Elke Maravilha: Livro revela quem era a artista "além das perucas, saltos e batons"
Fotos e relatos inéditos mostram os bastidores da extravagante atriz, apresentadora e jurada, que morreu há 8 anos
Publicado em 31/10/2024 às 05:27,
atualizado em 31/10/2024 às 09:43
A vida de Elke Maravilha (1945-2016), marcada por acontecimentos sociais e políticos, ajuda a contar a história do Brasil e do mundo. Essa é uma das percepções de Ton Garcia, autor de um novo livro que, com fotos e relatos inéditos, busca manter vivo o legado da artista.
Elke Maravilha: Além das Perucas, Saltos e Batons, recém-lançado pela Editora Quixote+Do, não pretende ser uma biografia. É o resultado de um trabalho acadêmico de pós-graduação, adaptado para uma linguagem mais literária.
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O texto mescla pesquisa com a relação íntima entre o autor e a artista. Ton Garcia registrou conversas por telefone em que a própria Elke falava sobre sua personalidade marcante e passagens de sua trajetória – como a prisão durante a ditadura militar, nos anos 1970.
Nascida na antiga União Soviética, Elke veio ainda menina para o Brasil com a família, que sofria perseguição política. Começou a trabalhar como modelo nos anos 1960 e, a partir da década seguinte, teve carreira premiada no cinema e também virou um ícone da TV, como atriz, apresentadora e jurada de programas de calouros.
Com seus discursos progressistas e em defesa da diversidade, Elke se tornou madrinha da comunidade LGBTQIAPN+ e de outros grupos marginais. O livro também resgata as amizades com nomes célebres como Chacrinha (1917-1988), Nise da Silveira (1905-1999) e Zuzu Angel (1921-1976).
A relação conturbada com Silvio Santos (1930-2024) tem menos espaço. Elke travou batalhas com o dono do SBT no longo período em que foi jurada do Show de Calouros. Seu programa na emissora saiu do ar depois de abordar temas como casamento gay e homofobia.
O projeto ressalta a importância cultural da artista, distanciando-a da imagem caricata tantas vezes atribuída pela mídia. O vestuário, com maquiagem, roupas e adereços extravagantes, era uma expressão de sua individualidade, não uma fantasia. “Fantasia é quando você veste algo que você não é”, ela diz, em um dos trechos.
Elke Maravilha morreu em agosto de 2016, aos 71 anos, vítima de falência múltipla de órgãos ocasionada por alguns problemas de saúde, como diabetes.
O livro investiga três esferas da vida da artista: construção identitária, mídia e moda. Os relatos da própria Elke e a imagem que ela criou para si servem de material para a publicação, que deve preceder uma exposição de seu acervo no Museu da Moda, em Belo Horizonte, onde ela passou parte da juventude, e um espetáculo musical.
Leia a entrevista com Ton Garcia, autor do livro Elke Maravilha: Além das Perucas, Saltos e Batons
NaTelinha: Você conheceu Elke Maravilha em 2014. Como foi o primeiro contato com ela e o contexto em que isso aconteceu?
Ton Garcia: Na época, eu fazia trilhas sonoras para os desfiles no São Paulo Fashion Week do estilista Ronaldo Fraga. Ele falava muito bem da Elke, e eu sempre estava em São Paulo. Foi então que o SESC-SP ofereceu uma palestra com a Elke e eu me inscrevi e fui.
“Logo de cara, quando ela entrou na sala, já veio me beijar. Quando falei do Ronaldo, ela mandou um beijo no cu para ele e disse que agora eu seria amigo dela também. Trocamos telefone e, a partir daquele momento, a amizade foi crescendo e se tornando além de pessoal, profissional.”
NaTelinha: Você acompanhou os dois últimos anos de vida da Elke. Como a artista passou esse período?
Ton Garcia: Maravilhosa! A gente se falava quase todos os dias. Ficávamos horas no telefone, virando noites e conversando sobre vários assuntos, como os que optei em contar no livro. Quando eu ou ela desligávamos o telefone, logo em seguida um ou outro ligava novamente, e a conversa ia até as 6 horas da manhã.
Elke tinha uma vida bem ativa nesse período, com gravação de programas, filmes e ensaios do seu espetáculo, que foi o último, Elke Canta e Conta. Ela tinha um quadro no Fantástico com Berta Loran e Vilma Nascimento em que elas davam conselhos para as pessoas.
Elke também estava gravando o filme Lua em Sagitário, com o querido Serguei. Antes disso, chegou a gravar também o filme A Lenda do Gato Preto. Infelizmente, ela não chegou a assistir esses filmes.
Ela vivia no Rio de Janeiro, no seu apartamento no Leme, com o seu irmão Frederico Grunupp, que faleceu em 2019, e com a sua sobrinha Natasha Grunupp.
NaTelinha: Elke teve uma relação conturbada com Silvio Santos. O que ela falava sobre ele?
Ton Garcia: Eu e Elke sempre respeitávamos muito a opinião um do outro. Eu sempre deixava ela falar o que queria, e nunca falamos do Silvio Santos. Por outro lado, ela sempre mencionava o “Painho” Chacrinha, que ela considerava a grande referência em sua vida profissional.
NaTelinha: Você tem acesso a um legado deixado pela Elke, além dos conteúdos das conversas que teve com ela. Pensa em outros projetos para o futuro com esse material?
Ton Garcia: Sim, tenho vários projetos para o futuro. O artista Quihoma Isaac, que fez a capa do meu livro, irá expor várias outras artes que ele já fez da Elke em aquarela, e nós pensamos em fazer um livro com essas pinturas.
Sobre o acervo material que ela deixou comigo, penso em uma exposição no Museu da Moda de Belo Horizonte, juntamente com o musical que será feito pela atriz Mariana Gallindo.
Elke Maravilha: Além das Perucas, Saltos e Batons
De Ton Garcia
184 páginas
Editora Quixote+Do
Evento de lançamento em 9 de novembro, às 11h, na Livraria Quixote, em Belo Horizonte
Mais informações no perfil @falandodeelke no Instagram
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