Roberta Rodrigues lembra racismo nos bastidores da Globo: "Passei meus 40 anos deprimida"
O caso aconteceu quando ela integrava o elenco de Nos Tempos do Imperador
Publicado em 02/11/2022 às 04:00,
atualizado em 02/11/2022 às 11:15
Roberta Rodrigues acaba de completar 41 anos e teve um aniversário cheio de reflexões, embora bem diferente do que aconteceu em 2021. Quando completou suas quatro décadas de vida, a atriz era uma das vítimas de um caso que culminou em denúncias de racismo contra o ex-diretor da Globo Vinícius Coimbra, com quem ela trabalhou em Nos Tempos do Imperador (2021-2022). "Eu tenho refletido muito sobre a vida, desde o ano passado. Ano passado foi um ano muito significativo pra mim, eu passei os meus 40 anos deprimida devido a uma questão de racismo que me fez refletir bastante e me fez ter um encontro com a minha ancestralidade, com o meu chamado", conta, em entrevista ao NaTelinha.
"Hoje eu tenho consciência de que a gente não tem domínio de nada na vida. Por isso, eu aprendi algo que jamais imaginei que conseguiria, que é viver uma coisa de cada vez. Não planejo mais nada daqui a três dias ou daqui a uma semana. Eu vivo um dia de cada vez e depois eu durmo tranquila, coisa que eu não fazia há muito tempo. Aí, quando o outro dia começa, começo ele zerada, que era algo que eu jamais imaginei que conseguiria fazer. Descobri que cada minuto é vida, cada segundo é vida, cada hora é vida, então é o que a gente pode fazer de melhor a cada segundo. Essa é minha maior reflexão. E estou sendo grata por tudo, estou procurando a beleza no olho do furacão", completa.
A carioca diz que, desde pequena, sempre se posicionou e que, para ela, artista é aquele que é capaz de ter empatia, sensibilidade para ouvir, entender e respeitar a escolha do próximo, sem deixar de expor a própria opinião. "Eu sempre fui esse tipo de pessoa, sempre me coloquei dentro do todo, sempre pensei de uma forma geral, nunca pensei no individual, até porque eu aprendi, no Nós do Morro, o coletivo. Nascida e criada no morro do Vidigal, a política, automaticamente, faz parte da minha vivência, automaticamente ela move a nossa história, o nosso crescer, o nosso viver, mesmo a gente não tendo consciência disso", pontua.
"Sempre fui uma pessoa que quis muito saber sobre os meus direitos, sobre tudo, em relação a tudo, até para saber me colocar. Eu me posiciono dentro do que eu acho que é de direito, meu e do meu próximo, e dentro do que eu acho que é de direito de qualquer cidadão. Eu acho que eu, enquanto artista, se tenho uma voz, se consigo atingir um lugar de maior expansão, de maior respeito, eu vou usar minha voz pra isso."
Durante o período eleitoral, Roberta usou as redes sociais para declarar apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e confessa que chegou a chorar com a vitória do petista porque, apesar de deixar claro que não está em defesa de nenhum partido político, sabe que a democracia é algo fundamental. Linda Flor, filha de cinco anos da atriz com Guilherme Guimarães, fez perguntas à mãe sobre os candidatos e tirou as próprias conclusões, levando o debate para a escola. "Eu vejo que ela está indo pelo caminho certo e eu estou cumprindo com a minha missão", celebra.
Roberta Rodrigues avalia trajetória e lamenta falta de espaço: "Tenho mais pra mostrar"
Com mais de 20 anos de carreira, Roberta Rodrigues nunca enxergou nenhum trabalho como grande ou pequeno, mas admite que hoje, quando começa a avaliar sua trajetória, se sente um pouco dolorida. A atriz diz que tem consciência de seu potencial e do quanto ela poderia se doar, mas que, muitas vezes, faltaram boas oportunidades. "Coisas que eu tive de muita importância foram coisas muito pontuais, em que eu tive um espaço maior para mostrar meu trabalho. Foram coisas muito pontuais, de pessoas que realmente acreditam em uma transformação, pessoas que têm uma mentalidade à frente", destaca.
