Por que nada na Netflix Brasil repercute?

A Netflix tem muito o que comemorar no Brasil, mas não quando se trata a produção nacional de conteúdo original da plataforma. Quanto mais ganha assinantes, menos o serviço parece conseguir repercutir e atingir os telespectadores brasileiros com as séries nacionais. Não importa o que é produzido e colocado no catálogo, se tem o selo de brasileira é solenemente ignorada.

Num momento em que a plataforma lançou séries como Todo Dia a Mesma Noite, lançada recentemente e quando o país todo está discutindo os 10 anos da tragédia da Boa Kiss, nem assim consegue repercutir. Embora a produção tenha causado certa comoção e até comentários, tudo não passou das redes sociais e ficou longe de fugir da bolha de quem é costumeiramente fã do formato.

A Netflix tem mais de 20 milhões de assinantes no Brasil, mesmo com a pequena queda ao longo de parte de 2022, mas acumula fracassos e cancelamentos. Recentemente o serviço cancelou Maldivas, uma de suas grandes apostas e com elenco estelar, justamente porque não teve a audiência esperada. Este é só um case que mostra como as produções nacionais fracassam todos os dias no streaming.

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Num país em que a Globo domina a dramaturgia, atingindo 100 milhões de pessoas por dia, alcançar um público de 20 milhões é relevante. Acontece que basicamente nenhum produto nacional chega a sequer 10% dos assinantes da Netflix no país, o que mostra que não há qualquer interesse nos produtos. A verdade é tão nua e crua que a empresa até diminuiu consideravelmente o investimento no Brasil, mesmo sendo o segundo maior mercado do mundo, atrás apenas dos EUA, viu a Coréia e outros países produzirem mais.

Mas como uma plataforma capaz de criar fenômenos de audiência no mundo todo, como La Casa de Papel, Stranger Things e até Better Call Saul não funciona no Brasil? E não se trata apenas de fenômenos pops, já que a empresa acumula sucessos de crítica, como The Crown e Disque Amiga para Matar.

Se a Netflix tem uma visão de sucesso global, como aconteceu com Round 6, no Brasil a visão da direção é artificial. A empresa acumula aprovações de séries que não são dramaturgia, mas teses de doutorado em sociologia. Autores incapazes de criar conflito, porém prontos para apontar e defender causas se acumulam. Para o sucesso falta o básico: dramaturgia de qualidade.

Enquanto a empresa investir na forma ao invés do conteúdo, na lacralândia ao invés do conflito, ela jamais sairá da bolha minúscula das redes sociais. Não veremos tão cedo séries na boca do povo porque não há o que se comentar na rua. A esperança é a última que morre, mas já está morrendo.