Publicado em 26/06/2023 às 11:26:02, atualizado em 27/06/2023 às 17:36:18
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Sempre que vem à mente o nome Balanço Geral, lembramos de um dos mais famosos bordões da televisão brasileira: “Balança Brasil”, criado pelo apresentador Geraldo Luís lá pelo começo dos anos 2000.
Geraldo Luís ficou na Record por 16 anos e apresentou diversos programas ao longo da sua carreira na emissora, como o BG e o Domingo Show, que deixou a emissora em primeiro lugar por cinco anos e dois meses.
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No início de maio, uma notícia pegou o público de surpresa: o veterano apresentador de 52 anos, que chegou a ser um campeão de audiência, havia sido colocado para fazer matérias de madrugada, posto que quem conhece televisão sabe que é dado a jornalistas e repórteres mais iniciantes.
Atendendo a nossa ligação, Geraldo Luís falou com exclusividade ao NaTelinha, por cerca de uma hora, e contou muitos detalhes da sua carreira na Record e, sem filtros, aos poucos, foi desabafando sobre os bastidores da sua demissão e tudo pelo que ele passou na emissora nos últimos anos.
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Confira a entrevista de Geraldo Luís:
Geraldo, tudo bem? Como foi essa sua saída da Record?
Geraldo Luís - São necessidades e ciclos. Meu contrato venceria só em setembro do ano que vem, mas fizemos um acordo tranquilo, um acordo cordial, então, seguimos as nossas vidas, entendeu?
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Essa resposta não me convenceu... Mas vamos lá: Você ficou quanto tempo na Record? Todos sabem que você fez muito sucesso. Você deu muita audiência pra essa emissora...
Geraldo Luís - Eu entrei em 2007...É uma vida inteira, né?
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E você fez muito sucesso. Deu muita audiência para a Record.
Geraldo Luís - Nem me fala. Não sei se você sabe, eu moro sozinho com meu filho e ele é a minha agenda que anotava tudo, de todas as pautas, a audiência de cada uma. Daí, ele pegou esse meu caderno de anotações do Domingo Show e minha nossa! Dri do céu! Tem coisa que você nem se lembra. A gente acaba esquecendo porque para quem trabalha tanto, tem coisa que você não se lembra mesmo.
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Daí meu filho pegou esse caderno e falou: “Pai, essa matéria aqui olha”. Ele anotava tudo, matéria por matéria, das irmãs nordestinas do Piauí: tantos pontos... Foi muita coisa... Só de Domingo Show - direto - deixando a Record em primeiro lugar, foram 5 anos e 2 meses. É muita coisa, muito mesmo, mais Balanço Geral. Foi uma vida lá dentro.
Eu sou assim como pessoa: eu tenho espiritualmente para mim. Se eu tive uma relação com você e vice-versa e eu não fui legal com você não foi legal comigo, eu quero pegar o melhor seu, da nossa amizade e do que a gente viveu.
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Então, eu pego o melhor daquilo que eu fiz, daquilo que eu sei que eu fiz e vou sair pela porta frente e sair com a porta aberta. Porque eu não visto só a camisa, eu tenho essa coisa de intensidade demais dentro de mim. E eu queria ter feito mais, obviamente, eu tinha apresentado outros projetos. Mas, tem gente em televisão que é parasita assim como deve ter em redação. Mas na TV tem.
Eu acho o seguinte: só estou ligando para você porque eu senti energia boa contigo, tá? Porque é difícil falar com gente, hoje para confiar está muito difícil, sabe?
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O que se passou?
Geraldo Luís - Nossa, Deus do céu! Nesse momento, então, eu me resguardando tanto, tanto... Olha, eu venho de uma leva de gente de televisão mesmo, profissional de televisão de verdade, onde haviam pessoas que respiravam televisão e faziam televisão popular, bem próximo do povo.
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Hoje a televisão está órfã. Hoje é uma televisão carente. A televisão hoje tem vergonha de fazer televisão para o povo. Por isso que a internet ganhou tanto espaço. Hoje o povo consegue se ver mais com o celular na mão do que com a televisão.
