Publicado em 20/05/2015 às 16:20:43
Em tempos de panelaço, o sucesso de “MasterChef”, cuja segunda temporada estreou na Band nesta terça-feira (19), vem acompanhado de certa ironia.
“Agora vão aprender que panela é para cozinhar e não para bater?” pergunta um espectador no Twitter enquanto o início do reality é empurrado para depois da novela das 21h na concorrência. A espera valeu a pena.
A competição de culinária apresentada por Ana Paula Padrão, que tenta escolher, em um grupo de cozinheiros amadores, o chef vencedor, encontrou o seu caminho entre os demais programas do gênero, cada vez mais desgastados e em queda de audiência, ainda que a atração da emissora paulista não tenha voltado com grandes novidades.
O aquecimento para o início, em que a apresentadora Lígia Mendes conversava vários decibéis acima do permitido com um participante popstar da primeira temporada, quase queimou a receita. Mas superado este desequilíbrio, a atração seguiu de forma firme, oferecendo ao público o que ele quer (ou pensa querer): uma dose de pimenta, um prato meio desandado, choro e ranger de dentes em meio aos clichês do formato “TV realidade”. Os jurados exigentes, frases de efeito, os participantes com histórias de vida comoventes e etc.
No caso de “MasterChef”, cuja primeira fase, a de seleção dos competidores, dá espaço a um desfile de tipos ora bizarros ora carismáticos, que devem provar pelos seus pratos feitos na hora se merecem entrar para o elenco, este quase sadismo vem acompanhado de uma objetividade em falta nos programas similares.
O jurado Erick Jacquin, ainda mais folclórico do que a temporada anterior, pergunta sem titubear a uma candidata sem a mão esquerda se ela conseguia desossar uma ave. Henrique Fogaça chama a mãe de uma participante adolescente ao estúdio e Paola Carosella não perdoa o pedantismo do candidato italiano galã.
Os pequenos ajustes necessários ao programa, como a pontualidade e uma edição mais rápida durante o entra-e-sai de participantes, azeitariam ainda mais a atração, que bateu os 7 pontos de audiência e criou burburinho nas redes sociais.
Mas o sucesso de “Masterchef” seria explicado por espectadores impiedosos ou o bullying chegou à TV aberta? Quem bate panela na varanda durante a propaganda do governo se tornou o dono do controle remoto? Pode ser exatamente o contrário. Na cultura atual de podemos-ser-quem-quisermos, “Masterchef” mostra que até o sonho tem limites, seja você um publicitário descolado que cozinha nas horas vagas ou uma mineira hiperativa cujo pecado foi apresentar um hambúrguer feito de purê de batatas.
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.
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