Como Poliana fez o SBT se perder e interromper sequência de sucessos
História da personagem por Sophia Valverde foi divisor de águas na programação
Publicado em 03/08/2024 às 09:49
Desde 2012 investindo em folhetins infantis, que agora ganhou a denominação de novela para a família, o SBT vem enfrentando um problema costumaz desde a pandemia de Covid-19: a perda de audiência. Todas as redes de TV enfrentam o mesmo mal, tendo seu patamar substancialmente diminuído em números de pontos no Ibope.
Com as novelas, isso não é diferente. Ainda que exista diversas outras mídias para que uma história seja consumida e esteja até mais difícil mensurar seu sucesso em termos absolutos - vide menções de streaming e visualizações na web como termômetro do diretor de A Caverna Encantada - é inegável que a tradicional medição de audiência ainda tem um peso extremamente relevante.
+ A Caverna Encantada estreia com a menor audiência das infantis do SBT desde 2012
O SBT lidou só com sucessos infantis durante uma década inteira. Apostou em histórias já testadas e aprovadas pelo público como Carrossel (2012-2013), Chiquititas (2013-2015), Cúmplices de um Resgate (2015-2016) e Carinha de Anjo (2016-2018). Só tiros na mosca.
Até que chegou As Aventuras de Poliana, em 2018. Inspirada no livro Polyanna, de 1913, a emissora e a autora Íris Abravanel tiveram o maior desafio, que era de criar histórias sem as tantas referências ou base do original. A obra protagonizada por Sophia Valverde provocou sérias sequelas aos produtos seguintes.
Como Poliana mudou o curso dos sucessos no SBT
As Aventuras de Poliana começou promissora. A trama chegou a bater 17 pontos de média e acumular uma média semanal de 16, mas passou a perder fôlego ao passo que realmente faltava história pra contar.
Ex-vice presidente do departamento artístico do SBT, Fernando Pelégio é um ferrenho defensor de novelas a perder de vista. No ano passado, chegou a escrever em sua rede social que não pretendia diminuir a duração delas e utilizava produtos dos Estados Unidos como exemplos para defender sua tese.
Em uma recente entrevista ao canal de José Armando Vanucci no YouTube, afirmou sem qualquer cerimônia: "Se fosse por mim, Carrossel estava no ar até hoje". Para ele, a novela é um transatlântico de R$ 60 milhões que precisa se pagar, e diluir isso ao longo dos incontáveis capítulos é uma boa solução.
Novelas longas sem histórias estão fadadas a perder público. Arrastar uma trama pelo simples fato de torná-la mais barata pode - e vai - acarretar em problemas maiores. Afinal de contas, se isso é tão benéfico, por que a Globo não fez de O Rei do Gado um Duque [título com mais poderes] do Gado, por exemplo?
Uma criança em idade escolar que se dispôs a acompanhar a história de Poliana em 2018, estava entrando na faculdade em 2023. É simplesmente surreal. Obviamente tivemos um enorme hiato de produções aí, mas ao todo, a saga teve embasbacantes 871 capítulos.
Após Poliana, ladeira
Claro que não foi só isso que colaborou para a fuga do público na TV. O SBT abusou da sorte. Abriu novo horário de novelas infantis com reprises, colocou todas elas em um looping preguiçoso e hoje colhe os resultados que beiram o irreversível.
As produções também têm deixado a desejar. A Infância de Romeu e Julieta está longe de ser brilhante em todos os aspectos. A Caverna Encantada ainda é cedo para dizer em que prateleira está, mas vai ser necessário um esforço hercúleo para despertar a vontade do público em acompanhar ainda que seja extraordinária.
A novelinha atual tem marcado 4 pontos na Grande SP, índice inimaginável para as novelas da faixa até um tempo atrás. Por outro lado, é maior do que a média dia do SBT e está no mesmo patamar que outras atrações do horário nobre.
Houve uma perda de público natural. O SBT não vinha fazendo muito retardar esse processo, até que nessa sexta-feira (2) anunciou um teste: reexibirá os primeiros capítulos de A Caverna Encantada na faixa das 18h30 a partir da próxima semana. É uma tentativa. A ver.
Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br ou no Twitter, @tforatto