Conseguir manter um telespectador hoje, por horas, na frente da televisão, é um prêmio. É como se você recebesse um troféu. Como se ganhasse um campeonato porque a pessoa ficou uma hora lá assistindo na televisão. Isso aconteceu porque a televisão se distanciou da realidade do povo. Hoje tem diretores que não pensam em fazer programas pro telespectador, pro povo.... É tudo meio uma forma pronta. Não estou defendendo só o meu não!
Eu falava muito disso com o Gugu: a gente não pode perder essa essência de fazer televisão, a gente tem não tem que ter vergonha de fazer televisão popular. Hoje a televisão tem vergonha de fazer televisão pra eles. Mas a gente não pode perder essa essência. E ele tinha razão. Você entende agora porque eu passei a ser persona non grata?
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Você acha que a TV hoje tem uma preguiça?
Geraldo Luís - A televisão hoje tem preguiça de trabalhar para o telespectador, na questão da criatividade. Mas a criatividade que eu estou falando é naquela questão simples, porque você produzir algo com R$ 10 milhões é fácil. Quero ver fazer com pouco recurso e muita criatividade.
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Concordo. Com 10 milhões não precisa ser nem profissional de televisão. Basta ter uma noção.
Geraldo Luís - Pois é. A televisão está saudosista. E essa preguiça das pessoas em criar programas, em perguntar o que o público quer assistir e quem perde é a própria TV. As pessoas de televisão ficaram envergonhadas de fazer televisão. E mais, principalmente, essa preguiça que existe e aí eu cobrando isso de todo mundo e de mim mesmo, em algumas vezes, você pode ser incompreendido.
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Outras vezes, pode ser taxado de chato se você não encontra esse respaldo. E começa aquela coisa: “e se não der certo? E se??? E se??”. Se não der certo, faz de novo. A TV é uma tentativa. Se não der, faz outro quadro.
O Silvio Santos fazia isso. Ele colocava um quadro no ar e se em duas semanas não desse certo, tirava do ar. O povo é rápido. É saber se aceita ou não um produto. Algumas vezes você pode ser compreendido, outras, alguém pode achar que você é chato. Pode ser o que for numa empresa se você não encontra esse respaldo. A televisão está com uma lacuna, porque o povo não se vê mais, o povo não se enxerga em suas grades.
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A televisão parece que rejeitou o meio popular, mas não estou falando do popularesco e nem de baixaria. Estou falando do popular, com qualidade de programa de entrevista.
E eu encontrei um filão que é essa questão de contar histórias. Todo mundo tem uma história para contar e o Brasil é muito rico em pessoas com histórias incríveis. Mas é o jeito de contar que faz a diferença e eu consigo. Eu tenho esse dom porque eu vim do rádio, fiz 24 anos de rádio e tudo que eu tenho eu devo ao rádio.
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Eu saí de uma zona, um prostíbulo, de um puteiro, onde eu morava com a minha mãe, porque o rádio me deu a dignidade. O Geraldo Luís nasceu no rádio.
O rádio me doutrinou e me deu essa escola. Você vê todos os que estão em televisão e que vieram de rádio perduram um pouco mais. Eu falava muito disso com o Goulart de Andrade e ele: “é o que vai salvar você, que é jovem, quando você for para televisão. Leva o rádio junto, converse”.
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E o telespectador está com essa carência. Que programa hoje que conversa com o telespectador? Conversa, estou falando de uma matéria, de ouvir uma história bem contada. Então na época, quando eu peguei esse filão do Domingo Show, que era contar história. Isso é o desafio.
Geraldo Luís
Anota isso aí pra mim, Drika. Me ajuda nesse momento a despertar isso pra televisão. Porque eu espero que algum dia, alguém fale: “esse larazento estava certo. Acho que é por aí (risos) de contar histórias do povo simples”.
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É legal mostrar o artista? Claro que é legal. Mas eu não quero. O grande segredo da época do Domingo Show, que era uma produção mais barata, você ficava uma hora e contava uma história bonita.
Eu viajava e pisei onde ninguém pisou. Eu tenho orgulho de dizer isso. Era o interior do interior, aonde ninguém queria ir. Eu rodava tudo, chegava naquela gente simples e dava muita audiência. Porque era gente de verdade. O que hoje não se vê muito. Muita gente na televisão é de mentira que conta uma mentira na televisão e o telespectador engole isso. Só que esse meu jeito de falar, às vezes pode ofender. Você pode achar que é arrogância.
