Publicado em 29/07/2020 às 04:15:01
Sabrina Parlatore conheceu Rodrigo Rodrigues em 2005, quando o apresentador havia retornado à TV Cultura, após passagens por SBT e Band, para apresentar o Vitrine. A parceira profissional durante seis anos se transformou em uma das amizades mais bonitas dos bastidores da TV.
À convite do NaTelinha, Sabrina Parlatore relembra histórias ao lado de Rodrigo e conta como o apresentador, que morreu na última terça-feira (28) por complicações decorrentes do novo coronavírus, se tornou seu melhor amigo.
Confira:
"Eu me lembrei de um momento, foi em 2007. Eu estava triste por algum motivo, e ele mandou um presente para minha casa. Era uma caixinha de guardar segredos, alguma coisa assim, porque o Rodrigo era o meu confidente. Meu melhor amigo e confidente. Eu contava tudo para ele, sabe? De namoro, de tudo. Tudo ele sabia da minha vida, até hoje. A gente se encontrava, era uma fofoca só. Ele contava tudo que acontecia com ele em todos os cantos, e eu também. A gente era amigo mesmo. Nesse dia, ele me mandou essa caixinha com uma carta superfofa, e ele escreve muito bem, cheia de bombons, fotos nossas, e me colocando para cima. Deixou na portaria do meu prédio para me deixar feliz, elevar o meu astral. O Rodrigo era essa pessoa, extremamente generosa, parceira para tudo. Qualquer problema que eu tivesse ligava para ele. Se pudesse, ele resolvia sempre com as melhores palavras para mim e para todo mundo.
A gente se conheceu no Vitrine. Logo de cara, já rolou uma conexão muito grande. Ele já foi falando de música, porque já sabia que eu gostava de música. No final do programa, muitas vezes a gente fazia uma canja. A gente fazia apresentação e reportagem. Durante a semana, a gente não se encontrava tanto porque eu ia para um canto fazer matéria e ele ia para outro. Uma vez por semana a gente se encontrava no estúdio, que era o dia de gravar as cabeças. Eu vou te dizer: era o dia que eu mais gostava do trabalho, porque era o dia de encontrar o Rodrigo, de passar horas com ele no estúdio. E o Rodrigo era uma alegria com todo mundo. Ele dominava, transformava o astral do estúdio com as piadas dele, sempre muito inteligente, espirituoso pra caramba. Eu dava risada o tempo inteiro, era uma delícia. Eu queria estar o dia inteiro nas matérias. Eu queria fazer junto com ele.
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Foram seis anos apresentando o Vitrine juntos. Que encontro feliz. Eu aprendi muito com o Rodrigo, falando profissionalmente. Eu o achava genial no que fazia. O Rodrigo é jornalista, escreve livros. Ele é músico, é apresentador, um excelente entrevistador. Ele fazia todas as pautas das entrevistas dele. O Rodrigo editava a grande maioria das entrevistas dele. O Rodrigo, ele é um tesouro. Para uma emissora que contratasse o Rodrigo, ele entregava o pacote completo sem nem ganhar por isso. Um cara de extrema generosidade. Eu ficava babando no jeito com que ele conduzia as entrevistas, as matérias.
O Rodrigo estava sempre surpreendendo. Ele já trabalhou falando sobre tanto assunto diferente! Até no Programa Cor-de-Rosa ele foi repórter! Ele foi repórter do Vitrine na época do Marcelo Tas. O Rodrigo sempre colocou em prática seus sonhos profissionais. Ele queria tocar? Ele foi, fez uma banda, foi atrás, trabalhou, batalhou incansavelmente. Eu ficava até impressionada com o quanto ele não parava, sempre pensando em projetos paralelos, sempre cuidadoso, caprichoso demais. Tudo que ele fez foi com excelência. Os livros, as histórias da Blitz, os livros de Londres e de Paris, os manuais turísticos. Quando ele foi para a ESPN, eu falei: ‘Nossa, Rodrigo, você vai falar de esporte?’. De repente, comecei a assistir e ele: ‘Meu, o cara entende! Olha o que está falando de futebol! Eu não sabia disso, como assim?’. O Rodrigo tirava umas cartas na manga e surpreendia todo mundo!
A minha primeira gravação que eu fiz na vida, de voz, foi com ele. A gente cantou Cruisin'. Ele estava gravando o primeiro DVD da banda Soundtrackers. Foi em janeiro de 2009. Ele me ligou, era férias, eu tinha acabado de chegar da praia. Ele falou: ‘Parlatore, pô, vem gravar com a gente!’. Ele sabia que eu cantava Cruisin’. Eu já tinha cantado com a banda duas vezes. Com o Rodrigo era sempre assim, tão à vontade, que eu nem lembrei que era um DVD. Meu, eu fui com a roupa do corpo! Estava de jeans, camiseta, tênis e cara lavada! Estava sem um pingo de maquiagem! Quando cheguei lá, falei: ‘Nossa, tem vídeo?’. Ele: ‘Lógico, é um DVD, né?’. ‘Putz, esqueci. Alguém tem uma base?’. Ninguém, não tinha uma mulher lá. Prendi o meu cabelo, que estava horroroso, fiz um rabo de cavalo. Estava bem bronzeada, tinha acabado de chegar da praia, e gravamos Cruisin’ ao vivo, com a banda, o Fábio Noogh, um dos vocalistas. Ele, aliás, é uma figura que eu quero até mencionar porque ficou todos esses dias com a família do Rodrigo, ajudando e providenciando tudo. Foi um suporte absurdo. Criamos um grupo, e ele que deu todas as informações, todos os boletins médicos. Está lá no DVD essa linda lembrança, minha primeira gravação musical com o Soundtrackers. O Rodrigo falava: ‘Parlatore, se joga, meu! Você adora cantar! Tem que se jogar!’. Quando fiz meus primeiros showzinhos, em 2014, eu me encontrei com ele porque queria dicas de tudo. Fui ao restaurante dele, na praça Benedito Calixto, Soundtrackers Café. Sentamos, conversamos horas, comi lá, uma delícia que eram os lanches. Foi demais. Ele levou os pais ao meu show no Terraço Itália.
