Publicado em 03/11/2020 às 04:15:01
A morte súbita de Tom Veiga, intérprete de Louro José, emocionou o Brasil e seus colegas de profissão, mais especificamente os manipuladores dos bonecos mais famosos da TV. De assistente de produção, Tom foi promovido a papagaio e tornou-se fiel escudeiro de Ana Maria Braga na Record e, durante 21 anos, na Globo.
Sem Tom Veiga, é possível outra pessoa dar vida ao papagaio? O NaTelinha pediu a opinião de alguns dos colegas mais conhecidos de Louro José: Xaropinho, Júlio e Guinho. Ou melhor, seus manipuladores: Eduardo Mascarenhas, Fernando Gomes e Anderson Clayton. Os três artistas toparam abrir o baú de memórias e revelaram histórias ao lado do parceiro de Ana Maria.
Eduardo Mascarenhas, o Xaropinho, conviveu durante dois anos com o intérprete de Louro José na Record. Juntos, seus dois personagens aparecem em uma das imagens mais surreais da TV nos anos 90, ao lado de Ana Maria Braga, Raul Gil e Ratinho no sofá do Note e Anote.
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"Eu tinha acabado de chegar à Record. O Louro já era consagrado e eu estava entrando no espaço que ele abriu, de mascotes para apresentadores. Assim que fui contratado, já queria conhecer o Tom. Ele foi muito atencioso e profissional comigo, me deu dicas. Falava com ele todo dia, nos vestíamos parecido. Pensavam que éramos irmãos", relembra o integrante do Programa do Ratinho.
Mascarenhas já manipulava bonecos em peças infantis, mas chegou à TV após apresentar Xaropinho ao seu atual patrão: "Louro não era um personagem para crianças, era para donas de casa. Este foi meu argumento para convencer Ratinho a ter Xaropinho. O sucesso dos dois está na personalidade real e na discordância saudável com os apresentadores".
Tom Veiga ensinou o colega a sempre respeitar o espaço do apresentador: "Ele me disse para eu entender que o boneco não é o protagonista. Estamos lá como um apoio. Somos uma pílula para descontrair depois de um assunto sério. Ele deixou bem claro o papel do boneco".
A comoção pela morte de Tom Veiga surpreendeu Mascarenhas, que o homenageou no Programa do Ratinho vestindo a máscara do papagaio em Xaropinho: "Não tinha ideia do quanto Louro José era querido. Fiquei assustado. A Globo parou por causa do Louro. Naquele espaçozinho que lhe foi dado, ele conquistou o país".
Durante mais de uma década, Anderson Clayton deu vida a Guinho, boneco inseparável que auxiliava Palmirinha Onofre na Gazeta e na TV paga. Na opinião do artista, o personagem (inicialmente chamado Huguinho) não existiria se não houvesse Louro José no Note e Anote, onde Tom Veiga conheceu a cozinheira convidada por Ana Maria Braga.
"Sempre trocávamos informações pela Palmirinha, que falava muito com ele. Quando falam 'sabe o Guinho? O Louro José da Palmirinha?', para mim é motivo de orgulho. Em programas femininos, ele abriu trabalho para mim. Sem o Louro José, não existiria o Guinho", analisa.
Clayton conheceu Tom Veiga rapidamente em um evento, mas já recebeu elogios do intérprete de Louro José e enfrentou os mesmos perrengues dele e outros manipuladores de bonecos na televisão: "Tom tinha um braço maior do que o outro de tanto alongar para o trabalho. Eu tenho escoliose porque passava horas com o braço levantado".
Fernando Gomes, um dos mais famosos manipuladores de bonecos da TV, trabalhou em programas como Bambalalão, X-Tudo, Castelo Rá-Tim-Bum e Cocoricó, na Cultura, e Agente G na Record. Nesta atração, conheceu Ana Maria Braga e Tom Veiga nos corredores da emissora recém-comprada pela Igreja Universal do Reino de Deus.
"Nos anos 90, virou moda ter bonecos em todos os programas, e fui chamado para fazer merchandising dentro do programa da Ana. Ela já conhecia e admirava a linguagem de bonecos. Em um dia, eu a vi de um lado para o outro falando: 'Eu quero um papagaio'", recorda o intérprete de Júlio, X e Gato Pintado, entre outros personagens.
Ainda abalado pela morte de Tom Veiga, Gomes admira a capacidade do ex-colega de transformar um papagaio em um ícone da televisão: "Por todo respeito que todos tinham com a Ana, maior estrela da Record na época, ele tinha um pouco menos de respeito porque tinha mais intimidade, por isso fez sucesso. Ana e Louro tinham uma intimidade verdadeira. Ele não tinha medo de tirar onda da cara dela".
Mas afinal, Louro José deve ou não ser substituído? Com a palavra, os manipuladores de Xaropinho, Guinho e Júlio:
"Nos desenhos animados, mudam o dublador, mas não a personalidade do personagem. Quando muda a personalidade, dá problema. Já testaram outras pessoas para o Xaropinho. Em 2006, pedi demissão e fui para Portugal. Colocaram rapazes que me imitavam perfeitamente, mas não tinham o mesmo cérebro, não pensavam como o Xaropinho ou como eu. Pensar igual ao Tom não dá. Neste aspecto, é insubstituível. Por uma questão de respeito com a carreira e a construção do Tom, o ideal é que se encerre aí a linda história do Louro José. Se quiserem estender, vai ficar estranho."
"Tom Veiga é a alma do Louro, mas ele é um personagem. Walt Disney morreu, mas o Mickey não. Quem morreu foi o Tom, não o personagem. O Louro estava há muito tempo na televisão ligado à figura da Ana, então não acredito que possa ser substituído. Tom era tão grande que leva o Louro com ele. As pessoas vão ver agora a grandeza do Louro. A Ana vai sentir muito isso. Sabemos a importância que o Louro tinha na condução do programa."
"Hoje, digo que Louro é insubstituível. Eu guardaria esse Louro e diria que ele morreu, ou melhor, se recolheu. Júlio trata o Tom como melhor amigo do Louro. Ele separa os dois, e eu também. Neste momento e a longo prazo, não dá para imaginar o Louro sendo feito por outra pessoa. Nunca vai dar certo. No Cocoricó, tive que trocar pessoas insubstituíveis que saíram do programa, mas havia roteiros. No caso do Louro, acho muito mais grave porque pouquíssima coisa devia ter roteiro. Louro, para mim, é o Tom. Nunca será tão bom. Perdemos um baita artista e um baita personagem, porque Louro jamais será Louro. Acho que isso nem passa pela cabeça da Ana Maria."
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