Mar do Sertão desperdiça uma boa história por falta de ousadia
Novela tinha potencial que acabou desperdiçado porque a história não sai do lugar
Publicado em 10/02/2023 às 06:39,
atualizado em 10/02/2023 às 14:49
Quando estreou, Mar do Sertão parecia uma novela promissora e que resgataria o gosto para o telespectador se envolver com a história na faixa das 18h. Agora, já se preparando para entrar na reta final, a trama de Mário Teixeira não se consolidou como se esperava e se tornou mais uma produção desperdiçada por falta de ousadia autoral para fazer os conflitos caminharem.
O triângulo envolvendo Candoca (Isadora Teixeira), José (Sérgio Guizé) e Tertulinho (Renato Góes) tinha tudo para se tornar uma das histórias mais atraentes dos últimos meses, envolvendo o telespectador em cada virada. O problema é que as viradas prometidas não aconteceram e todo mundo ficou a ver navios. Quem esperava melodrama e folhetim, recebeu esquetes dramáticas que iam do nada para lugar algum.
Tudo em Mar do Sertão cheirava bem. Seja os protagonistas e até os antagonistas, em outro grande trabalho de José de Abreu de Débora Bloch. A tirar pelo elenco deslumbrante, os vilões também se perderam quando saíram do núcleo central e passaram a ter tentáculos diferentes. Deodora que, em tese, deveria ser a mentora do filho para preparar as grandes maldades, virou uma mera coadjuvante ao dar engajamento para outras personagens, como Xaviera (Giovana Cordeiro) e Pajeú (Caio Blat).
Por falar nisso, outro erro grave da novela foi tirar espaço do triângulo amoroso e destacar Canta Pedra. Desde o primeiro capítulo era possível notar que o autor bebia da água de produções como Cordel Encantado (2011) e O Bem Amado (1973). Diferente das duas, no entanto, Teixeira não conseguiu transformar a pacata cidadezinha num plano de fundo interessante e resumiu tudo numa disputa estapafúrdia pelo poder da prefeitura.
Com a sensação de que os planos do novelista eram usar Canta Pedra como um recurso para fazer referências engraçadinhas à política brasileira, Teixeira errou ao transformar um núcleo que poderia ser muito bem usado em apenas uma esquete com cheirinho de Zorra Total.
Por outro lado, é verdade que Xaviera virou um fenômeno e caiu nas graças do povo, mas mesmo ela teve uma história que funcionou à base do freio de mão puxado. Foram meses andando no mesmo lugar, como uma mulher falida que encontrou na pobreza uma forma de ser feliz. Como se isso não bastasse, ela ainda volta para o ponto de partida ao se envolver novamente com Tertulinho, exatamente onde estava no primeiro capítulo da trama.
Mar do Sertão se prepara para sair de cena no próximo mês e ficará uma sensação de que poderia ser mais, muito mais. A expectativa era de uma das grandes produções do horário das seis e o que se entregou foi uma completa falta de coragem para avançar em todos os núcleos.
