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Dona de opinião forte e âncora do mesmo jornal há mais de 25 anos: conheça Graça Araújo

Graça Araújo é jornalista renomada em Pernambuco


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Foto: Diogo Cavalcante/NaTelinha

Ela está há mais de 25 anos no comando de um telejornal local na faixa horária em que as emissoras regionais apresentam suas produções. Estamos falando de Graça Araújo, jornalista pernambucana que apresenta o “TV Jornal Meio-Dia”, na TV Jornal, afiliada do SBT em Recife. Quem a conhece, seja no vídeo ou no cotidiano, ratifica a firmeza e força que a mulher tem.

Essa convicção toda reflete nas opiniões que emite durante o noticioso - e que dão o que falar. Que o diga o comentário sobre a reforma trabalhista, feito em abril de 2017. “Acho que esse foi o de maior impacto. Só caí na real do que eu tinha dito quando vi a repercussão”, relata a apresentadora. Ao NaTelinha, Graça abriu sua vida nos três tempos verbais: passado, presente e futuro.

“Nunca fui contestada. Mas também nunca fui injusta ou leviana. Sempre tive muita liberdade”, explica Graça sobre os comentários. A opinião forte é sua marca. “Eu devo ter dado muito trabalho para os meus chefes, olhando assim, de hoje. Sempre fui muito marrenta, achando que ia fazer a diferença no mundo. Acho que fiz e até faço. Tenho a consciência tranquila que fiz minha parte”, reflete.

Ela chegou à TV Jornal em 1990 como chefe de reportagem. Passou um ano ajudando na formatação do “TV Jornal Meio-Dia”, no ar desde agosto de 1992. “Quando me chamaram para fazer o 'Meio-Dia', queriam um jornalismo opinativo. Talvez tenha sido o primeiro ou segundo jornal regional assim. Era eu, Geraldo Freire e Rhaldney Santos em uma bancada, num programa de 1h30, com muitos colunistas. Fizemos história”, relembra.

Eram outros tempos. “As lembranças são as melhores possíveis. De muita dificuldade, mas talvez por isso que conseguíamos fazer um produto melhor que o de hoje. Quanto mais dificuldade, mais depende de você, mais você apura, não é atraído pela facilidade da internet, das assessorias, das fontes que se tornaram inacessíveis. Hoje, por exemplo, você conversa com assessor. Não fala mais direto com o governador”, diz. “Mas sem saudosismo, porque se você tiver um capital humano bom, terá um produto de melhor qualidade. Tenho sorte de trabalhar em um sistema que me deu oportunidades”, pondera.

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Sobrevivência

Nascida em Itambé, cidade da Zona da Mata de Pernambuco, Graça foi para São Paulo aos três anos. “Tenho lembrança de uma infância bem sofrida. Você ser pobre e ainda órfã é complicado. Minha família fez o que a maioria fazia: migrava para SP em busca de trabalho. Isso me salvou, acredito, da estatística da mortalidade infantil”, diz ela, que começou a trabalhar com 14 anos.

O jornalismo entrou na sua vida na época em que dava expediente como secretária em uma revista. Originalmente, queria ser médica. “Eu via aquilo (da redação) e pensei: ‘Olha, isso é melhor que medicina’. Se você faz um jornalismo bem feito, é capaz de curar feridas melhor que uma cirurgia. E não só essa cura, como também ajudar a pessoa a pensar, a tirar conclusões”, afirma.

Formada nos anos 80 pela Faculdade Integrada Alcântara Machado, voltou para Recife em busca de experiência para trabalhar naquilo que sempre desejou: o rádio. “Eu não podia fazer estágio lá. Estágio paga mal. Eu era bem remunerada no emprego que tinha, e como sou arrimo de família não podia abrir mão de um salário equivalente a uns R$ 5 mil. Como ia pagar as contas?”, questiona. Graça guardou um dinheiro e rumou à capital pernambucana. “Mas fiquei seis meses sem conseguir nada. Quando consegui, foi em rádio FM, na Transamérica”, prossegue.

