Após 24 anos

Globoplay resgata minissérie marcada por guerra entre autor e diretor

Aquarela do Brasil teve baixa audiência e sucessão de problemas nos bastidores


Edson Celulari, Maria Fernanda Cândido e Thiago Lacerda em Aquarela do Brasil
Edson Celulari, Maria Fernanda Cândido e Thiago Lacerda protagonizaram Aquarela do Brasil, minissérie exibida em 2000 - Foto: Divulgação/Globo

O Globoplay resgata nesta segunda-feira (2) a minissérie Aquarela do Brasil, exibida pela Globo em 2000. A história era ambientada nos anos 1940, durante a Era de Ouro do rádio e com os reflexos da guerra na Europa. Apesar do requinte na reconstituição de época, a produção foi marcada por outra guerra: entre o autor e o diretor, nos bastidores.

Em 60 capítulos, a trama acompanha a trajetória de Isa (Maria Fernanda Cândido), jovem que sonha com a carreira de cantora. Ela se envolve num triângulo amoroso com o militar Hélio (Edson Celulari) e o pianista boêmio Mário (Thiago Lacerda).

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De acordo com o site Teledramaturgia, o autor Lauro César Muniz e o diretor Jayme Monjardim tentavam repetir o sucesso do trabalho anterior da dupla, a minissérie Chiquinha Gonzaga (1999). O resultado, contudo, não foi como o esperado.

Quatro meses após ser exibida, o autor afirmou que foi censurado pela Globo. Lauro defendeu que foi levado a amenizar a imagem do exército na Segunda Guerra e a esvaziar a trama histórica e o tom crítico do texto para escancarar o triângulo amoroso central.

Edson Celulari em Aquarela do Brasil
Edson Celulari em Aquarela do Brasil, minissérie de volta no Globoplay - Foto: Divulgação/Globo

"Os atores desabafavam comigo porque gravavam cenas que sabiam que não iriam ao ar (...). Nossos soldados chegaram à Itália em estado de indigência, doentes, desdentados, descalços. Mas era preciso mostrá-los de maneira positiva para ter apoio do Exército e o resultado ficou patriótico demais."

Lauro César Muniz

O autor revelou que houve até uma reunião nos bastidores para solucionar a crise de audiência – a média foi de 21 pontos, quando a meta era 30. "Disseram que não dava audiência porque eu estava preocupado com História", disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo.

Na época, Jayme Monjardim negou. "A única dificuldade foi de horário", defendeu. O diretor citou o período de eleições e os jogos olímpicos. "Fiquei triste com os cortes, mas, às quartas, por exemplo, os capítulos tinham só 25 minutos, por causa do futebol. Nunca houve cortes em razão da audiência."

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Em entrevista ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, de André Bernardo e Cíntia Lopes, o escritor voltaria a falar sobre a polêmica com o diretor. “O problema é que ele não entendia o que eu estava querendo fazer. Ou, então, não gostava do que eu estava fazendo. Então o diálogo entre nós também começou a ficar difícil.”

“Ele alterava o texto, mudava ordens de cenas, editava para buscar mais ritmo, cortava as introspecções dos personagens, o que esvaziava a interpretação dos atores. E, muitas vezes, se dava ao direito de cortar cenas inteiras.”

Lauro César Muniz

Em meio às confusões nos bastidores, Aquarela do Brasil nunca foi reprisada, nem na Globo nem no Canal Viva, tampouco foi lançada em DVD, como quase todas as minisséries da época. Só retorna ao público agora, 24 anos depois, no Globoplay.

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