"Mas não desdenho de nenhum tipo de trabalho que eu tenha feito, nem um que eu tenha entrado pra dar uma fala, porque eu acho que tudo vale pra gente construir a nossa estrada. Senão, eu não teria me transformado na Roberta que eu sou hoje. Sou muito grata a tudo. Mas também fico triste porque eu sei que meu potencial é muito além. Hoje tenho certeza disso e que eu poderia ter mostrado muitas coisas que não mostrei por falta de espaço, por não me darem esse espaço."
Perguntada sobre qual convite profissional encheria seus olhos atualmente, a veterana comemora o fato de essa proposta já ter chegado e ter vindo de Jose Junior, fundador do Grupo Cultural AfroReggae, que chamou a artista para ser a protagonista de Veronika, série do Globoplay que começará a ser gravada em janeiro de 2023. "Ele foi o cara que acreditou em mim. Me convidou e me fez um desafio: se eu conseguiria emagrecer em um mês. Mas esse desafio não era questão só de estética, mas de ele ver a minha gana, e ele me convidou pra ser Veronika".
"É uma série incrível, de uma mulher preta, que veio da favela e conseguiu se transformar em uma grande advogada. É um roteiro incrível, acho que é o sonho de qualquer atriz, independentemente de ser preta ou branca. Mas Veronika é uma mulher preta, acho mais do que justo. Esse convite chegou. Ele falou 'que loucura, isso era pra ter acontecido antes'. Aí eu penso que nada era pra acontecer antes ou depois. A ordem da nossa vida não é a gente que decide. Confesso que, hoje, parando pra pensar, tá sendo tudo tão lindo que era pra ter acontecido agora, nas mãos dele", conta.
Roberta diz que dedica sua primeira protagonista na TV a todas as atrizes pretas que são capazes, mas que nunca tiveram chance de mostrar seu trabalho, e que estrelar essa produção não é sobre ela, vai muito além. "Acho que, quando você se posiciona, determina coisas, se coloca para o mercado de uma outra forma, as pessoas começam a entender que chega, né? Que você já tá em um outro patamar. As pessoas precisam entender isso, que a gente quer mais. Eu tenho muito mais para mostrar. É sobre fazer essas transformações", pontua.
Além de viver Veronika, a atriz rodará o longa de Tô de Graça, humorístico do Multishow, fará uma participação em Arcanjo Renegado e ainda estará em outros projetos que não podem ser divulgados. "Todos os trabalhos que estão vindo são trabalhos incríveis, que me levam para outro lugar. Que isso possa acontecer com outras pessoas também, outras pessoas pretas, especificamente, que somos nós, que não temos tanta ascensão e tantas oportunidades de bons personagens, bons trabalhos".
"Eu me defino como uma pessoa que sente a dor do mundo, que jamais vai ser solitária, que jamais vai viver para o próprio umbigo. Nada do que eu fiz na minha vida, até hoje, foi pensando 'isso aqui é só pra mim'. Pelo contrário, tudo o que eu faço na minha vida é sempre pensando que aquilo ali vai gerar algo para outras pessoas. Muita gente até fala que eu sou muito otária. 'Ai, tudo você pensa que isso que tá fazendo pode ajudar outras pessoas'. Passei a vida inteira ouvindo que eu era uma otária, mas eu sempre falei 'ok, eu sou assim, tudo bem'. Aqueles que se acham muito espertos, que sejam, segue lá o caminho. A minha vida tá fluindo super bem, tenho uma família maravilhosa, faria tudo de novo, tudo igual. Quem acha que eu sou otária perde, porque a minha vida continua fluindo no mesmo ritmo. Então eu me defino como uma pessoa que veio pra se doar pro mundo."
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