Dramaturgia na TV aberta deve ser feita essencialmente para o público

Território da TV

"Meu Pedacinho de Chão" teve sua história contada em forma de fábula - Divulgação/TV Globo
Por Redação NT

Publicado em 01/08/2014 às 11:14:00

No mundo do cinema, uma estatueta de Oscar certamente “compensa” alguns milhões em bilheteria, afinal, o prestígio conquistado é essencial para alavancar os trabalhos seguintes de toda a equipe relacionada com a produção.

Mas o perfil do público médio que acompanha diariamente novelas na TV aberta não dá a mesma relevância para estatuetas angariadas pelas produções, sejam do Emmy ao Troféu Imprensa.

É claro que um grande prêmio pode “lavar a alma” e consagrar a qualidade de uma produção que não caiu no gosto popular, mas o foco de qualquer telenovela brasileira tem de ser diretamente no telespectador do Painel Nacional de Televisão (PNT).

Conquistas, elogios e até o êxito no mercado internacional, como aconteceu com a completa "Avenida Brasil", ficam em segundo plano no momento inicial. Ou pelo menos deveriam caso se busque a reversão da tendência de queda nos números da dramaturgia.

Longe de afirmar que deve se entregar uma produção rasa somente para satisfação das massas e sem nenhum senso de inovação, mas focar demais na embalagem e esquecer que as histórias marcantes é que cativaram o telespectador ao longo de décadas também é nocivo.

Duas tramas que chegam ao fim nesta sexta-feira (01) deixam isso bem claro. Elas terminam com audiências similares, mas sentimentos bem diferentes sobre esses números.


A trama de Walcyr Carrasco não ficou marcada por nenhuma revolução, mas em muitas vezes superou “Viver a Vida”, a então novela das 21h, quando foi ao ar. Dessa vez, pelo menos na Bahia, a situação quase se repetiu. Como já noticiado pelo NaTelinha, o folhetim quase alcançou “Império” na audiência soteropolitana. No Rio e em São Paulo, a reprise muitas vezes se iguala com as inéditas novelas das 18h e 19h.

Mas o destaque não fica somente com os números, que apenas correspondem ao que se vê: uma trama que dosa bem a comédia e o drama, conseguiu se manter sem “barriga” mesmo após ser esticada em sucessivas ocasiões e ainda possui um elenco que se destacou quase que por completo.

Isabelle Drummond fez aquela que até agora segue sendo a grande personagem da sua carreira com a Bianca, que ainda emplacou o bordão “É a treva!”. O “rosa chiclete” Cássio, estrelado pela então revelação Marco Pigossi, também se destacou. E além do núcleo cômico, os mocinhos e vilões também corresponderam bem e eram absolutamente complementares.

Em meio a tantos destaques, até a macaca Kate, que viveu o Xico, muitas vezes se expressava de uma forma que deixava muita gente com anos de atuação para trás.

Sem boas chances de ganhar uma reprise como “Caras & Bocas”, hoje se encerra também a exibição de “Meu Pedacinho de Chão”, remake de qualidade incontestável e que trouxe uma linguagem de encher os olhos, mas que jamais emplacou na audiência.

Renovar o conteúdo é essencial, mas algo que deve ser feito gradativamente. Enquanto número de capítulos, qualidade de câmeras ou enquadramentos ganharem mais atenção do que a trama contada, a chance de equívocos será grande.

Afinal, se o feijão com arroz é por muitas vezes a melhor refeição, a lógica do mundo noveleiro não é lá tão diferente. Tanto na receita quanto na produção, basta dar uma boa temperada para seduzir a maioria. É só ter o cuidado de não passar do ponto.

E se quem aprecia não entende a novidade, o erro é de quem não calculou o impacto da mudança. O freguês tem sempre razão, não?
 

No NaTelinha, o colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o http://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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