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Aceno da Globo não empolga evangélicos

Religiosos enxergam sinal de aproximação da Globo com cautela


Sol, primeiro aceno da Globo a evangélicos, em foto
Sol foi a primeira mocinha evangélica da Globo - Foto: Reprodução/Globoplay

A Globo vem mudando uma postura histórica e sinalizando para os evangélicos. Com decisões recentes de barrar histórias e sequências que são consideradas contrárias às crenças da religião, a emissora busca fisgar o público, porém até o momento não caiu nas graças dos protestantes. Embora os principais líderes enxerguem um interesse em proximidade, as atitudes são vistas com cautela.

Um dos primeiros movimentos da direção da Globo em favor de uma proximidade com os evangélicos brasileiros se deu com o anúncio da novela Vai na Fé, que traria a primeira mocinha evangélica da história do canal. A trama caiu no gosto popular e não foi ignorada pela parcela gospel da população, mesmo assim o folhetim ganhou críticas desse grupo.

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Para líderes evangélicos, a novela mordia e assoprava ao mesmo tempo, já que também mostrou outra religião, dessa vez de matriz africana e que é vista com maus olhos pelo pessoal protestante. Além disso, a relação lésbica causou ruídos, a ponto de precisar ter cenas barradas e um final modificado, que chamou a atenção dos telespectadores. Mesmo assim, o saldo final foi positivo.

Depois disso, outras sinalizações chegaram. A cúpula da emissora, através de Amauri Soares, diretor de entretenimento, avisou seus autores que não irá aprovar nos próximos anos nenhuma sinopse de produção espírita, o que barrou a possibilidade de remake de A Viagem, um dos maiores sucessos do canal. 

A decisão de substituir o padre, personagem icônico em Renascer (1993) por um pastor evangélico, embora tenha partido de Bruno Luperi, novelista responsável pelo remake, também entrou no bolo das sinalizações de paz que a Globo quer promover junto aos evangélicos.

O aceno faz sentido. Embora o censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não tenha apresentado os dados de religião, estudos indicam que o país tem entre 60 e 70 milhões de evangélicos, bem mais que os 43 milhões de 2010. Isso ainda coloca o protestantismo como segunda religião do país, atrás do catolicismo.

Mas há quem acredite que haverá virada. Para os pastores, até 2050 o Brasil será um país evangélico, o que significa que mais de 50% da população fará parte desta crença. Dados recentes, porém, segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas), mostram que desde 2020 o crescimento evangélico ficou estagnado e que, em alguns casos, há queda.

O NaTelinha ouviu de alguns líderes cristãos, que são influentes e considerados estrelas no cenário gospel brasileiro, que a movimentação é importante, mas é cedo para tratar a Globo como uma aliada do cristianismo. Na visão dele, é preciso que as produções passem pelo crivo da fé cristã e, nas palavras deles, "pare de mostrar o que há de pior no ser humano", para haver, de fato, uma proximidade.

Para eles, há um avanço importante, muito diferente do que acontecia nos anos 90. Naquela ocasião, a emissora era considerada inimiga da religião e fazia extensas reportagens com denúncias de charlatanismo. Nos anos 2000, o canal passou a receber cantores gospels, como Ana Paula Valadão e Aline Barros , esta última a primeira a ter uma trilha sonora religiosa em novelas com Duas Caras (2007).

Mesmo assim, os personagens gospels eram sempre vistos como caricatas e alvos de críticas. Como a Creuza de América (2005) e todo o núcleo evangélico da própria Duas Caras. Neste mesmo período, o canal fez outro sinal ao criar o Festival Promessas, que acabou não continuando quando, no início do governo de Jair Bolsonaro, cantores gospels passaram a acusar a emissora de "comunista" e de ferir preceitos cristãos.

Internamente a cúpula da Globo quer abocanhar a audiência evangélica e não quer ser vista como "anticristã". Porém, não há qualquer sinal de que a programação irá abrir mão de valores em defesa de direitos ou de censura para histórias ou cenas mais quentes.

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