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Dramaturgia na TV aberta deve ser feita essencialmente para o público

Território da TV


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"Meu Pedacinho de Chão" teve sua história contada em forma de fábula - Divulgação/TV Globo

No mundo do cinema, uma estatueta de Oscar certamente “compensa” alguns milhões em bilheteria, afinal, o prestígio conquistado é essencial para alavancar os trabalhos seguintes de toda a equipe relacionada com a produção.

Mas o perfil do público médio que acompanha diariamente novelas na TV aberta não dá a mesma relevância para estatuetas angariadas pelas produções, sejam do Emmy ao Troféu Imprensa.

É claro que um grande prêmio pode “lavar a alma” e consagrar a qualidade de uma produção que não caiu no gosto popular, mas o foco de qualquer telenovela brasileira tem de ser diretamente no telespectador do Painel Nacional de Televisão (PNT).

Conquistas, elogios e até o êxito no mercado internacional, como aconteceu com a completa "Avenida Brasil", ficam em segundo plano no momento inicial. Ou pelo menos deveriam caso se busque a reversão da tendência de queda nos números da dramaturgia.

Longe de afirmar que deve se entregar uma produção rasa somente para satisfação das massas e sem nenhum senso de inovação, mas focar demais na embalagem e esquecer que as histórias marcantes é que cativaram o telespectador ao longo de décadas também é nocivo.

Duas tramas que chegam ao fim nesta sexta-feira (01) deixam isso bem claro. Elas terminam com audiências similares, mas sentimentos bem diferentes sobre esses números.

“Caras & Bocas” encerra a sua primeira passagem pelo “Vale a Pena Ver de Novo” repetindo, guardadas as devidas proporções, o fenômeno que já foi quando exibida originalmente às 19 horas.

A trama de Walcyr Carrasco não ficou marcada por nenhuma revolução, mas em muitas vezes superou “Viver a Vida”, a então novela das 21h, quando foi ao ar. Dessa vez, pelo menos na Bahia, a situação quase se repetiu. Como já noticiado pelo NaTelinha, o folhetim quase alcançou “Império” na audiência soteropolitana. No Rio e em São Paulo, a reprise muitas vezes se iguala com as inéditas novelas das 18h e 19h.

Mas o destaque não fica somente com os números, que apenas correspondem ao que se vê: uma trama que dosa bem a comédia e o drama, conseguiu se manter sem “barriga” mesmo após ser esticada em sucessivas ocasiões e ainda possui um elenco que se destacou quase que por completo.

Isabelle Drummond fez aquela que até agora segue sendo a grande personagem da sua carreira com a Bianca, que ainda emplacou o bordão “É a treva!”. O “rosa chiclete” Cássio, estrelado pela então revelação Marco Pigossi, também se destacou. E além do núcleo cômico, os mocinhos e vilões também corresponderam bem e eram absolutamente complementares.

Em meio a tantos destaques, até a macaca Kate, que viveu o Xico, muitas vezes se expressava de uma forma que deixava muita gente com anos de atuação para trás.

Sem boas chances de ganhar uma reprise como “Caras & Bocas”, hoje se encerra também a exibição de “Meu Pedacinho de Chão”, remake de qualidade incontestável e que trouxe uma linguagem de encher os olhos, mas que jamais emplacou na audiência.

O ritmo frenético de inovações, da linguagem mais musical ao visual excêntrico dos atores, passando também pela duração reduzida, causou rejeição da plateia habitual do horário, que recentemente foi maior, por exemplo, na óbvia e correta “Flor do Caribe”.

Renovar o conteúdo é essencial, mas algo que deve ser feito gradativamente. Enquanto número de capítulos, qualidade de câmeras ou enquadramentos ganharem mais atenção do que a trama contada, a chance de equívocos será grande.

Afinal, se o feijão com arroz é por muitas vezes a melhor refeição, a lógica do mundo noveleiro não é lá tão diferente. Tanto na receita quanto na produção, basta dar uma boa temperada para seduzir a maioria. É só ter o cuidado de não passar do ponto.

E se quem aprecia não entende a novidade, o erro é de quem não calculou o impacto da mudança. O freguês tem sempre razão, não?
 

No NaTelinha, o colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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