Publicado em 25/08/2021 às 17:10:25
A revista Piauí publicou um texto nesta quarta-feira (25) afirmando que sofreu censura de Marcius Melhem, que conseguiu na Justiça um documento que proíbe uma nova reportagem sobre o caso envolvendo o humorista, acusado de assediar sexualmente pelo menos oito mulheres. O ex-redator da Globo e ex-chefe do departamento de humor da emissora postou uma série de tuites se defendendo e negando que tenha censurado a revista. "É mentirosa e covarde a afirmação de que pedi que a revista Piauí fosse censurada! Mais uma vez João Batista Júnior usa de mentiras pra tentar comprovar sua tese de que sou um assediador. Mentiu na primeira matéria e mente de novo!", escreveu Melhem, que continuou dizendo que algumas das provas já vieram à público e foram cobertas amplamente pela imprensa.
"João Batista Júnior procurou minha assessoria dizendo fazer matéria sobre os 'desdobramentos jurídicos' do caso. Ficou clara a má fé, porque se ele se diz acompanhando o caso, por que não deu uma linha sobre os seis processos jurídicos que abri após a primeira matéria da Piauí? Se a Piauí é tão a favor que o público saiba de tudo, tão defensora da transparência, porque pediu segredo de justiça no processo que movi contra ela? Por que alegou que era necessário defender as vítimas naquele processo e quer vazar a investigação (ainda não há ação penal) quando o réu é aquele que a acusou?", questionou.
Marcius continuou dizendo que a investigação aberta no Ministério Público corre sob sigilo judicial e, por isso, não pode comentar sobre nenhum detalhe das investigações. "Para tornar tudo mais fácil para João Batista mentir à vontade, ainda não está no momento da minha defesa. Ou seja, ele quer vazar uma investigação que – nesse momento – só tem acusação. E me manda perguntas que a justiça me proíbe de responder. Tem como a cilada ficar mais clara? Duvido que se lá estivessem as minhas respostas e provas João Batista publicaria nova matéria", completou.
De acordo com o texto assinado pelo repórter João Batista Jr, a revista está proibida de publicar a reportagem desde o dia 12 de agosto e, em caso de descumprimento da medida judicial, "a juíza estabeleceu multa de R$ 500 mil, além do recolhimento dos exemplares da revista nas bancas e da remoção da reportagem do seu site. Também mandou investigar o vazamento. No direito criminal, a guarda de sigilo judicial cabe aos funcionários da Justiça e às partes envolvidas no processo, e não aos jornalistas".
O jornalista diz que ouviu 43 pessoas para desenvolver a primeira matéria, publicada em dezembro do ano passado, entre elas, duas vítimas de assédio sexual, sete vítimas de assédio moral e três vítimas dos dois tipos de assédio, o sexual e o moral. O depoimento mais chocante foi o da atriz Dani Calabresa, que afirma ter sofrido assédio do antigo chefe durante uma festa, que tentou beijá-la à força.
Melhem processou a Piauí logo após a primeira matéria, acusando a revista de fazer uma reportagem mentirosa e tendenciosa. O juiz Eduardo Tobias de Aguiar Moeller, da 2ª Vara Cível do Foro Regional de Pinheiros, em São Paulo, julgou que a demanda não procedia e o humorista está recorrendo da decisão.
Marcius disse no Twitter nesta tarde que em nenhum momento seus advogados pediram censura à revista. "Pedimos mais tempo de resposta para consultar o que poderíamos dizer à revista. Sendo assim, comunicamos o vazamento à Juíza do caso (que era nosso dever) e pedimos que ela instaurasse inquérito para apurar este vazamento. E pedimos que em nome da ampla defesa a Juíza permitisse que eu usasse mensagens trocadas com as supostas vítimas para me defender na opinião pública – já que hoje estou proibido de mostrar qualquer prova. No mais, que a Juíza tomasse as medidas que julgasse cabíveis. A Juíza tomou as medidas de preservação do sigilo que julgou necessárias e manteve nossa proibição de divulgar mensagens e provas. Ou seja: sequer posso me defender publicamente!", escreveu Melhem.
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O repórter da Piauí contou que enviou seis perguntas para Marcius através de sua assessoria de imprensa e que a mesma pediu um prazo maior para respondê-las. "Enquanto negociava mais tempo para responder à Piauí, Marcius Melhem, por meio de seus advogados, entrou na Justiça pedindo que a revista fosse submetida à censura prévia e, assim, impedida de publicar a reportagem em apuração", escreveu o jornalista.
Marcius Melhem questiona o pedido de sigilo da publicação na Justiça. "Eu não pedi segredo de justiça em NENHUM processo! Dani Calabresa e Piauí pediram. Eu quero transparência na justiça e na opinião pública. Por mim este processo não teria segredo de Justiça. Por mim seria aberto a qualquer jornalista: aos imparciais e ao João Batista", disse ele.
Em fevereiro deste ano, Dani Calabresa revelou que foi “muito dolorido” o caso Marcius Melhem em sua vida, mas deixou claro que entrou na Justiça para que o problema fosse solucionado. Ela relatou que demorou um tempo para compreender o que estava acontecendo e que sofreu com toda a situação. A apresentadora deixou claro que está menos rancorosa e buscando maior tranquilidade.
“O que posso falar desse assunto, que é muito dolorido e íntimo, é que quis tomar as medidas cabíveis. Fui no compliance da empresa, falei e esperei eles tomarem a decisão que tomaram. O que posso falar é que fui na ouvidoria do Ministério Público. Então, agora, está em segredo de Justiça”, afirmou em entrevista ao jornal O Globo.
Acusado de assédio sexual por Dani Calabresa, Marcius Melhem encaminhou uma notificação extrajudicial, em dezembro passado, à consultoria Bastet, que tem como sócias a advogada Mayra Cotta e a cientista política e ativista Manoela Miklos, solicitando que seja suspenso o uso de seu nome para fazer publicidade de seus serviços.
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