Rainer Cadete sobre Verdades Secretas: "Fiz as pazes com meu lado feminino"
Gravando segunda temporada da novela, intérprete de Visky também aborda sexualidade em sua estreia na música e garante: "Não tenho medo de perder papéis de galã"
"Está na hora de a gente deixar de ser careta e pensar no que realmente é importante", reflete Rainer Cadete - Fotos: Reprodução/Instagram e Divulgação/Globo
“Com o Visky, eu me sinto mais engraçado, mais alegre. Eu o tenho como um amigo, um alter ego, algo bem profundo. Ele me ensina muito sobre liberdade”, define o ator Rainer Cadete ao falar sobre seu personagem de grande sucesso em Verdades Secretas. O ator vestiu novamente a pele do booker homossexual nas gravações da continuação da novela de Walcyr Carrasco, que estreia sob direção de Amora Mautner no Globoplay em novembro. Enquanto isso, o ator também assiste à primeira temporada, exibida em 2015 e atualmente em reprise na Globo.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Rainer Cadete conta que Visky foi fundamental em um processo de desconstrução. “Eu me permiti fazer as pazes com meu lado feminino”, reflete. “Nós homens somos muito estimulados a pensar que o feminino tem um papel secundário, uma grande ilusão criada por essa sociedade patriarcal. Tento falar com meu filho e estudar para perder esse pensamento, que eu cresci tendo e que só depois consegui ver o mundo com outras perspectivas, o que foi tão libertador e interessante.”
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O tema também está presente na estreia do artista na música, em uma parceria com o também ator e cantor Renato Luciano. Uma das músicas do primeiro álbum, intitulado Leves e Reflexivas, é Esse Negócio de Ser Macho. “É importante pensar nossas dores e nossos privilégios, e repensar esse lado macho de ser”, afirma.
Recentemente, em entrevistas, Rainer tem falado abertamente sobre a própria sexualidade, que define como “fluida”. O que era um tabu para parte da classe artística há poucos anos vem se desfazendo nas novas gerações. “Não tenho medo de perder papéis de galã, não. Estamos vivendo em um momento com coisas tão difíceis pelo mundo. Está na hora de a gente deixar de ser careta e pensar no que realmente é importante”, frisa o ator de 34 anos.
Há seis anos, para dar vida a Visky, Rainer Cadete fez aulas de stiletto, passarela e decorou cenas de RuPaul's Drag Race. “Na época, emagreci 13kg, coloquei mega hair e depilei o corpo inteiro”, recorda. Para os próximos capítulos, o foco tem sido a cultura vogue, movimento símbolo da resistência da população LGBTQIA+ nas décadas de 1980 e 1990. Na segunda temporada, Visky surge de cabelos azuis e ganhará um nova patroa para tratar como musa: Blanche, papel da atriz portuguesa Maria de Medeiros.
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Leia, na íntegra, a entrevista com o ator Rainer Cadete, intérprete de Visky em Verdades Secretas
Como foi retomar o personagem após seis anos? De alguma forma você precisou redescobrir ou mesmo recriar o Visky?
Rainer Cadete - Sim. Já estou bem diferente do Rainer de seis anos atrás, então não teria como eu fazer o mesmo Visky. Precisei mesmo redescobrir o personagem. Na segunda temporada, ele volta com uma trama diferente, com outras histórias e outras questões. Então, já é mesmo um outro personagem. Além disso, também não somos mais os mesmos. Como dizia o filósofo, a gente não mergulha no mesmo rio duas vezes. Estamos em um país diferente, em um mundo diferente…
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Dessa vez, contei muito com aulas de vogue. Fiz durante a quarentena inteira e fiquei apaixonado, já pensando nesse personagem. É uma dança com muita representatividade e foi muito legal entrar em contato com ela para redescobrir o Visky por meio desses movimentos e desse corpo dançante.
A reprise de Verdades Secretas em meio às gravações da nova temporada tem interferido no seu trabalho de alguma forma?
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Rainer Cadete - Com certeza, e de uma maneira positiva. Imagina você poder ver como você era há seis anos? Vejo o Visky e resgato algumas coisas de como ele era. Também vou percebendo como ele amadureceu [na segunda temporada] e agora pensa diferente, tem outros desejos.
O que podemos esperar do Visky na próxima temporada? Ele vai ter algum novo interesse amoroso?
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Rainer Cadete - Estou torcendo para que tenha, mas só assistindo para saber. Não vou dar spoiler, não (risos).
O personagem servia de alívio cômico em uma história muito barra pesada. Você acredita que parte do sucesso do personagem está nesse contraponto?
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Rainer Cadete - O Visky é um personagem que por onde passa tira gargalhadas, e é muito gostoso ver isso de camarote. Ele desperta em mim um tempo cômico que eu não tenho naturalmente. Com ele, eu me sinto mais engraçado, mais alegre. Gosto muito do Visky. Eu o tenho como um amigo, um alter ego, algo bem profundo. Ele me ensina muito sobre liberdade. É um deleite para um ator fazer um personagem como esse, tão bem escrito pelo Walcyr Carrasco. O Visky é muito interessante dentro daquela trama densa e trágica da primeira temporada. Esse contraponto continua acontecendo.
