Publicado em 05/11/2020 às 04:00:02
Enquanto os Estados Unidos decidem entre Donald Trump e Joe Biden, outra eleição presidencial sacudiu o Brasil em 1989. No primeiro pleito desde 1960, por muito pouco Silvio Santos não vestiu a faixa verde e amarela conquistada pelo voto popular por Fernando Collor de Mello. É possível imaginar o apresentador com o adereço oficial na capa do livro Sonho Sequestrado, recém-lançado pela Matrix Editora e escrito por Marcondes Gadelha, candidato a vice-presidente na chapa do dono do SBT.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Gadelha revela detalhes da campanha presidencial que durou menos de duas semanas, tempo suficiente para bagunçar as pesquisas eleitorais. “Silvio entrou com 29% e Collor caiu para 18%. Esta foi a única situação em que Collor perdeu a liderança”, recorda o ex-candidato a vice, atualmente presidente em exercício do PSC (Partido Social Cristão). O atual ocupante do carto, Pastor Everaldo, está preso desde agosto no âmbito da Operação Placebo, da Polícia Federal, que afastou Wilson Witzel do governo do Rio de Janeiro.
O livro conta, pela primeira vez, os bastidores da curta passagem de Silvio Santos pela política sob a ótica de quem participou diretamente da disputa presidencial. Em novembro de 1989, o PFL (Partido da Frente Liberal) concordou em trocar Aureliano Chaves pelo animador do SBT, na época filiado à legenda, porém o primeiro candidato se recusou a deixar o pleito. Restou a Silvio e Gadelha buscarem abrigo em uma sigla nanica, o PMB (Partido Municipalista Brasileiro) Com três manobras que envolveram candidatos da oposição, o Poder Judiciário e até a Globo, segundo o autor de Sonho Sequestrado, a candidatura foi impugnada.
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Confira bastidores inéditos da campanha eleitoral de Silvio Santos. O apresentador quase desistiu ao ver sua família ameaçada, porém sua mulher, Íris Abravanel, o encorajou. Caso fosse eleito, ele cogitou convidar Lula, concorrente na disputa presidencial, para integrar o governo. A candidatura, porém, era mal vista dentro do SBT, na visão de Marcondes Gadelha.
“A eleição estava polarizada em dois populismos: Fernando Collor, à direita, e Lula, à esquerda. Na época, eu era líder de bancada do PFL no Senado, Hugo Napoleão era o presidente do partido e Edison Lobão foi outro companheiro que, conosco, articulou a candidatura de Silvio Santos. Se a eleição estava polarizada entre dois populismos, um de esquerda e um de direita, nada mais lógico do que criar um populismo de centro. Silvio Santos se enquadrava muito neste perfil. Era extremamente popular, uma figura muito querida pela população e era filiado ao PFL na ocasião.
Achávamos que Silvio era o candidato ideal para aquele momento do Brasil e, provavelmente, o único talhado para o enfrentamento da situação em que o país se encontrava. O Brasil estava com inflação 90% ao mês. Criou-se uma ciranda financeira em consequência da inflação, porque gerava juros e correção monetária. As pessoas não queriam mais trabalhar, todo mundo só queria investir no mercado financeiro. O Brasil precisava voltar a produzir, e ele era o exemplo perfeito e acabado de que o trabalho compensa, porque começou como vendedor de carteirinhas e se tornou dono do segundo maior império de comunicação do país, faturando US$ 1 milhão por dia, proprietário de 33 empresas, todas dando lucro. Esta era a imagem que tínhamos de Silvio Santos.”
“Quando Aureliano Chaves renunciou a favor de Silvio, começamos a explicar a ele como seria a campanha. Em um momento, ele perguntou: ‘Tem muito ataque?’. Dissemos: ‘Olha, tem, mas isso a pessoa administra bem’. ‘Mas é só com a gente ou pode atingir a nossa família também?’. O senador Divaldo Suruagy falou uma bobagem: ‘Olha, Silvio, vou ser sincero com você. O jogo é bruto e não poupa ninguém, inclusive a nossa família. Quando tentam nos atacar e não conseguem nos derrubar, partem para cima da família da gente também’. Silvio foi ouvindo com uma tensão crescente, até que explodiu: ‘Então não sou mais candidato. Podem telefonar para o doutor Aureliano dizendo que estou devolvendo a candidatura. Eu aceito que me ataquem, eu me defendo, mas não aceito que minha família nem de longe seja envolvida nessa história. Eu não entro no jogo onde minha família pode ficar exposta’. Ficou aquela situação desconfortável, tentei botar panos quentes, falei que não era bem assim e que o senador havia exagerado, porque o ataque muitas vezes é pior para quem ataca. Ele melhorou um pouco o estado de espírito e avisou que conversaria com a família. Às 22h, ele ligou com a mulher: ‘Conversei com a Íris e ela me encorajou, disse que assume o risco, a responsabilidade é dela também, se houver ataque à família ela está pronta para atacar e estamos juntos. Ela até escreveu uma carta comovente que vou ler no meu programa de domingo. Estou pronto para ser candidato e vamos para a vitória!’. Ele tinha desistido, mas ela o estimulou e ele foi para a frente.”
