Publicado em 03/09/2020 às 05:03:00
Desde sua saída da TV, Abigail Costa é questionada: "Por onde você anda?". Há um ano, também passou a ouvir outra pergunta: "O que fez com seu cabelo?". A jornalista, que daqui duas semanas completará 57 anos, libertou-se da tintura e adotou os fios brancos. Apesar do apoio da família, ela recebeu críticas e umas doses de preconceito, mas se sente plena e disposta para sua nova empreitada: um canal no YouTube.
Em entrevista ao NaTelinha, Abigail admite que descobriu como o cabelo influencia sua imagem quando aboliu as mechas californianas e pediu "máquina dois" no salão onde frequenta em São Paulo. Até sua mãe, Eunice, reprovou a mudança radical no visual.
"Minha mãe tem 83 anos e só não infartou porque não era hora dela: 'Como eu vou sair com você? Eu sou a sua mãe, olha o meu cabelo! Vão imaginar a minha idade!'. A maioria das mulheres ficou muito incomodada: 'Você está depressiva?', 'Está tudo bem com você?', 'Você não pode ficar com cara de mãe do seu marido', 'Mas isso é uma fase, né? Você vai deixar crescer e retocar, né?'", conta a jornalista.
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Por causa dos fios grisalhos, os colegas de Abigail na faculdade a chamaram de "professora". Ela concluiu o primeiro ano de psicologia. O curso era coordenado por Simone Domingues, sua colega de trabalho no canal 10% Mais, que estreia no YouTube nesta quinta-feira (3).
Incentivada pela amiga Leniza Krauss, com quem trabalhou na Record, Abigail topou se aventurar como youtuber. Na internet, a jornalista e a psicóloga abordarão saúde mental e comportamento e querem ser companheiras de quem convive com problemas psicológicos. O lançamento ocorre no mês do Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio.
"Nesta quarentena, passei a falar todos os dias com a Simone. Ela falou de temores e da crise, e falei: 'Não vai ter crise agora, porque as pessoas estarão precisando de alguém para botar a cabeça no lugar'. Sempre tive muita delicadeza com isso, porque é doloroso para quem não tem ninguém para contar sem te rotular. Por que as pessoas têm um sentimento diferente com doenças físicas e rotulam doenças mentais?", indaga.
Formada em jornalismo pela FIAM, na mesma turma de Cleber Machado e Roberto Cabrini, Abigail Costa começou na televisão como repórter da Cultura, e em pouco tempo, foi deslocada para o esporte: "Fui fazer futebol sem entender impedimento". Na Globo, onde trabalhou durante 18 anos, apresentou o Globo Esporte e assinou reportagens para o Jornal Nacional, Esporte Espetacular e telejornais locais de São Paulo.
"Quando pedi demissão, minha chefe falou para mim algo que nunca esqueci: 'Saiba que você está fazendo a melhor coisa da sua vida. Você não nasceu para o jornalismo'. E eu fiz 34 anos de jornalismo. Sinto pena de pessoas que se portam dessa maneira, como eu tive uma chefe da Globo que falou algo parecido, porque muitas pessoas não têm estrutura para aguentar e desistem", critica.
Em 2006, a Record tirou da Globo seus melhores repórteres. Abigail foi a primeira convidada e topou trocar de emissora para realizar um sonho: ser correspondente internacional nos Estados Unidos. Quando foi demitida, em 2012, finalmente pôde viver a sua vida: cursou MBA de Gestão de Luxo e acompanhou o crescimento de Gregorio e Lorenzo, filhos de seu casamento de 30 anos com Milton Jung, apresentador da rádio CBN.
"Estar fora da TV é como se não estivesse fazendo nada, e aí tem que tomar muito cuidado para você não pensar que não pode ser útil. Quando você descobre, depois de uma rotina de tantos anos na televisão, que existe vida além daquilo, é muito interessante. Eu sempre gostei de recomeçar, mas te diria que recomeçar é mais difícil do que começar. Porque ao começar você se joga, é destemido, não tem nada a perder", analisa.
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