Publicado em 27/10/2021 às 05:35:00, atualizado em 27/10/2021 às 09:49:29
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Marcos Caruso está completando 20 anos de Globo. Um pequeno papel em Presença de Anita abriu as portas da emissora ao já consagrado ator de teatro na época e ele não parou mais de atuar na empresa. A nova novela das sete, Quanto Mais Vida, Melhor, com estreia prevista para novembro, é o décima terceiro folhetim na casa e Caruso está empolgado com a trama de Mauro Wilson.
“Quando você tem personagens consistentes, personagens com os quais o público se identifica pela sua humanidade e pela verdade que como eles agem e sentem, você pode dar cambalhotas em uma situação proposta pelo autor de comédia e até beirar o melodrama porque você tem personagens fortes. Para mim essa é a principal característica dessa novela. São personagens incríveis, humanos e forte e, evidentemente, a trama é salpicada de muito humor, sentimento, reflexão e ação”, explica ao NaTelinha.
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Quanto Mais Vida, Melhor entra no ar toda gravada. Para Caruso, esse não é o futuro da televisão, mas o presente: "Não pode colocar no ar uma novela aberta porque a qualquer momento alguém pode se infectar ou ter que sair para ficar em quarentena e isso prejudica o andamento de todo o processo. O futuro da novela é a novela como sempre foi feita e é assim que ela funciona". Atualmente, Caruso está no ar na reprise de Pega Pega, como Pedrinho.
Marcos Caruso diz que acredita em reencarnação, sai do sério com falta de pontualidade, usou a pandemia a favor da produtividade e até escreveu uma peça para estrear em 2023. Aos 70 anos, ele admite que não tem problemas com a comédia ou drama ou qualquer outro tipo de gêneros de interpretação.
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“Estou sempre à vontade com qualquer personagem. Eu gosto muito de atuar, de interpretar e de fazer o que eu não sei fazer”, diz o ator que também opina sobre a polêmica do artista se posicionar sempre nos assuntos relevantes da sociedade. “Ele não tem o dever como pessoa física, mas ele como um ser político tem o dever de se posicionar através de sua arte, sim.”
Confira a entrevista completa com Marcos Caruso:
Osvaldo de Quanto Mais Vida, Melhor é um personagem leve, divertido e a sensação que nos dá é que você fica mais à vontade com esse tipo de personagem do que Sostenes de O Sétimo Guardião. É isso ou estou enganada?
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Marcos Caruso - Estou sempre à vontade com qualquer personagem. Eu gosto muito de atuar, de interpretar e de fazer o que eu não sei fazer. Então, eu estou sempre muito à vontade e o Sostenes era um velhinho, eu estou com 70 anos e o fiz quando estava com 68 anos, e ele tinha mais, era um homem arcado e de composição física que me deixou muito à vontade quando eu encontrei o espaço correto e foi assim a novela inteira. Eu não tenho problemas como comédia ou drama ou qualquer outro tipo de gênero de interpretação. Eu gosto de fazer o que eu não sei. Eu fiquei muito feliz em fazer o Sostenes da mesma maneira que eu estou feliz em fazer o Osvaldo.
Como é para um ator que sempre trabalhou em novelas, onde o público conversava com a trama e, hoje, por conta da pandemia, as produções estão sendo todas gravadas? Acha que isso vai ser o futuro das novelas?
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Eu não acho que uma novela totalmente gravada indo para o ar seja o futuro das novelas. É o presente. É o momento presente das novelas que estamos vivendo. Nós só podemos fazer dessa forma na medida que você não pode colocar no ar uma novela aberta porque a qualquer momento alguém pode se infectar ou ter que sair para ficar em quarentena e isso prejudica o andamento de todo o processo. O futuro da novela é a novela como sempre foi feita e é assim que ela funciona. Funciona como uma obra aberta, que pode ser comentada e corrigida durante o ‘ fazer’. A novela como está sendo feita é apenas o presente.
