Notícia da chegada da CNN Brasil deixou redação da Globo News "em choque"
Canal do Grupo Globo terá que rever suas estratégias
Publicado em 16/01/2019 às 06:00
O anúncio ao mercado sobre o início das operações da CNN no Brasil, tendo o ex-vice-presidente de jornalismo da Record TV, Douglas Tavolaro, e o empresário Rubens Menin como sócios, caiu como uma bomba dentro da redação da Globo News.
Todos os jornalistas procurados pelo NaTelinha, contratados do canal de notícias do Grupo Globo, utilizaram o termo "em choque" para descrever a notícia da chegada da CNN Brasil, como começo de conversa com a reportagem.
Além disso, comemoraram este novo cenário surgindo no jornalismo do país, que teria a força de reverter a atual política de redução de salários que atingem os profissionais da imprensa como um todo. Internamente, para eles, a chegada da CNN Brasil pode trazer três efeitos imediatos à Globo News, que nunca sofreu uma concorrência, de fato, ameaçadora, nos seus 22 anos de existência.
De acordo com esses relatos, diante do licenciamento no país do canal de notícias americano, o Grupo Globo precisará desmontar todo o planejamento de mercado feito para a Globo News para os próximos anos, incluindo mudanças na prática atual da política de salários, renovação de contratos dos profissionais mais experientes e a estratégia da grade de programação.
Ainda comentaram que a partir de agora, a maior expectativa dentro da redação da Globo News será em torno dos primeiros nomes que deverão ser anunciados por Douglas Tavolaro para liderar, ao seu lado, a primeira fase de estruturação da CNN Brasil. "Isso será importantíssimo. Indicará o caminho editorial que o canal vai tomar no solo brasileiro. Todos aqui dentro estão suscetíveis a propostas da nova concorrente. Até meu chefe", justificou um jornalista do Grupo Globo, animado.
Guerra institucional
Analistas descrevem que a guerra que deverá ser travada entre Globo News e CNN Brasil nos próximos anos ocorrerá por um motivo que vai muito além do números de assinantes na TV paga e a audiência medida pela Kantar Ibope; é institucional. Lida com informação e política.
Por isso, o susto tomado dentro da redação do canal de notícias do Grupo Globo é muito mair que a chegada do Fox Sports, em 2012, e a compra do Esporte Interativo pela Turner, em 2013. Ambas iniciaram suas operações para brigar pela liderança do SporTV, que também pertence à Globosat, dentre os canais esportivos mais assistidos no Brasil.
A chegada da CNN Brasil
A reportagem apurou que antes dos executivos da CNN fecharem com o jornalista Douglas Tavolaro e Rubens Menin, dono da construtora MRV Engenharia, eles negociaram com os sócios da RedeTV! tendo o superintendente de Jornalismo, Esportes e Digital da emissora, Franz Vacek, como mediador, entre 2015 e 2017.
Foi o próprio diretor da RedeTV! quem levou a sugestão de ter a versão brasileira do canal de notícias durante sua participação no evento "Journalism Fellowship", promovida pela CNN há quatro anos na sua sede em Atlanta. Porém, o negócio acabou não vingando.
Sabendo do interesse dos executivos da CNN de licenciar sua marca no Brasil e o declínio das conversas com a RedeTV!, o canal de notícias foi procurado pelo Grupo Record, tendo à frente o então vice-presidente de jornalismo da emissora, Douglas Tavolaro.
Mas as negociações não avançaram pelo fato da CNN não querer a Igreja Universal, ligada diretamente à Record, envolvida no negócio.
A concretização da chegada da franquia CNN no país continuou de forma sigilosa, e na última segunda-feira (14), Douglas Tavolaro, homem de confiança de Edir Macedo, anunciou que deixou o cargo na Record TV, após 17 anos de serviços prestados, para se tornar sócio da CNN Brasil com Menin.
“Estamos muito satisfeitos em anunciar este acordo de licenciamento com nosso novo parceiro para lançar a CNN Brasil”, disse Greg Beitchman, vice-presidente de Vendas de Conteúdo e Parcerias da CNNIC, em comunicado divulgado à imprensa.