Publicado em 21/04/2021 às 06:17:00
A novela Da Cor do Pecado (2004) está de volta no Viva desde a última segunda-feira (19) e vem sofrendo uma série de críticas nas redes sociais por conta da escolha para ser reprisada pelo canal. Mas como o maior fenômeno do século XXI na faixa das 19h se transformou num problema e em "cancelada" da vez pelos internautas?
A postura da trama, que marcou a estreia de João Emanuel Carneiro como autor titular, é tão controversa que fez com que o Viva inaugurasse com ela um crédito ao final dos capítulos lembrando que a obra é uma espécie de fotografia de um tempo diferente com uma sociedade diferente.
Nem isso evitou com que internautas fossem no perfil do canal no Instagram para criticar a decisão da escolha. Para alguns fãs de telenovelas, Da Cor do Pecado apresenta um problema de naturalizar o racismo e a forma como ele era tratado virou um problema para a sociedade.
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"A protagonista chama Preta e todo mundo acha isso normal. O próprio nome da novela dá a entender que a cor da pele da protagonista é a perdição do mocinho", conta Camila dos Anjos, professora, que assistiu a produção na primeira vez, mas se recusa a acompanhar a reprise por conta do que ela chama de "estrutura problemática".
Quem pensa diferente é Roseli Maya, que assistiu uma única vez o folhetim protagonizado por Taís Araújo e por Reynaldo Gianecchini e vem acompanhando a reprise. "A novela é muito boa e tem tudo que eu gosto, todos os elementos estão lá e fiquei feliz com a escolha", confessa.
O NaTelinha conversou com Mauro Tadashi, mestre em Literatura pela UniToledo e que faz testes sobre novelas há muitos anos e ele discorda da afirmação que a novela é racista. "A gente não pode olhar para trás com os olhos das conquistas sociais e as obras de arte precisam ser observadas sob outro prisma", explica.
Para Tadashi, a trama de João Emanuel Carneiro dá protagonismo para uma negra e não comete racismo. "Eu penso o oposto, a novela mostra como uma negra é batalhadora, cria o filho e tem valores que a outra, loira de olhos claros, não tem", lembra.
Sobre o nome da novela, o especialista fala que é uma expressão idiomática que sempre foi utilizado no país e que, de fato, pode parecer racismo. "Mas o racismo é muito mais intencional do que por expressão. No caso da novela não houve nenhuma intenção racista e foi justamente o oposto".
De fato, Da Cor do Pecado marcou a história da dramaturgia brasileira ao colocar Taís Araújo como a primeira atriz negra a protagonizar uma novela da Globo e não faz sequer 20 anos da conquista. "Não se pode jogar fora uma conquista dessas e chamar a novela de racista", diz Mauro defendendo a trama.
Mas ele entende que a sociedade evoluiu e a discussão precisa existir, mas insiste que o radicalismo não traria bons frutos. "Fica parecendo a Inquisição com as pessoas querendo queimar obras de arte, não se pode ser assim".
Mas o início conturbado de Da Cor do Pecado no Viva não reflete necessariamente apenas uma visão antiracista da sociedade. A trama, exibida originalmente em 2004 e que terminou com 43,6 pontos de média, se tornando o maior Ibope do século na faixa das 19h, já sofreu em outras exibições.
Em 2012, a novela de João Emanuel Carneiro foi reprisada na faixa do Vale a Pena Ver de Novo e amargou a audiência de 13,4 pontos, uma das piores da história do horário. E a explicação, segundo Mário, está na estrutura da novela.
"A trama é muito simples, reflete o mundo daquela época. Algumas novelas são atemporais e outras são muito específicas porque agradam a um momento único. Da Cor do Pecado só faria sucesso naquele momento para aquele público porque trata de uma história de amor simples e que não oferece nenhum outro elemento", sentencia.
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