Marcos Caruso
Ator experiente tem feeling para saber o que pode pegar o telespectador. O que acha que Quanto mais vida, Melhor tem para conquistar o público exigente das 19h?
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Marcos Caruso - A despeito da trama começar com uma situação surreal, que são as mortes dos quatro protagonistas... A novela é calcada em situações extremamente verossímeis, humanas e verdadeiras e eu acho que essas são as bases para qualquer salto que vê dê seja para o humor, seja para o drama. Quando você tem personagens consistentes, personagens com os quais o público se identifica pela sua humanidade e pela verdade que como eles agem e sentem, você pode dar cambalhotas em uma situação proposta pelo autor de comédia e até beirar o melodrama porque você tem personagens forte. Para mim essa é a principal característica dessa novela. São personagens incríveis, humanos e forte e, evidentemente, a trama é salpicada de muito humor, sentimento, reflexão e ação. Acho que a novela tem todos os ingredientes do público exigentes das 19h se apegar a trama.
Fala um pouco sobre o Osvaldo.
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Marcos Caruso -Osvaldo é um homem meio agregado a família do Neném (Vladimir Brichta) e é apaixonado por Nedda (Elizabeth Savalla), há mais de 40 anos. Ele nunca teve coragem de se declarar, é solteiro e é um homem que tem seus namorinhos, mas a grande paixão é a Nedda. Ao mesmo tempo, ele é um protetor e o responsável pela carreira do Neném no futebol. É uma pessoa muito querida na casa da Nedda e do Neném, mas é muito solitário. Um homem bom e tímido porque com 70 anos de idade não ter conseguido se declarar a grande paixão denota uma certa timidez. Timidez vista até como cômica e por isso eu diria que é personagem carismático.
Você é um homem religioso? Acredita em reencarnação, segunda chance...
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Marcos Caruso - Eu acredito em reencarnação. Sigo a filosofia espírita e sou religioso na medida que eu converso com um Deus maior que eu sei que existe, que nos trouxe até aqui e vai nos tirar para uma vida melhor e deveremos voltar. Eu espero que volte e brevemente. Não quero ir embora para sempre, não.
Os atores sempre falam que todo personagem é querido, mas sempre tem um preferido. Qual é o seu?
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Marcos Caruso - Todo o personagem é querido porque nós, atores, colocamos um pouco de nós neles ou muito de nós neles. Nós fazemos sempre os personagens sendo nós nas situações deles, então nós colocamos as nossas experiências, ferramentas e elas são adquiridas de dentro pra fora. Os personagens são muito queridos e ficam em nós muito deles também. Eu não tenho um preferido. Existe aquele que o público mais gostou ou mais aplaudiu e aí eu posso dizer que o Leleco, de Avenida Brasil, é um personagem muito querido por mim e também o Patácio Peixoto, de Cordel Encantado, que eu amei ter feito.
Tem o Alex, de Páginas da Vida, que eu ganhei prêmios com ele, e o Seu Peru na homenagem ao Orlando Drummond na ‘Escolinha do Professor Raimundo. O que eu prefiro não é fazer um personagem, eu prefiro é ter esse dom que eu recebi de poder modificar. Eu tenho absoluta certeza que eu não faço um personagem igual ao outro. O Padre Inácio, de Desejo Probido, e diametralmente o oposto ao Sosténes, de O Sétimo Guardião, apesar de dois ser velhinhos. Eu mudo a voz, a composição física, a maneira de levantar e de sentar porque eu tenho uma facilidade muito grande de composição corporal e também de caracterização. O que eu prefiro exatamente isso: fazer um novo personagem o mais diferente possível do último.
O que te irrita em um grau master?
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Marcos Caruso - A falta de pontualidade. A falta de pontualidade acrescida à falta de respeito, a falta de fraternidade com o que as pessoas agem me deixam profundamente irritado. E você desrespeita o próximo como passar à frente em uma fila ou quando você está falando com um vendedor e a pessoa de trás pergunta se tem o produto. Me irrita. Me irrita o desrespeito pelo próximo.
