Publicado em 04/01/2020 às 08:09:46
A Globo passa por sua maior reestruturação na dramaturgia, considerada um dos pilares da emissora carioca. Com a demissão de Aguinaldo Silva, ele se juntou a outros autores consagrados que fizeram o canal se tornar um dos maiores produtores de telenovelas do mundo, principalmente entre os anos 80 e 90.
O anúncio de que Aguinaldo Silva não continuaria no casting de novelistas da Globo pegou muita gente de surpresa, mas faz parte de um processo iniciado pela gestão Silvio de Abreu que vem se livrando dos medalhões com idade avançada, além de deter altos salários que vão contra a nova política da casa.
Embora nem todos tenham sido dispensados, o departamento de dramaturgia vem usando basicamente o mesmo modus operandis quando se trata de autores que formaram toda uma geração de telespectadores do gênero.
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A começar por Antônio Calmon. Ainda que o dono de obras célebres como Vamp (1991) e Top Model (1989) não tenha sido obrigatoriamente afastado na gestão de Silvio de Abreu, foi nela que o novelista símbolo da geração anos 90 que criou a “vampiromania” perdeu o emprego.
O último trabalho de Calmon na Globo foi em 2008 com Três Irmãs e, depois disso, amargou basicamente 10 anos de geladeira na emissora carioca enquanto tentava aprovar uma novela. Quando Silvio de Abreu assumiu, ele bem que conseguiu emplacar uma sinopse, que logo foi cancelada. No ano passado, a Globo confirmou que o contrato do autor acabou e não foi renovado.
Quem também foi impedido de levar novos projetos ao ar foi Manoel Carlos. Responsável por grandes crônicas como Laços de Família (2000) e Por Amor (1997), o novelista se despediu do público com Em Família (2014). Apesar de ter dito que continuaria trabalhando, mas em minisséries e obras para o horário das 23h, o octagenário autor não conseguiu ver nenhuma das suas histórias no ar.
O mesmo vale para Benedito Ruy Barbosa. Depois de passar muitos anos fora do ar na emissora, o autor de obras icônicas como O Rei do Gado (1995) e Terra Nostra (1999) conseguiu emplacar duas obras nesta década. Em 2014, ele escreveu o remake de Meu Pedacinho de Chão e, mais recentemente assinou Velho Chico (2016). O novelista chegou a apresentar a sinopse de Arroz de Palma, mas sequer foi colocado na fila da faixa das 18h.
Vale lembrar que Benedito aprovou Velho Chico na marra. O antigo diretor de dramaturgia da Globo não havia aprovado o projeto assim como Silvio de Abreu, mas o autor mostrou a sinopse diretamente para a família Marinho e conseguiu entrar na fila, o que teria desagradado a cúpula de dramaturgia do canal.
Há também Walther Negrão, que anunciou no ano passado sua aposentadoria, depois de não ter novos projetos aprovados na emissora. Responsável por novelas como Fera Radical (1988) e Tropicaliente (1994), se despediu do ar em 2016 com Sol Nascente.
Vale lembrar que a gestão Silvio de Abreu chegou a contratar Lauro César Muniz após o desligamento do novelista da Record, onde ele estava desde 2003. Na Globo, Lauro César escreveu obras icônicas como O Salvador da Pátria (1989), O Casarão (1976) e Roda de Fogo (1986). No retorno à Globo, permaneceu na emissora por um ano sem conseguir emplacar nenhum projeto.
Carlos Lombardi foi outro autor consagrado que não teve espaço na emissora depois de sua saída. Ele apresentou uma história que tinha como pano de fundo o universo do futebol, mas seu projeto teria sido cancelado pelo diretor de dramaturgia depois de ter ganhado aval para ser produzido.
Muita gente comentou que a Globo apresentou uma nota curta à imprensa para tratar do rompimento do contrato com Aguinaldo Silva. Ainda assim, ele pode ser considerado um privilegiado, já que não é a estratégia que a emissora costuma adotar com autores.
Na saída de todos os citados, a Globo não anunciou o desligamento, mesmo sendo medalhões. Vale lembrar, no entanto, que o anúncio de aposentadoria de profissionais de outras áreas, como Sérgio Chapelin, ganhou notas muito mais robustas.
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