“Hoje prefiro trabalhar em projetos menores e mais diversificados. O streaming está aí para nos proporcionar isso.”
Ana Maria Moretzsohn
Publicado em 20/03/2024 às 05:00:00,
atualizado em 20/03/2024 às 09:39:33
A sala de aula, seja no formato presencial ou on-line, tem sido o cenário das novas histórias a que veteranos autores de novelas se dedicam. Alguns deles, além de seguirem na ativa com projetos além dos folhetins da TV, encontraram nos cursos de roteiro um novo ofício.
Coautora de clássicos da TV, como Tieta (1989) e Pedra sobre Pedra (1992) – assinadas com Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares –, Ana Maria Moretzsohn se dedica a dar aulas pelo Brasil já há algum tempo. A ocupação se consolidou no período da pandemia da Covid-19.
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“Não havia procura para roteiros, uma vez que gravar estava muito difícil. Minha filha, Patrícia Moretzsohn [que também é roteirista], então sugeriu que eu desse cursos on-line”, conta Ana Maria. “Concordei porque seria bom ter um escape daquela sensação de aprisionamento da pandemia.”
A experiência foi enriquecedora, segundo a roteirista. “Adorei e não parei mais. O contato com jovens é uma troca extraordinária. Depois do curso, mantemos amizade e companheirismo.”
Na Globo, como autora principal, Ana Maria fez Esplendor (2000), Estrela-Guia (2001), Sabor da Paixão (2002) e Malhação: Casa Cheia (2013), seu último trabalho em novelas. Entre os anos 1990 e 2000, também teve criações exibidas na Band e na Record.
Voltar para as novelas não está nos planos da veterana. “Fui e ainda sou completamente apaixonada por esse ofício. Só que já estou em outra fase de vida, e novelas como as que fiz tinham cerca de 180 capítulos. Isso demanda extensa carga horária, para serem feitas com qualidade.”
“Hoje prefiro trabalhar em projetos menores e mais diversificados. O streaming está aí para nos proporcionar isso.”
Ana Maria Moretzsohn
“Além disso, há muita gente mais jovem, cheia de energia, que está aparecendo agora. Vários alunos meus desejam escrever novelas. Desejo a todos muito sucesso e me esmero na formação deles nos cursos que dou”, destaca a escritora.
Ela não acredita que exista uma desvalorização dos autores veteranos no mercado. “Com a chegada do streaming, entendemos que podemos continuar a exercer a profissão que amamos, tendo uma carga mais leve de trabalho.”
“Sem autores, a TV aberta ou fechada assim como o streaming nada mais são do que um aparelho cheio de chuvisco.”
Ana Maria Moretzsohncontinua depois da publicidade
Além do trabalho como professora – ela e a filha Patrícia preparam um novo curso para o segundo semestre –, Ana Maria segue com vários projetos como roteirista, entre filmes e séries que contemplam suspense, melodrama adulto e infantojuvenis.
“Infelizmente, não posso contar nada específico sobre os projetos, por conta de cláusulas de sigilo, mas estou muito feliz porque posso trabalhar com gêneros variados e mais curtos.”
Uma masterclass da produtora Diosual reúne um time de veteranos. Entre eles estão Carlos Lombardi, de Quatro por Quatro (1994) e Kubanacan (2003), entre outras tramas que marcaram a faixa das 19h; Paula Richard, de O Rico e Lázaro (2017) e Jesus (2018), ambas na Record; e Marcílio Moraes, de Roda de Fogo (1986), Vidas Opostas (2006) e outros sucessos.
Solange Castro Neves também integra o grupo de professores. Ela foi colaborada de Ivani Ribeiro em vários trabalhos, incluindo dois fenômenos: Mulheres de Areia (1993) e A Viagem (1994). No curso, aborda desde a ideia de um roteiro até sua criação.
“Resolvi dar aula de roteiro atendendo a pedidos de colegas quando fiz o curso de cinema e TV na FAAP. Duas vezes por ano, gosto da troca que tenho com a turma pois, na vivência, eu me reciclo e também aprendo muito”, diz Solange.
Ela explica sobre as aulas: “Os alunos saem sabendo como e onde comercializar o seu projeto, e na última aula terão a oportunidade de apresentarem seus trabalhos para profissionais envolvidos no meio. São pessoas que, de alguma forma, já estão envolvidas na escrita e têm o sonho de se tornarem escritores roteiristas.”
Solange segue com planos na TV aberta. “Tenho duas sinopses de novelas sendo avaliadas. Aprendi a carpintaria de uma novela com dois grandes mestres, Ivani Ribeiro e Cassiano Gabus Mendes, e, apesar de toda a loucura que é escrever seis capítulos por semana, é um universo que me fascina.”
Há ainda duas séries em andamento, uma delas já em negociações com uma plataforma de streaming. Solange também está envolvida em projetos no teatro, como um musical baseado na novela A Viagem, clássico que, inclusive, ganhará nova reprise no Canal Viva em abril.
“Estou muito feliz com esse musical. Fiz a adaptação para o teatro, e o espetáculo fará estreia no ano que vem, no segundo semestre. Tenho também uma peça que está sendo ensaiada por Eduardo Martini e elenco, que deve estrear ainda este ano.”
Ela também não vê uma desvalorização dos veteranos. Contudo, reconhece que o mercado é bem diferente do de alguns anos atrás, com o surgimento de novos nomes, plataformas e modelos de contrato.
“Acredito que estamos em época de mudanças. Hoje, o escritor é contratado por obra e o mercado é restrito. Entretanto, um bom projeto tem sempre a chance de ser realizado.”
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