“O SBT era contra a candidatura de Silvio Santos, tanto do ponto de vista administrativo como do ponto de vista político. O presidente da holding, Luiz Sandoval, tentava disfarçar o mal-estar quando chegávamos lá, mas era visível porque achavam que, se o Silvio fosse presidente da República, o programa de domingo, que sustentava a televisão, iria ter uma perda muito grande e o prejuízo para o SBT seria enorme. Politicamente, Boris Casoy, âncora do principal noticiário do SBT [TJ Brasil], era contra [a candidatura de] Silvio Santos de forma escancarada. A entrevista mais difícil que dei foi para o SBT. Até na Globo, que capitaneava as ações contra o Silvio, fui bem tratado, mas o Boris Casoy me fustigava como se eu estivesse levando Silvio para o inferno, e mostrava as desvantagens de Silvio ser presidente. Depois do programa, fui ao Silvio. ‘Rapaz, esses jornalistas são assim mesmo, se a gente reclamar é pior. Aqui no SBT dou liberdade total a eles’.”
“Silvio entrou como uma bomba de Napalm no arrozal da rapaziada. Foi o único candidato que, em qualquer momento da campanha, tirou Collor da liderança. A partir daí, armou-se uma conspiração implacável, impiedosa, para impedir que a candidatura de Silvio chegasse às urnas. Esta conspiração era orientada por três personalidades: Antônio Carlos Magalhães, Roberto Marinho e Leitão de Abreu, que tinha sido ministro-chefe da Casa Civil de dois governos da ditadura, Emílio Garrastazu Médici e João Baptista Figueiredo. No ato final, entrou mais um, Eduardo Cunha, que foi presidente da Câmara dos Deputados e hoje está preso.
Esta conspiração foi armada em três etapas: na primeira, o objetivo era impedir que Silvio tivesse a legenda de seu partido, o PFL. Se isso não desse certo, a segunda etapa seria impedir que ele tivesse qualquer outra legenda. Na terceira etapa, se tudo desse errado, seria impedi-lo no Judiciário a qualquer custo. O fato é que ele não podia chegar às urnas. Como dizia Antônio Carlos Magalhães: ‘A candidatura de Silvio deve ser abatida no chão. Ele não pode decolar, porque se chegar às urnas é imbatível’. No primeiro momento, eles foram bem-sucedidos. Aureliano renunciou para Silvio entrar, porém eles montaram uma força-tarefa para pressioná-lo a desistir da renúncia.
Faltavam pouco mais de 15 dias para a eleição e Silvio ficou sem legenda para se candidatar. Naquele tempo, a lei permitia o candidato mudar de partido e ainda assim ser candidato, mesmo que fosse na véspera da votação. Conseguimos a legenda do pastor Armando Correa, o PMB (Partido Municipalista Brasileiro), um partido pequeno, mas decente. Muitos partidos ofereceram a troco de dinheiro, queriam vender a legenda, e Silvio não aceitava em hipótese alguma essa transação, tanto que com o entendimento com Armando Correa a única concessão que Silvio fez foi de natureza programática: ele quis que Silvio absorvesse o plano de educação e plano de imposto único de seu programa de governo.”
"Silvio tinha me pedido para ir falar com Roberto Marinho: ‘Marcondes, está tudo muito bem, mas estou cismado de que não chegaremos longe se nós não tivermos o beneplácito de Roberto Marinho. Queria que você fosse falar com ele e expor que a minha candidatura não tem nada contra a Globo, e eu, como presidente da República, trataria o doutor Roberto e o sistema dele igual ou melhor do que o [José] Sarney [então presidente da República] vinha tratando’.
Não acreditava que o Roberto Marinho fosse me receber, falei isso para o Silvio. Ele disse: ‘Eu conheço a fera. Ele joga duro, mas é muito polido. Pode pedir a audiência que ele vai lhe receber’. Não deu outra. Em meia hora, recebi um telefonema dizendo que ele me receberia no dia seguinte, ao meio-dia. Fui. Até cheguei um pouco atrasado com medo de chegar lá e ter uma pessoa na sala dele. Ele me atendeu da maneira mais cavalheiresca que você possa imaginar. Ele me recebeu na porta e me disse: ‘Senador, antes de o senhor começar, deixe-me ler essa carta que eu escrevi ao Júlio Mesquita, de O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, porque o Jornal da Tarde tinha publicado uma matéria dizendo que eu, Roberto Marinho, tinha chamado Silvio Santos de camelô e tinha agredido verbalmente o presidente da República. Isso não é da minha índole, tenho o maior respeito pelo Silvio’. Ele leu a carta. Eu disse: ‘Doutor Roberto, me permita publicar nos anais do Senado?’. Ele disse: ‘Não. Peço que o Júlio publique com destaque no jornal dele. Se não publicar, aí o senhor tem liberdade de fazer o que quiser com a carta’."