Como foi a preparação para compor esse personagem?
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Rainer Cadete - Foi uma preparação que me fez evoluir muito como ator e entender que era realmente isso que eu queria pra minha vida: a possibilidade de me transformar para chegar perto de um personagem. Na época, emagreci 13kg, coloquei mega hair, depilei o corpo inteiro… Eu me permiti fazer as pazes com meu lado feminino.
Nós homens somos muito estimulados a pensar que o feminino tem um papel secundário, uma grande ilusão criada por essa sociedade patriarcal. Tento falar com meu filho [Pietro, de 14 anos] e estudar para perder esse pensamento, que eu cresci tendo e que só depois consegui ver o mundo com outras perspectivas, o que foi libertador.
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Houve um laboratório, alguma inspiração na vida real, no mundo da moda?
Rainer Cadete - Fui pra Chueca, bairro de Madrid. Estudei com Juan Carlos Corazza, que é o coach do Javier Bardem. Fiquei lá três meses me preparando para a primeira temporada. Depois, voltei ao Brasil e fiz aulas de passarela, de stiletto, que é uma dança em cima do salto alto. Fiquei alucinado assistindo a todas as edições de RuPaul’s Drag Race. Decorei cada fala, cada jeito, cada piadinha, cada humor… Também me inspirei em muitos amigos que são Viskys e que fazem parte da minha vida desde a infância.
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Na primeira temporada, havia uma dobradinha muito interessante sua com a Fanny (Marieta Severo), que sai de cena na continuação. O Visky volta a bater bola com outra personagem, tem uma nova musa?
Rainer Cadete - Tive a felicidade de trabalhar e aprender muito com ela. Agora, ele vai bater bola com várias outras personagens. Tem uma nova proprietária da agência, que é a Blanche, interpretada pela Maria de Medeiros. Será que eu posso falar essas coisas? (risos) Olha você me fazendo dar spoiler... Ela também é uma grande atriz.
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Além dos personagens que entraram, há também os que permaneceram. É muito emocionante contracenar com eles e lembrar de tudo que construímos na primeira temporada. Ontem mesmo eu estava fazendo cenas com a Camila Queiroz (Angel) e fiquei muito emocionado lembrando de toda a história desses personagens e da gente também. São histórias que se permeiam.
Fale sobre sua relação com a música. O que te motivou a investir nesse novo projeto com o álbum Leves e Reflexivas?
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Rainer Cadete - A música foi o que me levou pro palco. A primeira vez em que me apresentei foi cantando numa igreja, ao lado da minha irmã Sandra Valentim. Depois disso, as artes cênicas me absorveram bastante. Cheguei a fazer alguns musicais, mas sempre trabalhei muito mais como ator. Durante a pandemia, tive bastante tempo para pensar o que eu gostaria de fazer e ainda não tinha feito, sonhos ainda não realizados…
Tive webencontros com o Renato Luciano, que é da Barca dos Corações Partidos, uma companhia de teatro que eu adoro. No primeiro encontro, já saiu uma música. No segundo, outra. Quando percebemos, já tínhamos um álbum inteiro. Esse encontro despertou muita inspiração.
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Uma das músicas de destaque é Esse Negócio de ser Macho. Em outros tempos, atores não falavam tão abertamente sobre sexualidade como você tem feito, por medo do preconceito e de perder os papéis na TV.
Rainer Cadete - Esse é um assunto que me interessa muito. A masculinidade não precisa ser obrigatória nem tóxica. Tenho pesquisado e estudado bastante sobre isso: como eu, homem, consigo compor com os movimentos como o feminista e o antirracista. É importante pensar nossas dores e nossos privilégios, e repensar esse lado macho de ser. Essa é uma ditadura que produz tantos casos de feminicídio, de suicídio e outros absurdos.
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Acho interessante poder cantar o que eu quero cantar, o que eu quero falar, sabe? Não é um texto estudado e decorado que eu interpreto. É uma coisa que parte de dentro. Na música, eu posso falar sobre coisas que, como artista, acho importante.
Essa preocupação com a “macheza” está se dissolvendo na sua geração de atores?
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Rainer Cadete - Não sei falar sobre minha geração, mas sei falar sobre mim. Já fiz vários personagens, vários papéis, e eu acho que o ator tem essa magia de poder ser outras pessoas tão diferentes de si mesmo. Esse é o maior barato da minha profissão e foi o que fez eu me apaixonar. Sempre me interessei por esses personagens complexos e continuo me interessando cada vez mais.
Não tenho medo de perder papéis de galã, não. Estamos vivendo em um momento com coisas tão difíceis pelo mundo. Está na hora de a gente deixar de ser careta e pensar no que realmente é importante. Repensar as estruturas, a sociedade, a nossa história como nos foi contada. Desenvolver uma maturidade política, cívica e também consciente sobre o meio ambiente. Estou feliz com o que eu estou vivendo agora. Estou realizado, pleno, muito inspirado e ansioso para dividir tudo isso com vocês.
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Esse Negócio de Ser Macho, parceria entre Rainer Cadete e Renato Luciano, será lançada na próxima sexta-feira, 24 de setembro.
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