Kátia conta que Roberto Carlos fez tudo por sua saúde visual: "Um anjo na minha vida"
Ícone dos anos 1980, cantora fala da amizade com o Rei, que completa 80 anos nesta segunda-feira, 19 de abril
Publicado em 19/04/2021 às 05:00,
atualizado em 19/04/2021 às 10:02
A história da amizade entre Kátia e Roberto Carlos se confunde com a própria trajetória de vida da cantora. Ícone da década de 1980, hoje aos 59 anos, a artista foi apadrinhada pelo Rei, responsável por seus primeiros passos para o sucesso na música. O veterano investiu não só em sua carreira, mas quis fazer também que a afilhada, deficiente visual desde o nascimento, pudesse enxergar.
É o que Kátia revela em entrevista exclusiva ao NaTelinha por ocasião dos 80 anos de Roberto Carlos, completados nesta segunda-feira, 19 de abril: "Ele sempre foi um anjo na minha vida. Tentou fazer tudo pela minha saúde visual quando eu era criança, porém era algo que estava fora do alcance da medicina". A cegueira da cantora foi resultado de complicações na hora no parto.
"Nossa parceria nasceu quando eu nasci. Nossas famílias se conhecem desde muito jovens, então nossa amizade veio antes de mim. Apesar de o Roberto morar em São Paulo, sempre foi uma pessoa muito presente na minha vida. Assisti a vários programas dele e sempre ia aos shows no Canecão quando ele vinha ao Rio", recorda a cantora.
Roberto Carlos apostou em Kátia quando os cegos não tinham voz ativa, segundo cantora
"Na minha carreira, ele foi tudo. Acreditou em mim quando, na verdade, eu era só uma criança que foi mostrar as músicas para o amigo do meu pai. Nunca pensei que pudesse cantar aquelas canções ou qualquer outra. Compunha com 12 ou 13 anos e tive a coragem de pegar meu violão para mostrar as músicas para ele", conta Kátia.
Ainda nos anos 1980, Roberto indicou a jovem cantora para um teste em uma gravadora. Logo ela gravou seu primeiro disco, um compacto simples com a música Tão Só, apresentada depois no Fantástico e pontapé inicial para a fama. Depois, o Rei, em parceria com Erasmo Carlos, ainda a presenteou com uma composição: Lembranças, que se tornaria um dos grandes sucessos de sua carreira e um marco na amizade entre eles.
"O Roberto fez tudo isso não só por mim, mas por todo um segmento que tem mais é que ser grato a ele. Era uma época em que os deficientes visuais não tinham voz ativa em lugar nenhum. Alguns se destacavam na informática, mas eram poucos. Creio que isso não só me ajudou, como beneficiou uma série de outras pessoas. Começaram a ver os deficientes visuais de uma outra forma. Muitos me falam que eu fui motivo de inspiração. A família falava: 'Se aquela moça conseguiu, você também consegue'".
Kátia e Roberto mantêm contato até hoje: "Amigo certo das horas incertas"
Uma amizade como essa é para a vida toda. Apesar de distantes por causa da pandemia, eles conversam com frequência. "O Roberto é o amigo certo das horas incertas, um grande conselheiro, sempre amável e carinhoso. Procuro falar com ele dentro do possível, por ele também ser uma pessoa muito ocupada, com atribuições e problemas como todos nós temos."
Há alguns anos, Kátia voltou aos holofotes por conta do hit oitentista Qualquer Jeito, famoso pelo verso "Não está sendo fácil...", que virou meme nas redes sociais. A popularidade é motivo de alegria para a intérprete. A letra, segundo ela, mantém uma mensagem oportuna para esse momento de pandemia da Covid-19.
"Não está sendo fácil mesmo, para todos nós, esses tempos tão duros para o mundo inteiro. Para mim, [o verso ter se tornado meme] é uma realização. Muitos cantores da década de 80 imortalizaram suas canções. Fico muito feliz por essa música também ter atravessado gerações."
Para enfrentar depressão e pandemia, Kátia investiu em uma web rádio
Kátia se mantém em isolamento social, com contato estrito à família. Os médicos frisaram a recomendação, já que a saúde da artista está debilitada por conta da depressão, doença desencadeada após a morte de sua mãe, em 2017, o que também a afastou dos palcos. Ela se preparava para retomar os projetos musicais quando teve início a proliferação do coronavírus, no ano passado.
"Não me aposentei, mas não tinha coragem mais de fazer nenhum trabalho. Faço questão de tornar isso público para que as pessoas com o mesmo problema se mexam e se tratem, porque é uma doença séria, que tira todo seu ânimo e sua garra. Sempre fui alegre e pra cima e nunca imaginei que pudesse passar por isso na minha vida", diz a veterana, ainda em tratamento.
A pandemia adiou alguns trabalhos, mas, em casa, ela segue uma pesquisa sobre música e tecnologia. Além de cantora e compositora, Kátia é locutora, produtora fonográfica e consultora em tecnologia para deficientes visuais em plataformas digitais. Desde o início da pandemia, investiu em uma web rádio, o Studio K (www.radiostudiok.com.br), com o objetivo fundamental de incentivar e dar oportunidades aos cegos.
Um de seus programas é intitulado Roberto Carlos Entre Amigos. Nesta data em que o Rei completa 80 anos, Kátia envia um recado ao padrinho artístico: "Eu e minha família o amamos muito. Estamos aqui sempre. Agradeço a espiritualidade por tê-lo colocado em nossas vidas nessa encarnação. É sempre uma grande alegria e um privilégio ouvir a voz dele".
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