Coluna do Sandro

Disney+ é relançado para reverter fracasso do streaming no Brasil

Todo conteúdo do Star+ agora faz parte da plataforma online da Disney


Montagem com os logos do Disney+ e Star+ com os personagens Mickey Mouse e Minnie
Os filmes e séries do Star+ agora estarão no Disney+ - Foto: Montagem/NaTelinha
Por Sandro Nascimento

Publicado em 23/06/2024 às 08:00,
atualizado em 23/06/2024 às 10:06

Após dois anos e sete meses de sua chegada ao Brasil, o serviço de streaming dos estúdios Disney será relançado na próxima quarta-feira (26). Essa mudança tem como objetivo reverter um dos maiores fracassos no negócio de transmissão de conteúdo online no país. O Disney+ tem preços mais altos em comparação a outros concorrentes, poucos lançamentos e uma aposta principalmente em seu acervo de clássicas animações. Como resultado, sua audiência em solo brasileiro tem sido pífia.

Neste cenário, exemplificado no mês de maio, de acordo com a medição da Kantar Ibope Media, o Disney+ obteve 0,2% de share na audiência de vídeo online. No mesmo segmento, o YouTube liderou com 17,6%, seguido pela Netflix, com 4,4%. Em terceiro lugar, ficou o TikTok, com 4%.  No geral, o share de consumo de vídeo online foi de 29,7%.

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A plataforma Star+, que também pertence à Disney e possui em seu portfólio animações como Os Simpsons, os canais ESPN e a premiada série Modern Family, criada para atender ao gosto do público mais adulto, não conseguiu sequer pontuar no levantamento da Kantar Ibope. O streaming foi classificada como ‘outros streamings’ e totalizou 0,5%.

Confira levantamento da Kantar Ibope Media em maio/2024:

TV linear 70,3%

  • TV aberta 61,6%
  • TV paga 8,7%

Video Online -29,7%

  • YouTube – 17,6%
  • Netflix – 4,4%
  • Tik Tok – 4%
  • Globoplay  - 1,3%
  • Prime Video – 1%
  • Max – 0,3%
  • Twitch – 0,3%
  • Disney+ - 0,2%
  • Outros – 0,5%

Mudanças e aumento de preço no Disney+

Devido aos péssimos resultados do Star+, os executivos dos estúdios Disney decidiram encerrar a comercialização da plataforma voltada para um público mais adulto. A partir do dia 26,  vai ocorrer a junção dos dois serviços de streaming, como já aconteceu em outros mercados e agora chegou a vez na região da América Latina, incluindo o Brasil.

Essa novidade veio acompanhada de um novo aumento para os assinantes. O plano mensal do Disney+ Padrão tem o valor de R$ 43,90, enquanto o Disney+ Premium custa R$ 62,90. Esses valores são mais altos do que os da Netflix, líder no segmento. O plano mais caro da concorrente custa R$ 59,90.

Antes de lançar seu serviço de streaming no Brasil, a Disney apostou alto e retirou seus desenhos e séries da TV aberta, além de outras plataformas, esvaziando também seus canais na TV paga. A ideia era concentrar seus principais produtos exclusivamente no Disney+ como forma de alavancar o serviço. No início, a estratégia também incluía disponibilizar, simultaneamente, os filmes lançados nos cinemas.

Disney+ é relançado para reverter fracasso do streaming no Brasil

Entretanto, essa estratégia se mostrou um erro no Brasil. A Disney desestabilizou todo um ecossistema de negócios. A audiência de seus canais pagos despencou e também perdeu receita proveniente dos direitos de transmissão de séries. Além disso, os personagens icônicos da Disney, como Mickey Mouse e Pato Donald, parecem cada vez mais distantes do universo infantil.

Isso fica evidente quando observamos que, cada vez menos, as festas infantis têm temáticas relacionadas aos personagens dos estúdios, com exceção das princesas. Quando há a presença do Mickey Mouse nas festas, na maioria das vezes, é mais influência dos pais do que um desejo genuíno das crianças. 

Nas décadas de 80, 90 e 2000, eles tinham uma vitrine diária na TV aberta. A Disney chegou a alugar espaço na grade do SBT, mas hoje percebemos que a empresa não acredita mais nessa exposição. O que é um erro, considerando que a televisão aberta ainda detém 61,6% de participação no consumo de vídeo.

O que se observa é que falta à Disney um olhar regional para o Brasil, pois a estratégia adotada aqui espelha a que é feita nos EUA, mas o mercado brasileiro é completamente diferente do americano.

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Hoje, no país, a Disney mantém um contrato de parceria exclusivamente com a Globo. Embora os detalhes desse contrato sejam desconhecidos, sabe-se que ele garante a exibição de filmes dos estúdios em primeira mão na emissora. Em contrapartida, a Globo oferece uma vitrine para os lançamentos cinematográficos em seus programas, como o Fantástico e o Mais Você.

O prejuízo do Disney+

Segundo a revista Forbes, o Disney+ acumulou prejuízo operacional de até US$ 11,4 bilhões (aproximadamente R$ 55,3 bilhões) desde o seu lançamento e não há previsão de lucro. Nos Estados Unidos, o número de assinantes do Disney+ caiu de um pico de 164,2 milhões em setembro de 2022 para 149,6 milhões no final de 2023, enquanto a Netflix quase dobrou sua base de assinantes, atingindo 260 milhões. 

No mercado audiovisual atual, não se acredita mais nesse modelo de negócios dos serviços de streaming, como Disney+ e Max, da Warner Bros. Discovery.

Já está claro que o orçamento dos clientes não suporta tantas plataformas. Além disso, os gastos dos serviços de streaming com investimentos em tantos produtos exclusivos para manter o ritmo de lançamento necessário e evitar o cancelamento são insustentáveis. Manter esse ciclo custa caro, e a conta não fecha para nenhum serviço de streaming, exceto para a Prime Video, onde a plataforma é utilizado como alavanca para o principal negócio: o varejo online da Amazon.

Para tentar reverter esse problema, nos Estados Unidos, a Disney já está oferecendo uma alternativa para amenizar o prejuízo da plataforma: a inclusão de anúncios. Em troca, o cliente paga um valor menor pelo pacote.

A fusão do Star+ no Brasil e em toda a América Latina é mais uma tentativa da empresa de corrigir os erros de estratégia do passado. Até o momento, aqui no Brasil, o Disney+ tem sido um negócio para clientes ricos, mas que perde dinheiro.

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