O que fez na durante a pandemia? Ficou neurótico?
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Não fiquei neurótico nem um pouco. Eu aproveitei, como muitas pessoas, para limpar das coisas desnecessárias materiais da casa e do escritório. Aproveitei também para fazer uma limpeza no espírito e na alma vendo os erros e os defeitos. Fui vendo onde eu poderia melhorar, onde eu poderia abrir espaços para outras coisas e não só no guarda-roupa ou gavetas, mas dentro de mim. Li muito, vi muitas séries que estavam atrasadas, vi filmes e escrevi para teatro. Escrevi uma peça que deve estrear no teatro em 2023. A pandemia foi muito produtiva pra mim.
Marcos Caruso
A cultura foi um dos setores que mais sofreram com a pandemia. Na verdade, já vem sofrendo há um tempo. Na sua opinião, falta união ou vontade na classe artística?
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Marcos Caruso - Absolutamente não faltam união e vontade na classe artística. O que mais temos é vontade de trabalhar e o que mais temos é união em torno daquilo que desejamos fazer que é levar para o público que a emoção, o riso e a reflexão. Nesse sentido, nós sofremos muito porque não podemos levar e a própria televisão com todo o esquema maravilhoso e absolutamente impecável de protocolos não conseguiu fazer novelas inéditas e partiu para as reprises.
O teatro conseguiu sobreviver com as peças on-line. Não é teatro, é uma experiência teatral, mas mesmo assim as pessoas tentaram sobreviver. Foi muito difícil para nós, que essa frase já foi usada várias vezes, mas ela é real e verdadeira, fomos os primeiros a pararem e seremos os últimos a voltarem.
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Não foi só no Brasil, não. Foi no mundo inteiro, só que lá fora existem subsídios e formar para protelar os projetos e aqui a coisa está muito difícil com esse governo, qualquer coisa com a cultura e o que é uma pena.
A cultura é a base de tudo, a cultura é a base de todos os outros ministérios, Se houvesse um pouco mais de cultura do não desperdício e da ética humana, você teria menos problemas no ministério da Justiça e da economia. Se tivesse mais cultura pela economia de luz e de água, você teria menos problemas no ministério das Minas e Energia e por aí vai. Só que não temos um ministério da Cultura e nesse governo não dá a importância que a Cultura tem para o país. Cultura não é só cultuar, ir ao teatro apenas, ir ao museu apenas. Cultura é cultivar bons hábitos e nós não temos cultivados bons hábitos nesse sentido. A cultura sofreu muito. A cultura sofreu como poucas vezes na história desse país. Sofreu e está sofrendo. Então, eu tenho muito respeito aos artistas que sobreviveram a essa pandemia e continuam na resistência da sua arte.
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Marcos Caruso
Eles estão voltando com a graça de Deus e com a graça da nossa força de acreditar e de união em torno do nosso maior objetivo que é fazer o nosso semelhante refletir, rir e se emocionar.
O ator tem que se posicionar sempre nos assuntos relevantes da sociedade?
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Marcos Caruso - Ele não tem o dever como pessoa física, mas ele como um ser político tem o dever de se posicionar através de sua arte, sim. Eu acho que sim. Ele pode ou não, quere ou não e se sentir confortável ou não de se posicionar como pessoa física em relação as mazelas da sociedade, mas como artista ele tem que ter um posicionamento. Não é um posicionamento de direita ou de esquerda. É um posicionamento de um Ser politico. Eu sempre me posicionei através das peças teatrais que escrevi, dirigi e atuei, através das novelas que eu atuei, dos roteiros que escrevi. Este é um dever do artista como artista agora como ser humano com CPG e RG, ele tem o direito de se omitir. Como artista, eu acho que não.
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