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Geraldo Luís afirma que é exigente
Aliás, eu preciso te perguntar uma coisa. Já ouvi muitos dizerem que você era arrogante com a equipe. Até onde isso é verdade?
Geraldo Luís - Eu nunca fui arrogante. Eu sempre fui disciplinado. Arrogante para mim é desrespeito, e o que é o desrespeito? É eu desrespeitar você, eu xingar você. A partir do momento que eu ergo a voz com você, que eu te xingo... Eu nunca, Dri....
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Eu nunca vi isso, nunca foi do meu feitio. Ninguém fica 16 anos num lugar, se não é de verdade. E 16 anos não são 16 dias. Também tem outra, hoje a velocidade da maldade, da mentira é diferente da velocidade da verdade.A verdade às vezes até demora. Agora, eu sou aquele cara exigente. Exigente até demais. Sempre fui exigente com meu câmera, comigo mesmo, com todo mundo. E sempre, sempre, sempre foi assim.
Geraldo Luís
Sabe? (pensativo) a vida sempre foi muito dura comigo. Desde a minha época de engraxate, sempre fui muito sozinho e sempre cobrei. Agora, se você é chamado de chato por você cobrar, então eu sou um grande chato mesmo. Porque eu sempre me cobrei muito, cobrei a equipe e cobrei a diretora.
Hoje, o Gustavo Vaccari, que o Silvio Santos roubou de mim - na época o Silvio ia me levar pro SBT e não deu certo – está lá. Porque ele ia me levar e eu acabei dando toda a minha equipe do Domingo Show, os meus melhores produtores e o Silvio levou todos pra me derrubar (risos).
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O Gustavo fazia o Bake Off Brasil e hoje dirige o Fofocalizando. Ele fala muito isso, que eu era incansável mesmo. Ele fala: “Trabalhar com você, tem que saber que realmente pode começar às 8 da manhã e, muitas vezes, não parar até as 8 da noite”.
Tem gente em televisão que não quer fazer nem hora extra, só quer bater ponto. Eu nunca bati ponto. Sempre trabalhei demais. Eu ia para um local que tinha duas histórias. Quando voltava tinha mais cinco histórias, voltava com os cinco domingos já prontos porque a gente não tinha preguiça de ir atrás. Então, se essa minha intensidade é confundida no marasmo de alguém, desculpa, é trabalho.
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Talvez as pessoas vão falar que eu sou chato, da dificuldade de trabalhar comigo, mas se cobrar de quem está do lado mais dedicação é ser chato, eu quero morrer chato. Porque a televisão está com um monte de gente ai que bate cartão, que só faz o básico e o que está acontecendo? Estão matando a televisão.
Geraldo Luís sobre a concorrência da internet com a TV
E com a era dos influencers, com o estouro da internet... Você acha que isso também contribuiu para a TV ficar meio apagada?
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Geraldo Luís - A internet ganhou força no humor. Ela ganhou força da informação. A televisão subestimou a internet. Tem muito estelionatário na internet vendendo sonho e nunca sonhou. Muito estelionatário, muita gente enganosa que tá pegando essa carência - e não só na televisão mais uma série de coisas - e essas pessoas estão ficando ricas.
Porque quem tem talento e vence sendo influencer, ok, parabéns para ele, que legal. Porque também tem muita gente bacana na internet, tem gente inteligente lá. Agora, também virou um modismo ilusório de um monte de picareta tomando o lugar de gente boa. A televisão tem parte dessa culpa porque ela se ausentou. E aí, essa gente chegou. E aí todo mundo quer ser famoso.
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Hoje ninguém quer construir nada. Ninguém quer se tornar nada. O cara quer ser e quer ser agora, hoje. Então para ser hoje, eu tenho que falar isso, isso, isso, isso.
Têm três pessoas, e eu não quero falar o nome, que eu vejo na internet que estão ficando riquíssimas. As pessoas são vazias, você olha aquilo e diz: “isso aqui é mentira. É mentira o que ela está falando”. Essa grande merda que está exposta para o povo comprar. E todo mundo aplaudindo. Uma hora vai cair e as pessoas vão falar: “Como que eu comprei isso? Como que eu acreditei nisso? Como que eu seguia?
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Você acha que a internet tem muito a ver com a ilusão?
