O Tibério, por exemplo, é coração. O Levi é tesão. A vingança é ego, te consome, te aprisiona. O perdão é escolha, libertação. Já não falar, para não precisar se explicar, é sempre uma rota de fuga para quem não quer produzir provas contra si mesmo.
Publicado em 11/04/2022 às 05:00:00,
atualizado em 11/04/2022 às 13:22:53
Trinta e dois anos separam os trabalhos de Andréa Richa e Bella Campos na pele de Maria Ruth, a Muda de Pantanal. A primeira deu vida à personagem na novela original, exibida pela Manchete em 1990. A segunda, trilhando um caminho parecido ao de sua antecessora, faz sua estreia em novelas com o mesmo papel, e entra em cena nesta semana no remake produzido pela Globo.
A convite do NaTelinha, as duas atrizes toparam trocar perguntas e respostas sobre essa personagem que as une. Na história, Muda é o apelido dado à jovem que se infiltra na vida de Juma (Cristiana Oliveira/Alanis Guillen) e Maria Marruá (Cássia Kiss/Juliana Paes) para vingar a morte do pai, um fazendeiro assassinado por Gil (José Dumont/Enrique Diaz). Na primeira versão da história, ela se afeiçoa às rivais e, com o tempo, desiste da vingança.
No ano passado, Andréa Richa já havia concedido uma entrevista ao NaTelinha sobre o trabalho. Na ocasião, sugeriu uma atriz novata, como ela era em 1990, para ser sua “substituta”: “Posso até imaginar quais atrizes fariam bem a Muda, a Juma, a Guta, mas essas personagens vivem em um mundo tão distante do nosso. Elas têm que vir frescas. É preciso encontrar o personagem no ator, não o contrário”.
Nesta entrevista especial, Bella Campos perguntou detalhes sobre a experiência de Andréa Richa no passado. A veterana, por sua vez, elegeu as duas cenas mais marcantes daquele trabalho. Também quis saber como a estreante chegou até o papel e quais as diferenças e semelhanças ela nota entre as duas versões da história. Leia a íntegra a seguir:
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Bella Campos: Como foi viver uma personagem com tanta dualidade: falar x não falar, Tibério x Levi, vingança x perdão?
Andréa Richa: Viver qualquer personagem é o melhor dos mundos, e existem mundos ainda melhores que outros, que é justamente quando encontramos uma personagem que se aproxima mais da alma do espectador. Há uma identificação aí, justamente porque essa dualidade existe dentro de todos nós. Isso é o que faz a gente ser mais humano, mais real. É muito especial quando rola essa troca, quando o personagem tem essa identificação com o público.
Essa dualidade também abre um campo de material emocional muito maior para a gente poder trabalhar. E em uma viagem de ator, o céu é o limite, não é?
O Tibério, por exemplo, é coração. O Levi é tesão. A vingança é ego, te consome, te aprisiona. O perdão é escolha, libertação. Já não falar, para não precisar se explicar, é sempre uma rota de fuga para quem não quer produzir provas contra si mesmo.
Vivemos esses grandes dilemas e pequenos conflitos todos os dias nas nossas vidas. Saber equilibrar isso na jornada do personagem é o que há de mais gratificante na realização do trabalho.
Bella Campos: Qual cena da novela foi mais marcante para você? Andréa Richa: Com o sucesso do Pantanal, talvez pela ousadia de fazer da natureza a personagem central da história, existia uma novela dentro da novela. Dentro deste contexto, destaco dois momentos bem marcantes. O primeiro é meu com a Crica [Cristiana Oliveira, intérprete de Juma Marruá na primeira novela]. Nós duas esgotadas e totalmente emocionadas no fim da cena em que a Muda revela o real motivo da sua ida ao Pantanal e a Juma descobre toda a verdade. Foi uma cena de confronto, ápice. O segundo momento que se tornou marcante para mim foi quando eu me dei conta que estava gravando a minha última cena na novela. Era uma entrada em estúdio, uma coisa bem simples, e eu chorava tanto que não conseguia entrar em cena. O diretor pediu para pagar a gravação, eu respirei e finalmente consegui, mas isso levou alguns takes. Andréa Richa: Como você conquistou a personagem para o remake? Bella Campos: Por meio de testes. Fiz tudo em casa pelo celular e a aprovação veio. Os testes on-line ficaram muito fortes durante a pandemia. Com a restrição de acesso aos estúdios, nós atores tivemos que gravar os testes em casa. Eu já fazia isso um pouco para os testes de publicidade, mas para um teste tão importante como esse é realmente mais difícil. Quando estamos pessoalmente fazendo teste com a direção, eles conseguem nos pedir alterações no acting, fazemos e vamos mostrando nossa atuação. Porém, por vídeo, os feedbacks da direção levam um tempo, até eles receberem e conseguirem assistir com calma. Iam pedindo algumas opções e eu fui fazendo... “Tenta mais assim”, “tenta assim agora”, “tenta com esse texto”, e eu ia fazendo os vídeos e enviando, até eles terem certeza da aprovação.
Andréa Richa: Você assistiu à novela original? Na sua opinião, quais os pontos mais se aproximam e/ou se distanciam – se já conseguiu perceber – da versão de ontem para a versão de hoje? Bella Campos: Assisti a um pouco da primeira fase da versão passada. Acho que estamos trazendo realmente um olhar atual para a trama, mas as principais questões ainda são as mesmas. Não quis fazer uma “cópia” do que já existiu, e, se eu assistisse, ia acabar fazendo comparações inconscientes que iam fugir da minha naturalidade na criação. Então quis criar a minha própria versão da personagem. Espero que o público acolha a Muda, pois é uma personagem complexa, com muitas camadas, muitas dualidades. Possui uma incoerência humana, mesmo. Então acho que isso vai gerar um mix de emoções no público, e também uma discussão sobre se ela deveria ou não fazer o que faz. A vida da Muda realmente vira uma montanha russa desde que chega no Pantanal. É importante lembrar que, para ela, essa vingança significa honrar sua família e todo sofrimento sentido, mas, aos poucos, ela vai encontrando outros afetos, que vão amolecendo esse coração machucado. E aí eu costumo dizer que ela começa a florescer. O NaTelinha divulga todos os dias os resumos dos capítulos, detalhes dos personagens, entrevistas exclusivas com o elenco e spoiler da novela Pantanal. Confira!
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