Entrevista exclusiva

Kika em Renascer, Juliane Araújo afirma: "Toda mulher já viveu uma relação abusiva"

Atriz avalia abordagem no remake e compara sua personagem com a original, vivida por Claudia Lira em 1993


Juliane Araújo como Kika na novela Renascer, em exibição na Globo
"Kika era uma personagem muito revolucionária", diz Juliane Araújo sobre papel na versão original de Renascer, de 1993 - Foto: Globo/Paulo Barros

Em Renascer, Juliane Araújo interpreta Kika, uma mulher bem-sucedida, esclarecida e independente que, mesmo assim, vive uma relação tóxica com José Bento, papel de Marcello Melo Jr. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, a atriz avalia a abordagem dada ao tema pela novela da Globo e compara sua personagem no remake com a “original”, vivida por Claudia Lira na primeira versão da história, em 1993.

“A maior diferença da estrutura da personagem é o tempo. Kika em 1993 era uma personagem muito revolucionária. Me lembro de uma cena em que vi Claudia com uma gravatinha e calça, com os pés na mesa. Era um arquétipo que não se via com facilidade: uma mulherona assim, com um figurino mais transgressor comparado ao das outras personagens”, comenta Juliane Araújo.

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A atriz compara: “A personagem segue assim, só que em 2024 isso já não salta mais aos olhos, e que bom! Hoje, vemos mais mulheres nesse lugar, ocupando um cargo importante, donas de si, com opiniões fortes”. Além de atriz, ela também é roteirista e tem experiência atrás das câmeras, como assistente de direção. Em 2020, lançou um livro de poesias, Chão Vermelho.

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Aos 34 anos, ela diz que “toda mulher já viveu uma relação abusiva ou algum grau de toxicidade em uma relação”. E acrescenta: “Quando não é vivido por nós mesmas, ouvimos relatos de pessoas próximas: mães, irmãs, amigas. É muito penoso saber que isso ainda é o cotidiano da mulher, as narrativas abusivas dentro de relacionamentos”.

“Não foi difícil buscar na minha trajetória, ou em relatos que ouvi a vida inteira, para a construção da Kika. Acho que narrativas assim, ou parecidas com essa, são um ponto em comum para quase todas as mulheres.”

Juliane Araújo

Engana-se quem pensa que o tema é coisa do passado, diz Juliane. “Falar sobre independência, feminismo e tudo que isso abrange ainda é importante e necessário. Ainda temos barreiras imensas e diversas, e ainda existem muitas normas sociais, culturais e institucionais em que mulheres são prejudicadas.”

Leia, na íntegra, a entrevista com Juliane Araújo, a Kika de Renascer

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NaTelinha: Kika vive uma relação tóxica com José Bento em Renascer. Você buscou inspirações na vida real para mostrar esse tema na ficção?

Juliane Araújo: Toda mulher já viveu uma relação abusiva ou algum grau de toxicidade em uma relação, ou em mais de uma, infelizmente. Quando não é vivido por nós mesmas, ouvimos relatos de pessoas próximas: mães, irmãs, amigas. É muito penoso saber que isso ainda é o cotidiano da mulher, as narrativas abusivas dentro de relacionamentos.

A Kika vive uma relação de muitos anos com o Bento; ela se sente frustrada, explorada financeiramente, e por muitos motivos não consegue virar a página. Existe um percurso que uma pessoa que vive em uma relação assim percorre, e é sempre doloroso. A novela começa com uma tentativa de recomeço deles; esse é o ponto em que estamos.

Essas relações são sempre baseadas em ciclos assim: brigas, términos, promessas e tentativas. Não foi difícil buscar na minha trajetória, ou em relatos que ouvi a vida inteira, para a construção da Kika. Acho que narrativas assim, ou parecidas com essa, são um ponto em comum para quase todas as mulheres.

NaTelinha: Como você avalia a abordagem do machismo e do lugar do feminino na sociedade por meio da sua personagem? De que forma esses temas se revelam com a Kika?

