Publicado em 28/09/2016 às 09:59:00
Nos intervalos de “Justiça”, as chamadas de “Nada Será Como Antes” se anunciavam timidamente como a nova série das 23h da Globo, horário que vem ganhando na emissora tramas mais ousadas, tanto em linguagem quanto em produção.
Dentro dos enredos mais recentes nesta faixa, que já ganhou novela épica-selvagem (“Liberdade, Liberdade”), urbana-erótica (“Verdades Secretas” de 2015) e minissérie realista-fragmentada (a já citada “Justiça), para o telespectador acostumado às narrativas anteriores, ”Nada Será Como Antes” parece um corpo estranho, um tira-gosto à moda das radionovelas e dos bastidores da TV na década de 1950, época em que a série é ambientada.
A história central se apresenta, à primeira vista, tão simples quanto as produções desse período. Saulo Ribeiro (Murilo Benício) é uma espécie de Assis Chateaubriand, empresário responsável por fundar a primeira emissora de televisão do Brasil, só que aqui em uma caracterização mais ingênua, como Benício sabe fazer bem. Ele se apaixona por Verônica (Deborah Falabella), locutora de rádio do interior, e juntos, partem para alcançar o estrelato no Rio de Janeiro.
Desnecessário dizer que conseguem tal objetivo, e que à sua volta vão orbitar diretores ansiosos com a nova empreitada (Aristides, interpretado por Bruno Garcia), pin-ups sensuais (Beatriz, vivida por uma Bruna Marquezine mais madura), empresários gananciosos (Osmar Prado interpreta Pompeu de Queiroz), galãs que escondem a homossexualidade (Rodolfo, de Alejandro Claveaux). Ou seja, o início da TV como a fábrica de sonhos que esconde ruínas pessoais por trás das câmeras.
As referências à cultura pop dos anos 50 estão lá, mas discretas, assim como a ótima trilha sonora, que vai do rock a bossa-nova. A direção de José Luiz Villamarim (“O Canto da Sereia”, “O Rebu”) se mostra agora contida, ainda que pareça sempre espreitar as cenas pelos cantos.
Leve, bem cuidada, mas com ar de que vai levar a melancolia por trás da “fábrica de sonhos” a sério, “Nada Será Como Antes” chegou no momento certo: o telespectador talvez precise, neste tempo de incertezas, da ingenuidade do Brasil que desejava ser moderno e que suspirava de amor diante da TV preto e branco.
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.
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