Quase 10 anos sem produzir uma novela adulta: Para onde caminhará a dramaturgia do SBT?
De 2012 pra cá, SBT preferiu investir em longas novelas infantis
Publicado em 04/01/2020 às 08:45,
atualizado em 10/10/2022 às 09:57
Em janeiro de 2012, ia ao ar a última novela adulta inédita brasileira do SBT: Corações Feridos, de Iris Abravanel, que fora gravada no ano de 2010. A última produzida, no entanto, foi Amor e Revolução, em 2011, sob a autoria de Tiago Santiago.
De lá para cá, o SBT descobriu um filão valioso: o das novelas infantis, com remakes de histórias que fizeram sucesso na emissora em outros tempos. O tiro tem sido certeiro. Todas até aqui atingiram as expectativas. Alguns podem dizer que até superaram.
O fato é que Carrossel, a primeira, lá já no longínquo ano de 2012, recolocou o SBT na briga pelo segundo lugar e o tirou do marasmo, provando que o folhetim não foi um sucesso esporádico. Na sequência, vieram Chiquititas, Cúmplices de um Resgate, Carinha de Anjo e a interminável As Aventuras de Poliana - esta original, livremente inspirada no livro Pollyanna, de Eleanor H. Porter.
Sem previsão exata de término, o SBT mergulha em um universo do qual se tornou de mestre e provavelmente não abrirá mão. O segundo horário de novelas, que já foi cogitado por anos, se tornou uma lenda e não existe a possibilidade de se tornar real.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, já dizia que novela é quem muda a posição de uma emissora. Não por acaso, foi assim que a Globo chegou ao primeiro lugar. E dessa maneira também que a Record passou o SBT no fim dos anos 2000: investindo em novelas.
Mercado competitivo
Nos últimos anos, é inegável que o mercado se abriu. Canais de TV por assinatura produzem aos montes, produtoras surgem e profissionais é que não faltam.
Entre 2008 e 2011, quando o SBT havia rompido com a Televisa, parecia que o negócio ia engrenar. A mulher de Silvio Santos, Íris, se propôs a escrever e o patrão, em um contra-ataque à Record por ter lhe tirado Gugu Liberato (1959-2019), contratou Tiago Santiago, que assombrou a Globo com Prova de Amor (2005-06), Caminhos do Coração (2007-08) e Os Mutantes (2008-09).
Santiago, no entanto, escreveu somente duas novelas que foram ao ar: Uma Rosa com Amor (2010) e Amor e Revolução (2011). Ao deixar a emissora, em 2013, ele deixou outras três obras inéditas, que nunca saíram do papel.
Todos esses acontecimentos fazem valer a reflexão: Qual caminho a dramaturgia do SBT tomará nos próximos anos?
No momento, só existe a perspectiva de continuidade. Ou seja, seguir investindo em longas e intermináveis novelas infantis e continuar reprisando todas elas em um looping infinito. O acervo já vai acabar, aliás.
Com tantas maneiras de se colocar uma novela no ar e que não é novidade - já que o SBT fez isso na década de 1990, por exemplo, com O Direito de Nascer em parceria com uma produtora em 1997 e só levada ao ar em 2001 -, é estarrecedor que a emissora se mantenha tão estagnada.
Isso sem contar que tem autor dando sopa. É o caso de Aguinaldo Silva que não teve seu contrato renovado com a Globo. Mas, pensar em uma hipótese dessas beira a insanidade, já que o SBT não tem a menor ambição.
Thiago Forato é jornalista, escreve diariamente para o NaTelinha. Assina a coluna Enfoque NT desde 2011. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br ou no Twitter, @tforatto