Juliane Araújo: Ela tem um discurso aprimorado, claramente uma mulher que tem uma observação ativa para isso. O Bento é o ponto fraco em seu discurso (risos). Ele quase nega qualquer empoderamento dela em relação ao feminismo, já que é um cara muito equivocado e ela está com ele há mais de 10 anos, entre idas e vindas, mas isso também é muito comum.

"Ainda é uma desconstrução grandiosa e diária, até para mulheres que se informam e praticam mais ativamente o feminismo; fomos criadas em um formato, e é sempre muito batalhado sair dele."

Juliane Araújo

Para Kika, também é assim. O que ela fala para Mariana (Theresa Fonseca), para Eliana (Sophie Charlotte), é o que ela realmente acredita, mas na prática as coisas se confundem um pouco. Mas ela ainda assim tem o olho aberto, propõe e provoca outras mulheres. Ela também está em exercício, tentando levar mais na prática o que acredita, tanto que terão muitas cenas de brigas, discussões e conversas com o Bento.

NaTelinha: Chegou a assistir à primeira versão de Renascer? Em caso positivo, quais suas impressões e, na sua opinião, qual a principal mudança no remake?

Juliane Araújo: Assisti muito pouco, mas sim. O que me chama atenção em Renascer, mesmo na primeira versão, é a poesia. É lindo ver o que foi filmado lá em 1993, mesmo com menos aparatos tecnológicos. A narrativa visual não envelheceu; é bonito, conta história.

O que mudou foram as abordagens, a preocupação de contar essa história com mais cuidado e respeito, seguindo a época que estamos, as discussões que hoje elaboramos e que são necessárias. Bruno Luperi tem feito isso; é bonito ver que o ser humano se aprimora, a sociedade também, mesmo aos trancos e barrancos.

As histórias ganham mais rostos, a realidade salta; é uma forma de fazer política, contar histórias e abrir discursos para os avanços de gêneros, de multiplicidade de povos, de lutas, de culturas. A escalação do elenco também foi muito acertada; Marcela Bergamo é uma gênia.

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NaTelinha: Teve algum contato com Claudia Lira, que interpretou a personagem em 1993?

Juliane Araújo: Ainda não, mas o que vi da primeira versão, Claudia fez um trabalho muito bonito, será um prazer conhecê-la qualquer hora.

NaTelinha: O que a Kika de 2024 tem de diferente da de 1993?

Juliane Araújo: A maior diferença da estrutura da personagem é o tempo. Kika em 1993 era uma personagem muito revolucionária. Me lembro de uma cena em que vi Claudia com uma gravatinha e calça, com os pés na mesa. Era um arquétipo que não se via com facilidade: uma mulherona assim, com um figurino mais transgressor comparado ao das outras personagens.

A personagem segue assim, só que em 2024 isso já não salta mais aos olhos, e que bom! Hoje, vemos mais mulheres nesse lugar, ocupando um cargo importante, donas de si, com opiniões fortes.

Mas engana-se quem pensa que o tema é passado. Falar sobre independência, feminismo e tudo que isso abrange ainda é importante e necessário. Ainda temos barreiras imensas e diversas, e ainda existem muitas normas sociais, culturais e institucionais em que mulheres são prejudicadas.

Fora isso, somos atrizes diferentes que vivenciaram processos diferentes, e que, consequentemente, elaboram a personagem de formas diferentes, nunca será igual.

NaTelinha: O que pode nos adiantar sobre o destino da sua personagem na novela?

Juliane Araújo: Por ser um remake, acho que muita coisa já foi dita e vista. Qualquer coisa que eu disser entrará no campo do spoiler (risos). A novela é linda, grandiosa, vale a pena acompanhar em tempo real. A Kika é uma personagem por quem tenho muito amor; está sendo um prazer contar essa história.

Assista à abertura de Renascer:

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