Geraldo Luís - Toda mentira cai e eu vejo que a televisão vai voltar a ser televisão, mas vai precisar de programas legais onde o Brasil se veja como é legal. A televisão não emociona mais Drika e televisão é emoção.
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Geraldo, eu também acho que televisão é emoção pura.
Geraldo Luís - Que pena que a televisão não emociona mais. E eu quero voltar a emocionar numa emissora que junto comigo, faça o telespectador sonhar. E sonhar com emoção, um programa que as pessoas se sintam bem, que a gente eleve as pessoas,e nada melhor do que isso com histórias. História é sensacional. Quando eu colocava aquelas pessoas simples, com aquelas histórias mais incríveis, as pessoas, os “pensadores de televisão”, perguntavam: "mas por que isso dá audiência?". Porque o povo se vê! E hoje o povo não se vê mais na televisão.
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Mas qual a diferença do seu programa, das histórias que você contava por exemplo, para o programa do Faro, que pega a pessoa e mostra miséria dela, e faz ela ganhar alguma coisa? Existe uma diferença? Você vê alguma diferença?
Geraldo Luís - Você está falando assistencialismo é isso?
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Exatamente.
Geraldo Luís - Eu não tenho vergonha de contar a história da pessoa e superação. Eu amo contar a superação, porque quando eu conto e levanto a vida de uma pessoa, eu conto uma superação, aquela pessoa que está assistindo, e que está desistindo da vida, não vai desistir da vida mais. Não é só em novela que as pessoas gostam de ver o final feliz, mas novela você sabe que um personagem. Quando o personagem da vida real vai para televisão, você sabe contar e tem o dom de contar vira sucesso.
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Eu pegava pessoas lá embaixo da ponte, mas eu levava isso com uma leveza, eu contava de verdade. Você tem que ser de verdade e aceitar aquela pessoa. Tem que aceitar que aquele telespectador tem aquela história de verdade para passar isso na edição, no roteiro, porque ali você vai fazer as pessoas se verem.
Eu não vejo problema algum de contar a superação na televisão. O segredo é como contar, a forma da leveza, sem você atuar, sem você pesar, sem atuação. Eu nunca explorei telespectadores, sempre melhorei. Sempre quis dar dignidade a essas pessoas. Nunca quis ser sensacionalista parecendo que aquela pessoa estava sendo explorada.
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Eu tenho orgulho de dizer: eu peguei jovens, ilustres desconhecidas, que hoje estão trabalhando. Uma, inclusive está assinando com a Sony Music, cantora gospel, uma menina que eu encontrei num balcão de lanchonete. Fizemos um vídeo pequeno e hoje a menina está assinando contrato com a Sony Music.
Então transformar a vida das pessoas, colocar o amor no ar era o meu lema. O meu programa não foi de assistencialismo, eu botava antes o amor. Porque eu gosto de gente, eu não tenho vergonha de dizer isso.
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Tem gente em televisão só pela audiência, para botar gente no ar de qualquer jeito. Eu não, eu faço porque eu gosto do povo, eu gosto de gente.
Eu desafio: não teve apresentador, não teve jornalista que foi pros lugares, os rincões, aonde eu fui. Eu conheci muitos municípios do Brasil que até hoje não tem luz, até hoje não tem água encanada.
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A gente chegava lá eu pedia para equipe não tomar água. Imagina aquele calor, no interior do Piauí... Seria uma ofensa você pegar uma garrinha gelada de água de um cooler e beber na frente das pessoas que estavam tomando barro. Então, só pra você ter uma ideia como foi nosso trabalho e como isso foi ganhando força.
O Domingo Show ganhou da Fórmula 1 e na época, a gente vivia brigando com o programa da Regina Casé, que aliás é uma artista que eu adoro. Mas a produção dela era gigantesca, mas nós ganhávamos sempre. E a Casé saiu do ar e no domingo dava 15 pontos.Derrubamos na época essa programação da Globo, depois do Márcio Garcia e depois da Fórmula 1, então para mim, assim: a fórmula foi de sucesso colocando o povo simples no ar e contando as histórias tanto que deu certo que ganhou da Globo de três grandes produtos.
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Geraldo Luís
Mas eu acho que a Globo também ela teria que entender a importância desse popular. Ela tem credibilidade, ela tem uma assinatura, ela tem uma estrutura de aproximar mais as pessoas da televisão e assumir essa questão popular. De que o povo lá se ver com a qualidade que ela tem.