"A versão oficial é que a candidatura de Silvio teve ‘morte natural’, teve o registro negado porque o partido pelo qual ele tinha disputado não realizou determinadas exigências legais, como realizar convenções em nove estados da federação. Mas, na verdade, Silvio foi vítima. O livro, na sua essência, é a história da resistência a essa conspiração.
O PRN (Partido da Reconstrução Nacional) era o partido do Collor, e Cunha era o secretário-geral da juventude. Ele teve um insight, um estalo na cabeça de que haveria algo errado na legenda do PMB, pelo qual Silvio tinha se lançado. Ele pediu um jatinho a Collor e saiu rodando pelo Brasil todo pegando certidões nos cartórios eleitorais para ver que o PMB não tinha realizado as nove convenções. Por isso, não estaria apto a lançar candidatos. Com base nisso, eles impugnaram a candidatura de Silvio.
Claro que não acreditamos nessa história da carochinha. Primeiro porque o PMB tinha um candidato, Armando Correa, e estava tramitando normalmente, inclusive participando do programa eleitoral gratuito do próprio TSE. Quando era Correa, não havia problema nenhum. Quando mudou para Silvio Santos, resolveram entender que o partido não tinha aptidão para lançar candidato. Este era o sonho de todos outros candidatos. No livro, publiquei uma charge que saiu no Correio Braziliense no dia seguinte ao julgamento, com todos os outros candidatos abraçados e cantando de uma forma debochada, naquele ritmo da vinheta do SBT: ‘O TSE é coisa nossa’.”
"Depois da cena do Roberto Marinho, no dia seguinte viajei e passei na casa do Silvio Santos. Lá, ele recebeu um telefonema do [advogado] Arnaldo Malheiros dizendo que iria ganhar no Tribunal [Superior Eleitoral]. Foi um momento em que vi muita felicidade no Silvio, vi brilho nos olhos dele. Sempre fui um pouco cético, mas Silvio tinha confiança absoluta de que iria ganhar. Quando veio o resultado negativo, acabou impactando psicologicamente, ele ficou meio abatido. Silvio foi contra recorrer ao Supremo porque grande parte do pessoal que votou no TSE pertencia ao Supremo e provavelmente estaria contra ele lá também. Poderíamos agravar ao pleno do Supremo, que daria uma liminar para chegarmos às urnas, mas depois, como se posicionou contra a candidatura, provavelmente o resultado seria negado e aí haveria uma nova eleição para presidente da República que, provavelmente, seria entre o primeiro e o segundo colocado. Os outros iriam reclamar que os votos que foram dados ao Silvio deveriam ser anulados e isso influenciaria no resultado do primeiro turno. Geraria uma confusão muito grande na área institucional, e o Silvio preferiu desistir."
"Ele procurava se apresentar com um ‘neófito’ na política, mas tinha uma noção muito precisa do que tinha que fazer. Ele proclamava sua confiança na equipe que ele iria indicar. Ele dizia que iria buscar nas universidades, nos partidos políticos, no Congresso Nacional, nas empresas e até mesmo na oposição. Ele dizia: ‘Eu vou conversar com o [Eduardo] Suplicy para ver essa questão do programa de Renda Básica’. Isso não está no livro, mas ele me disse certa vez que iria convidar o Lula para integrar a equipe de governo, e era oposição no caso. Não sabia se Lula iria aceitar.
Ele tinha preocupações e ideias bem definidas em alguns pontos da área social. Um deles era o programa de renda mínima. A outra inclinação era a questão da habitação. Ele ouvia na televisão muitos apelos de pessoas que não tinham onde morar e ficava muito sensibilizado com isso. Ele falava: ‘A questão da casa é minha, está no meu sangue, não vai ter um brasileiro sem casa’. A ideia dele era zerar o déficit habitacional. Ele tinha essa noção não só pelo efeito social de dar uma casa para as pessoas, mas pelo efeito econômico, porque a construção civil era o polo de convergência de todos os setores da economia. Silvio também se preocupava muito com a questão do emprego e da educação. Ele tinha uma frase que eu gostava: ‘Quem produz riqueza não é o governo, é o povo, mas para isso o povo deve estar capacitado’."
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