Publicado em 21/12/2020 às 15:21:00
No último domingo (20), o jogador Gerson, do Flamengo, acusou Indio Ramirez, do Bahia, de ter sido racista ao falar a frase “Cala boca, negro”. Diversos programas esportivos se posicionaram contra a atitude do atleta tricolor, como Mauro Cezar Pereira e Neto. Contudo, o fato mais polêmico envolveu Vampeta, comentarista do Mesa Redonda, da TV Gazeta, que minimizou a denúncia do ídolo flamenguista.
“Mas eu não vi para tanta coisa (sobre o Gerson). Eu jogo bola ali na Vila Maria, lá tem de tudo... Coreano, boliviano, chinês... ‘Ô coreano, toca a bola", 'ô boliviano, toca a bola', ‘ô chinês, toca a bola’... E aí? Se todo mundo for para a televisão por essas causas”, declarou o ídolo corintiano.
Apresentador do tradicional programa, Flávio Prado não gostou do comentário do colega e afirmou que “ofensa é uma coisa muito pessoal". Benjamin Back, convidado da atração, ficou ao lado de Flávio.
“É diferente. Quando você tem uma liberdade com a pessoa, é lógico que você não vai ligar. É totalmente diferente. Então você falar ‘po negão’ para um cara que é seu amigo, ele sabe que não tem nada. Mas você virar para um cara que você não conhece no meio do jogo e falar ‘ô seu macaco’... Tá maluco, cara?”, afirmou Benja. “O futebol não pode ser um universo paralelo”, completou o contratado do SBT.
“O mundo parou naquele lance do Neymar e não deu nada. Agora teve um lance de novo com o Paris Saint-Germain contra um time turco, mas os dois já se entenderam. O futebol está muito mimimi...”, retrucou Vampeta, causando desconforto na bancada.
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Neto abriu Os Donos da Bola nesta segunda-feira (21) defendendo Gerson e criticando o comportamento do jogador do Bahia. Ele relembrou que cuspiu em um árbitro negro quando era jogador de futebol e enfatizou que aprendeu muito com sua atitude.
“Não é normal [ser racista]. Não pode mais isso. Eu cuspi no rosto do José Aparecido na década de 1990 e, se fosse hoje, eu não estaria trabalhando mais em lugar nenhum. E de maneira correta. Já fui massacrado e passei aos meus filhos não fazerem isso, porque eles têm que ser melhor do que o pai. A gente tem que respeitar o ser humano, independentemente da raça, da grana. O mundo mudou e a gente tem que mudar com o mundo. Não dá mais pra gente desrespeitar as pessoas”, disparou.
Já Mauro Cezar, durante o Linha de Passe, da ESPN Brasil, chamou Mano Menezes de técnico “ultrapassado”. Ele ressaltou que Ramirez é de outro país, mas deveria ter aprendido que no Brasil existem leis que incriminam ações de racismo. “Sem noção”, afirmou o jornalista.
O Globo Esporte do Rio de Janeiro mostrou todos os detalhes do jogo nesta segunda e abriu espaço maior para abordar o caso de racismo. O programa convidou o diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, para explicar a atitude de Mano Menezes.
“Mano Menezes ironizou a acusação de racismo feita pelo Gerson. Mano Menezes mostrou que, uma sociedade racista, a palavra da vítima vai ser sempre estar em dúvida. Isso é muito prejudicial na luta contra o racismo. Precisamos ouvir mais as vítimas”, disse Marcelo.
Flamengo e Bahia protagonizaram um jogo bem movimentado, terminando com a vitória do rubro-negro por 4 a 3, porém com várias discussões em campo. No final da partida, Gerson foi chamado para dar entrevista ao SporTV e acusou Ramirez de ter sido racista, além de pedir respeito para Mano Menezes.
“Tenho vários jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca tinha sofrido preconceito, nem sido vítima nenhuma vez. O Ramirez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: ‘Cala a boca, negro’. Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito”, contou o atleta.
Áudios exibidos pelo Grupo Globo flagraram Gerson revoltado em campo e acusando Ramirez de racismo. Durante o bate-boca, Mano Menezes minimizou a denúncia do jogador do Flamengo. “Virou malandragem”, disse o técnico, que foi demitido do Bahia.
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