As diferenças de Geraldo Luís com Rodrigo Faro
Agora, mas qual a diferença do seu programa para um programa do Rodrigo Faro, por exemplo?
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Geraldo Luís - Eu não posso comparar com o programa do Faro. Não dá para comparar. Eu não gosto desse comparativo. Não é a mesma coisa.
Eu insisto. O que você fazia que o Faro não faz?
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Geraldo Luís - Eu comecei a contar a história da vida das pessoas, depois ele começou contar, e todo mundo depois começou a contar história também. Todo mundo começou a fazer isso é óbvio, pois, todos correm atrás de audiência. Mas foi o Domingo que começou a fazer isso, mas de outra forma, uma forma única.
O primeiro programa quando eu contei a história do Gil Gomes que era o maior repórter policial do Brasil, deu 17 pontos. A gente contava a superação, mostrava outro viés... Isso na época, assustou os concorrentes e até quem trabalhava na emissora, que parou e falou: ‘bom, então, com essa audiência nós vamos ter que assumir e contar histórias’
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Na época até o SBT, se não me engano, acho que foi o Portiolli, começou a contar histórias, mas não virou. Você acha que se me dessem um programa para eu jogar torta na cara, eu teria competência pra fazer aquilo que Portioli faz com maestria. Que é fazer games com aquela alegria toda?
Se me falassem: ‘Geraldo, você vai fazer games’. Eu não iria conseguir porque não é o que sei fazer. Portiolli é fantástico, e sou superfã dele, mas cada um tem uma facilidade maior nisso ou naquilo, um dom. Eu não tenho competência pra fazer games e eu respeito aquilo que eu sei fazer.
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Qual o futuro da televisão?
Geraldo Luís - Para mim a grande saída é a televisão assumir aquilo a que ela veio e que hoje ela quer de distanciar, virou muito cult, uma coisa muito diferente do que o povo quer.
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Quando a gente começou a recuperar aqueles artistas esquecidos, antigos, veio gente falando: ‘ah, vai vir com essas velharias..(risos)’.
Eu assisti ao programa do Serginho Groisman, há algumas semanas e ele fez aquilo que eu já fazia e queria fazer. Um programa de saudosismo com grandes músicos que estão vivos ainda. Serginho levou Ovelha, Trio Los Angeles, levou todo mundo. Que programa gostoso, maravilhoso, eu vibrei com aquilo.
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Não sei quanto deu de audiência, mas é isso que o povo quer ver. Eu acho que deve ter dado muita audiência.
Tem muita coisa para se fazer na televisão, mas algumas pessoas não sabem fazer, outras têm vergonha... E outras têm preguiça de pensar... Para remodelar... Para trazer pra frente da tela. É mais fácil fazer a mesma coisa sempre.
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Concordo plenamente com você. A televisão está mesmo estranha...
Geraldo Luís - Mas por que você acha isso? Porque a gente é chato e pensa, está entendendo? Se eu falar isso com alguém, vai responder: ‘Ah, isso é muita ideia, ai, não dá.’.
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Tem gente que tem paciência para ouvir você na redação. Outras já querem reunião de cinco minutos. E outras: ‘ah escreve aí’ e nunca vai ler aquilo...
Nós nunca tivemos preguiça. A gente ia buscar os personagens. E nós contamos histórias assim... Incríveis. Fiz o primeiro programa de auditório da Record. E eu agradeço demais eles, o Geraldo Brasil, quando eu saí do Balanço. Eu saí de um jornalismo para ir para um programa de auditório diário, uma loucura. Auditório diário é loucura, eu fiz isso. Você não tem conteúdo pra fazer todo dia. Não dá para a plateia ficar batendo palma todo dia. Nem a plateia aguenta bater palma todo dia.
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Mas quando eu falava isso, ouvia: “Geraldo é chato”. Não, chato não. Mas eu queria muito que você me ajudasse, porque eu sou uma usina de pensamento. O que eu tenho de programas escritos, de quadros, você não tem ideia.
Você acha que nos últimos anos você sofreu um boicote interno da Record?
