Publicado em 22/09/2020 às 04:30:00
A novela A Força do Querer foi escolhida pela Globo para ocupar a faixa das 21h no lugar de Fina Estampa (2011-2012). O retorno da trama de Glória Perez não é por acaso, já que fez um enorme sucesso em 2017 por conta dos seus temas espinhosos. Com personagens polêmicos, o folhetim repercutiu em todo país e recebeu acusações, como glamourizar o crime e distorcer a rotina de professores de educação física.
A história relata a vida de Bibi Perigosa (Juliana Paes) e foi baseada no livro que conta a trajetória Fabiana Escobar, uma mulher que entra no mundo do crime por causa de uma paixão avassaladora. Se a personagem ganhou a adoração do público, houve políticos que reprovaram a abordagem feita pela autora.
Em Carazinho (RS), os vereadores Daniel Weber, Estevão De Loreno e Márcio Hoppen elaboraram um requerimento de repúdio contra o folhetim, que foi lido na Câmara Municipal. O documento teve repercussão nacional e dividiu opiniões, o que irritou a protagonista da produção.
"Quem diz que a novela está glamourizando o bandido está fazendo uma análise superficial e não está acompanhando a trama. Para fazer uma análise justa de uma história é preciso esperar sua conclusão. Estamos dando ao público uma chance de entender melhor esse universo", disse Paes ao jornal O Globo em julho de 2017.
As críticas em torno de Bibi também incomodaram Glória Perez. A autora avaliou que os ataques feitos contra a produção eram um ato de machismo. “Porque vejo que as mesmas pessoas que querem a guilhotina para a Bibi me escrevem também pedindo para soltar o Sabiá (Jonathan Azevedo). O Sabiá é o chefe do tráfico, a Bibi não matou ninguém. É uma mulher que está deslumbrada, apaixonada. E todos querem o Sabiá na rua e a Bibi presa?”, relatou em entrevista para o Correio Braziliense.
“Comprei o livro dela, queria fazer uma minissérie com esse livro Não acho que seja dar cartaz a uma pessoa, até porque é um livro de uma pessoa que faz uma autocrítica. Achei interessante mostrar esse ponto de vista, que ainda não tinha sido mostrado. O deslumbramento que o tráfico, que esse universo exerce sobre pessoas, existem milhares de Bibis. Então, isso não me incomoda em nada, acho uma maneira pequena de enxergar as coisas”, explicou.
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Ainda sobre machismo, os personagens masculinos foram acusados de terem comportamentos bem violentos contra as mulheres. O maior símbolo disso foi Zeca (Marcos Pigossi), que não aceitava o trabalho de Jeiza (Paolla Oliveira) e se incomodava com a independência dela.
Frequentemente, o personagem era criticado nas redes sociais e criou discussões sobre o comportamento dele. Marcos Pigossi chegou a defender a trama, explicando que era necessário o debate. “A gente está mostrando aí: um cara machista vai perder a mulher que ele tanto ama, tá vendo? As pessoas estão vendo que, que realmente, não tem mais lugar para machismo mais na sociedade atual”, afirmou em entrevista ao portal de notícias da Globo em outubro de 2017.
“E, de repente, ele está sofrendo, porque ideologicamente não consegue ter essa mulher para ele, porque os objetivos são completamente diferentes, as crenças são diferentes. Ele quer uma mulher de um jeito, e ela tem os sonhos e objetivos dela. Está na hora de ele reposicionar, de ele reaprender, de entender como é que o mundo funciona, né? É também uma denúncia – e acho que ela é superconstrutiva”, ressaltou.
Ivana (Carol Duarte) é considerada uma das figuras mais emblemáticas da produção e ela resultou em diversas polêmicas. Uma delas acabou sendo a nota de repúdio que professores de educação física enviaram para a Globo por conta de uma cena escrita por Glória Perez.
Ivana resolveu tomar hormônios masculinos e recorreu a um professor, o que é proibido. Tal acontecimento irritou o Conselho Regional de Educação Física de Brasília e soltou um comunicado criticando a Globo em agosto de 2017.
“A conduta representada na obra viola as diretrizes norteadoras do exercício da Profissão de Educação Física, que pauta-se pela preservação da saúde, respeito à vida, à dignidade e à integridade do indivíduo, bem como responsabilidade social, em todas as suas intervenções”, afirmou.
“O estereótipo de ‘profissional’ mostrado neste episódio deve ser enfatizado como um comportamento de exceção, não comum, e desta forma deve ser tratado, devendo-se evidenciar o erro de conduta para o qual esperamos um desdobramento de punição ao personagem”, completou.
A história de Ivana emocionou o Brasil, mas sua transformação irritou algumas camadas da sociedade brasileira. O deputado estadual e pastor Sargento Isidório não poupou ataques a novela de Glória Perez e detonou a forma em que o folhetim estava sendo conduzido.
“A Rede Globo está virando escola de roubo. Está se especializando nisso. Está se especializando em destruir a família. Pense em uma rede de televisão que está agindo como alguém que está emprestada ao inferno para destruir as famílias? É a Rede Globo”, disparou o religioso na época.
“A Rede Globo só tem cena de prostituição, de homossexualismo [sic]. Não tenho nada contra as pessoas do homossexualismo [sic]. Agora tem que ter os seus locais. É marido traindo mulher, filhos batendo na cara de mãe, pais puxando arma para filhos”, acrescentou.
Na ocasião, a Globo dedicou boa parte da sua programação para debater o assunto. O Fantástico, por exemplo, fez uma série de reportagens sobre o tema chamado Quem Sou Eu?. As matérias serviram para explicar detalhadamente como funciona a mente de uma pessoa trans.
Glória Perez até comentou que o país vivia em um período em que tudo estava se transformando em polêmica. “Estamos vivendo uma época em que tudo se polemiza. Você vê que até essa história da Bibi é polemizada. Amanhã, se você for fazer Lampião e Maria Bonita, vai aparecer quem diga que está fazendo elogio do cangaço. As pessoas têm o microfone na mão e precisam dizer qualquer coisa, querem ter opinião. A gente vive essa época, todo mundo tem uma opinião e quer impor a opinião. Então, vão tentar criar polêmicas sempre”, concluiu ao Correio Braziliense.
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