Quando descobri o câncer, a gente se falava mais por telefone, até porque eu queria me resguardar muito. Eu ficava mais próxima à minha família mesmo. Mas ele, de alguma forma, estava presente, sempre me mandava mensagens. ‘E aí, como é que cê tá?’. Quando eu terminei o tratamento, ele falou: ‘Sa, quero muito te trazer para o programa'. Ele estava na ESPN. ‘Você consegue agora? Você tá bem?’. Acho que foi o primeiro programa que eu fui, logo depois que eu terminei o tratamento, porque com ele eu me sentia confiante, me sentia à vontade, e aí eu fui à ESPN no começo de 2016. É um querido, que delícia. Estar com o Rodrigo me deixava sempre em paz. Essa era a sensação que eu tinha. Quando eu chegava à TV Cultura, às vezes tensa, estressada de trabalho ou de alguma coisa, eu encontrava o Rodrigo... Era como se uma luz pairasse sobre mim. Era uma paz… O abraço dele, sabe, era sempre uma delícia abraçar o Rodrigo, sentir a energia dele.
Na última conversa que a gente teve por telefone, eu falei: ‘Rô, que delícia ver a tua evolução na Globo!’. Ele estava no SporTV e fazia Globo a cada 15 dias. ‘Daqui a pouco você está no Esporte Espetacular, porque você é muito diferente! Você tem um talento, um jeito de se comunicar muito seu, muito cativante!’. Eu acho que tem uns dois meses, mais ou menos. Foi na época em que a gente gravou o vídeo da música que postamos e fez o maior sucesso. Ele me mandou uma mensagem assim: ‘Meu beeem…’. E eu respondia: ‘Oi, meu beeem’. ‘Topa gravar um videozinho à distância?’. E eu: ‘Claro!’. Sempre que ele propunha alguma coisa, eu voltava com a resposta: ‘Com você eu topo tudo!’, porque sei que não é roubada, sei que é carinhoso, sei que é com dedicação, sei que é com excelência, e é com o meu melhor amigo.
- Você canta aquela música da Corine Bailey Ray, Put Your Records On?
- Nunca cantei, mas posso tentar Você não toca Like a Star, dela? Porque eu canto.
- Vou ver… E Fallen, hein?
- Nossa, eu adoro essa música! Nunca cantei, mas sempre ouço no rádio.
- Então vamos fazer!
Vai ser uma eterna lembrança da última coisa que a gente fez juntos. O Rodrigo sempre me incentivava na música.
O Rodrigo, do jeito que ele é na TV, ele era fora, em qualquer lugar. Uma pessoa transparente, uma pessoa do bem, uma pessoa sensata, uma pessoa muito rara nesse nosso meio. Uma pessoa que torce pelo colega de trabalho. O Rodrigo foi o melhor parceiro que eu já tive na vida, de qualquer emissora por onde passei, MTV, Band, qualquer lugar não teve ninguém que chegasse aos pés do Rodrigo como parceiro, como pessoa que estava ali para colaborar, para me ajudar, para melhorar o meu trabalho, preocupado com o parceiro. Não tem ninguém que chegue perto do que ele foi para mim. Fora a amizade que com poucas pessoas eu tenho essa amizade que eu tenho com o Rodrigo, fora do ambiente de trabalho.
Eu não consigo nem imaginar o mundo sem o Rodrigo, o meu mundo sem o Rodrigo, porque ele faz parte da minha vida. Tudo que eu faço, seja no campo pessoal seja no profissional, ele sempre me liga, sempre dá opinião.
Realmente, eu estou passada, inconformada. Como esse vírus é traiçoeiro. Como é que pode, assim, levar… levar o Rodrigo, sabe? É muito difícil. Acho que isso é uma lição, um tapa na cara da gente. Essa pandemia toda, de forma geral, que está fazendo a gente parar com tudo para reavaliar mesmo a nossa vida e pensar. Será que eu estou fazendo valer mesmo a minha vida? Eu estou fazendo as coisas que eu realmente acredito que sejam bacanas para mim, para o mundo? Eu estou fazendo a diferença? Eu estou sendo feliz? Porque, de repente, você vai embora. É muito louco!
O Rodrigo não merecia ir embora agora. Olha, vou te falar. Se tem um cara que realmente merecia ficar era o Rodrigo, realizando tudo que ele vinha realizando.
Sou muito grata por ter convivido com o Rodrigo, ter conhecido a pessoa, a alma que ele era. Muito grata! E é isso, excelência!".
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