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Geraldo Luís - Eu posso não ter sido ouvido mais, diante de tantas ideias. E também existe a necessidade da empresa, né? Olha, até aqui dá pra ir. Isso aqui a gente pode orçar. Eu acho que o grande pecado, o grande erro foi ter tirado o Domingo Show, na época, do ar. Quando o Domingo Show saiu, o SBT retomou o segundo lugar.
Se era sucesso, por que saiu do ar?
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Geraldo Luís – Na época era o Douglas Tavolaro que era o comandante, o manda chuva. Hoje eu acredito que deve ter sido alguma coisa interna entre eles... Só fui comunicado e fiquei muito chateado, mas o que eu poderia fazer?
Mas você teve problema com ele pessoal ou não?
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Geraldo Luís - Não, com o Douglas eram brigas assim, normais de trabalho. A briga com ele era uma briga leal. Tive muita briga, mas eram discordâncias de programa. Na época, quando eles me tiraram do jornalismo e me levaram pra área artística, ele ficou muito bravo. Ele não aceitou. Contudo, depois que eu voltei do Geraldo Brasil, que eu voltei pro departamento de jornalismo, ele me deixou um ano fora do ar, na geladeira.
Mas eu sinto falta do Douglas, porque o Douglas entendia de televisão. É legal quando você discute com quem entende de televisão. É muito bacana e ele entendia. Ele me deu grandes programas... Eu sou muito grato a ele.
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Mesmo com as brigas você sente falta dele?
Geraldo Luís - O Douglas entendia de televisão, o que muitos que estão no poder não entendem. A gente criou o Balanço Geral, ele me deixou ir para rua. Ele falou "mas por que você quer gravar na rua?". Falei: "Douglas vai por mim, esse negócio de rua dá certo". Ele falou "o que você quer gravar?". Respondi: "quero gravar personagens de São Paulo. Alguém fala desses garis? Eu quero subir num caminhão de lixo, eu quero mostrar um reality real, mas da hora que o cara acorda, até a hora que o cara bota o jaleco dele lá e vai para casa".
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Poxa, deu 15 pontos na época. A gente não parou mais de gravar. Olha, ele deixou colocar a história de fantasma no ar. Aquelas lendas urbanas e eu lembro que aquilo foi uma febre.
Ele ouvia as ideias e bombava, né?
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Geraldo Luís - Putz e como. Aquilo marcou época. Hoje, eu encontro gente na rua que fala assim: "ah, eu era adolescente, voltava correndo do colégio pra assistir você". Na época, foi com ele que eu falei: "Douglas, traz aqui o Marcelo Rezende, ele está na RedeTV!". E Douglas dizia: "Ah, mas... Mas o Marcelo briga muito". Quem não briga? E quem é normal em televisão? Tem algum normal aqui? Tem alguém normal em televisão?
Então fiquei feliz na época de ter sido interlocutor. E a semente que foi jogando lá para que o Marcelo fosse para lá, e foi.
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Foi o maior sucesso, né? Deu muito certo.
Geraldo Luís - Então, era essa a televisão que eu trabalhava. Eu entrei numa época boa. A Record brigava pela liderança e eu fiz o Balanço Geral que foi sucesso durante muitos anos. O Balanço tirou o Vídeo Show do ar, lembra?
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A gente brincava, tirava sarro, a gente era meio pânico. A gente era primeiro lugar. Então, foi essa briga com a principal emissora. Para mim é uma honra. Eu aprendia brigar com a Globo.
Eu aprendi a fazer uma televisão que a gente tinha uma estrutura pequena, mas eu falei eu vou fazer o que ela não tem do outro lado, é o popular. Eles não vão fazer o popular. E o popular está aqui. Quem liga a televisão, é o povo. É o povo aqui. Você não pode ter vergonha daquilo que é popular.
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Por isso que o futebol é sempre assim, um sucesso. O Corinthians é popular. Por isso que onde tem Corinthians tem audiência. Falou de Corinthians no rádio, aonde for, dá audiência.
Eu nunca vou ter vergonha de ser um apresentador popular. Essa coisa de ir para rua. Isso é a essência de contar histórias. A Glória Maria fazia isso, né? Com o estilo dela, com a intelectualidade dela. Mas ela era boa, ela ia pra rua, ela gostava, ela ouvia. Ela tinha uma linguagem que você entendia. Hoje poucas pessoas têm linguagem de televisão onde o povo se vê.
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