Donald Trump pode mandar cortar a TV a cabo no Brasil?
TV a cabo não será cortada por Trump
Publicado em 20/07/2025 às 16:40,
atualizado em 20/07/2025 às 16:41
Nas últimas semanas, uma onda de boatos ganhou força nas redes sociais e aplicativos de mensagem no Brasil: estariam os Estados Unidos, sob ordem do presidente Donald Trump, prestes a cortar o sinal de satélites que transmitem TV por assinatura para o país? Em meio a uma crise de relações comerciais e a guerra fiscal entre as duas nações, essa dúvida provocou insegurança e impactos no mercado.
O relacionamento econômico entre Brasil e Estados Unidos sofreu uma escalada tensa. Os EUA aplicaram tarifas elevadas — de até 50% — sobre produtos brasileiros importados, alegando defesa da propriedade intelectual e práticas comerciais que consideram desleais.
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Ainda que essas medidas impactem setores importantes da economia brasileira, elas não se traduzem em cortes simples ou retaliações diretas no fornecimento de serviços de telecomunicações como TV por assinatura ou acesso à internet via satélite.
A escalada da crise também passa por desafio do presidente americano ao STF (Supremo Tribunal Federal), tirando vistos da maioria dos ministros e também de sua defesa insistente ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Por que Trump não vai deixar Brasil sem TV a cabo
A TV por assinatura no Brasil é um serviço regulado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) desde a promulgação da Lei nº 12.485/2011, que atualizou o marco regulatório do setor. Esse serviço é entregue por diversas tecnologias — incluindo cabo tradicional, satélites DTH (Direct-to-Home) e outras modalidades — e depende de contratos e licenças concedidas às operadoras, funcionando em um mercado aberto, inclusive para capital estrangeiro, desde a abertura definitiva promovida pela lei.
As operadoras brasileiras de TV por assinatura – sejam nacionais ou com participação estrangeira – operam sob regras claras e supervisionadas pela Anatel, que exige que seus equipamentos e conversores sejam certificados e regula a oferta aos consumidores.
Um bloqueio ou corte abrupto no sinal via satélite para um país inteiro teria consequências gravíssimas para grandes empresas que têm interesses comerciais estratégicos no Brasil e em outros mercados da América Latina.
Além disso, um desligamento unilateral por ordem política, como a suposta ordem de Trump para “desligar” o sinal de satélites, não encontra precedentes legais ou técnicos.
As estruturas de satélites de TV por assinatura são baseadas em acordos internacionais e contratos comerciais sólidos. A conexão por satélite brasileira não depende do arbítrio único do governo americano para funcionar, e as empresas do setor no Brasil têm respaldo legal para garantir a continuidade dos serviços.
O que se pode bloquear, e o que é fake news
É importante diferenciar bloqueios legítimos de pirataria e dispositivos ilegais. O Brasil realiza ações conjuntas para coibir o uso de TV boxes e satélites piratas ilegais, que roubam sinal das operadoras oficiais e violam direitos autorais. Essas medidas são reguladas internamente pela Anatel e Ancine e não têm nenhuma relação com suposto bloqueio internacional do sinal via satélite.
O boato também se apoiou em notícias sobre eventuais restrições na rede GPS — outro serviço americano importante para o Brasil — que geraram teorias conspiratórias sobre “cortes globais”. No entanto, o GPS é um sistema civil global fornecido gratuitamente pelos EUA e não pode ser desligado seletivamente para um país sem prejuízo a milhares de usuários em todo o hemisfério; desenvolvem-se também alternativas como o GLONASS russo, o Galileo europeu e o BeiDou chinês para mitigar riscos eventuais.