para a produção de um segundo "fan-film", na forma de um episódio completo protagonizado pelos dois, "Fionna's Fright". Ambos os vídeos, apenas em suas versões postadas no Youtube pela fã-autora Lydia Fama, somam mais de 10 milhões de visualizações desde sua publicação - aceitação o suficiente para encorajar os criadores do desenho original a retomar Fionna e Cake em novos episódios ("Bad Little Boy", episódio da quinta temporada, acabou por introduzir oficialmente Marshall Lee à série) e um spin-off oficial em quadrinhos, publicados desde janeiro nos Estados Unidos.

Por enquanto, esse diálogo curioso ainda se limita a situações isoladas, com pouco diálogo efetivamente oficial. Mas percebe-se uma busca imediata dos realizadores de reproduzir e integrar elementos que os fãs desejam ver. É inegável que a influência do espectador ao produto tem cada vez se tornado mais próxima. Aos poucos, o fã já pode começar a esperar cada vez mais se ver participando dos rumos de seu programa favorito - efetivamente.

O retorno

Grande sucesso no Japão durante a década de 1990, "Sailor Moon" tornou popular todo um subgênero nos mangás e animes - as chamadas "Magic Girls", super-heroínas adolescentes que enfrentam inimigos com muitos superpoderes, coreografias, poses e roupas coloridas (e geralmente bem curtas), usando e abusando de elementos 'cute' e sensualidade.

Após um hiato de quase uma década exigido pela autora original, Naoko Takeuchi, o título (encerrado em 1997 em quadrinhos e animação, além de uma versão live-action em 2003) voltará a ser trabalhado a partir de janeiro de 2014 na forma de uma nova série animada, que adaptará de forma mais fiel o mangá original. A ideia é reapresentar Sailor Moon a um novo público, na forma de um relançamento a nível mundial.

Um detalhe relevante, no entanto, é que a nova animação será veiculada pela internet, através do site de streaming japonês NicoNico Douga. Haverá legendas disponíveis em dez idiomas. Ao menos por enquanto, não foi divulgado se haverá exibição na televisão local japonesa, tampouco se existirão opções em português.

Mortos na praia

Com pouco menos de um mês, a temporada de séries da TV americana já encerrou prematuramente a trajetória de alguns títulos que não corresponderam às expectativas de audiência (o drama "Lucky 7", da ABC, e a comédia "We Are Men", da CBS, inauguram a lista). Mas outros dois títulos não deverão nem ganhar a chance do teste final de exibição de seus episódios na televisão: já foram cancelados antes mesmo de estrear.
 


Comédia "Us & Them", da Fox, já vai estrear cancelada - isso se estrear


As duas séries são do canal Fox: a animação "Murder Police" e a comédia "Us & Them". Ambas já estavam com sua primeira temporada em fase de produção, mas não ganharão encomenda de novos episódios em razão da insatisfação dos executivos do canal com o material apresentado até agora. Nenhum dos dois títulos, embora já anunciados pela Fox, ainda haviam estreado na sua grade de programação.

O projeto da comédia policial "Murder Police" ainda será oferecido a canais pagos em busca de uma segunda chance, mas "Us & Them", comédia romântica sobre relacionamentos à distância que já estava com seis episódios prontos (de uma temporada de treze encomendados), não deverá ter a mesma sorte. O material já pronto deverá ser aproveitado pela Fox na próxima midseason.

Em tempo

- Uma produtora francesa vai trazer de volta Snoopy, Charlie Brown e os personagens de "Peanuts" na forma de uma série de desenhos animados com episódios curtos, de 90 segundos de duração, levemente inspirados nas tiras originais de Charles Schulz. Os curtas em produção deverão ser utilizados como interprogramas, veiculados em intervalos de canais de televisão.

- O esperado episódio-tributo de "Glee" em homenagem a Cory Monteith, morto em julho, rendeu elogios e bons números à Fox americana. Atraindo novamente público (e elenco) de temporadas anteriores para homenagear o intérprete de Finn Hudson em um sensível e respeitoso memorial, "The Quaterback" atraiu 7,4 milhões de espectadores às 21h da última quinta-feira (10). Os 2,8 de rating, empatados com o 200º episódio de "Grey's Anatomy" na liderança de audiência, também correspondem aos melhores números atingidos pela série musical desde setembro de 2012.

- O spin-off de "Once Upon a Time", no entanto, não atraiu o público esperado em sua estreia. "In Wonderland" rendeu à ABC 5,7 milhões de espectadores com 1,7 de rating, números inferiores a de séries recentes exibidas no mesmo horário e canal, como "Last Resort", "Missing" e o remake de "Charlie's Angels" - todas canceladas em sua primeira temporada. E "Zero Hour", cancelada pela ABC em fevereiro deste ano após três episódios, mantinha média de público similar - o que já pode ser lido como um sinal.
 

Pesquisador e produtor de projetos para televisão e cinema, Fábio Mendes traz para o NaTelinha as novidades e destaques das programações televisivas pelo mundo. Fale com ele pelo twitter: @fabio_menDS

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