E assim começou sua carreira. Depois da Transamérica, foi para a Rádio Clube ser repórter de rua. Com a chegada da Manchete em Recife, conseguiu uma vaga na regional dos Bloch, conciliando seu trabalho na rádio e entrando para o veículo que a consagrou: “Sempre tive dois empregos na minha vida. Hoje tenho, mas não é uma questão de completar a renda como no passado”.

Além do “TV Jornal Meio-Dia”, Graça apresenta um programa na Rádio Jornal, vinculada à mesma empresa. “Eu acho que rádio presta mais serviço, diferente da TV, que chega a ser egoísta no trabalho que entrega. Mas fazer televisão é pesado. Um trabalho braçal que nem rádio ou jornal impresso chegam perto. E se você for perfeccionista como eu, meu Deus”, conta.

Hoje ela se vê mais tranquila que em outros tempos. O perfeccionismo desgasta. “Custa tua saúde isso. Hoje aprendi a relevar muita coisa. Jornalismo é muito apaixonante. Se você não tomar cuidado, brocha quando toma um furo, enlouquece quando faz uma descoberta, e aí você não é mais filho, pai, namorado, namorada”, afirma Graça Araújo, que admite ter se anulado muito pelo trabalho ao longo de sua vida.

Mas arrependimentos? “De jeito nenhum. Não teria chegado onde cheguei se tivesse feito diferente. Faria tudo de novo porque vi e vejo resultado. A contribuição que eu e minha equipe demos aos pobres, miseráveis, à classe média quando precisou da gente, às mulheres e sua luta”, defende.

E o empenho reflete na audiência. O “TV Jornal Meio-Dia” se destaca na grade da emissora. Exibido de segunda a sexta às 11h40, faz uma dobradinha vitoriosa com o "Por Dentro", apresentado por Cardinot. O telejornal conseguiu, em 2017, o melhor desempenho dos últimos seis anos, com média anual de 9,2 pontos, e por vezes empata ou alcança a liderança, como no dia 18 de janeiro, quando marcou 11 a 9 contra a Globo, que exibe o “Encontro” e o “NE1” durante o período. “A gente é vice, eventualmente bate, mas com consciência que temos um gigante em frente”, diz.

Lembranças

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Apesar da boa trajetória no Sistema Jornal do Commercio, Graça Araújo quase foi para a Globo em 1998. “Não ficou muito claro o que queriam, acredito que seria uma participação no 'NE1'. Mas não tenho nenhuma dúvida que não poderia fazer comentários. É outra linha editorial, outra proposta”, relembra. “A Globo perguntou o que eu queria para ir. Não pedi nada diferente do que ganhava na TV Jornal. Já quando a TV Jornal me perguntou o que queria para não ir. Pedi para trabalhar menos para poder elaborar melhor minhas pautas”, rememora.

Um de seus orgulhos enquanto jornalista é ter entrevistado todos os presidentes que passaram por Pernambuco, como Lula e Fernando Henrique Cardoso. “Também fiz a primeira entrevista de Maria Bethânia depois que ela fez as pazes com Recife”, recorda. A emoção também marca as memórias. “Já teve momento de chorar na bancada porque eu nunca tinha visto ninguém comendo lixo. Em São Paulo você via pobreza, mas não miséria como tinha aqui. Mostramos uma reportagem com famílias que se alimentavam do lixão da Ceasa. Aí caí no choro. Rhaldney (Santos, um dos apresentadores do jornal nos anos 90) teve que segurar o programa sozinho”.

Já quanto aos micos, ela só lembra de um, mas não foi ao vivo. “Foi numa entrevista com um vereador que nem lembro mais o nome. Ia falar ‘defecção’ e disse ‘defecação’. Mas também para quê eu fui usar essa palavra, né? Foi horrível, mas também só tive essa vergonha na carreira”, confessa.

Jornalismo

Graça Araújo é sincera sobre a profissão de jornalista. “Aconselho a pessoa fazer se for o que ela realmente deseja, o que vai dar felicidade. Se for por ‘osmose’, não. Pode até fazer, mas não recomendo. Porque quando você faz o que gosta, vai dar em algum lugar. No mínimo um ótimo profissional ajudando o mundo a girar melhor”, afirma.

“É fato que você vai encarar baixos salários no começo da carreira, como aconteceu comigo. Não se iluda. Mas alguém vai reconhecer um dia”, finaliza.

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