Globo e escolas se preparam para mudança radical nos direitos de transmissão do Carnaval
Exibição das escolas de samba do Rio na emissora deve passar por profundas transformações nos próximos anos
Publicado em 19/02/2023 às 11:45
A relação financeira da Globo e as escolas de samba do Rio de Janeiro deve passar por uma forte mudança no Carnaval 2024. Do lado da emissora, conta o fato da transmissão deste ano ter vendido apenas uma das cinco cotas de patrocínio que foram disponibilizadas no mercado publicitário. Do lado da LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) existe a intenção de depender cada vez menos do dinheiro da Globo e já planeja exibir os desfiles em seu canal no YouTube.
Com a cobertura do Carnaval Globeleza de 2022 e 2023, tendo as agremiações do Rio como as principais estrelas, a Globo faturou aquém do que esperava. As cotas de patrocínio encalharam por diversas razões: um mercado mais retraído, falta de repercussão na segunda tela – atualmente algo relevante no mercado –, crescimento dos blocos de rua e a concorrência de anúncio nas plataformas digitais.
Um cenário completamente diferente de alguns anos, quando a Globo tinha fila de anunciantes e os desfiles das escolas de samba do Rio eram vistos como um produto premium e de alto faturamento no início do ano. Era tão importante quando o futebol no calendário do departamento comercial. A Globo é detentora dos direitos de transmissão do Carnaval carioca há 58 anos.
Diferente das escolas de São Paulo, que o canal mantém um acordo de participação dos lucros e sem cota fixa, no Rio a situação muda. A emissora é uma das principais financiadoras do desfiles do sambódromo da Marquês de Sapucaí e paga um valor fixo para cada escola do grupo especial, em torno de R$ 2 milhões, independente do seu faturamento com as vendas das cotas de patrocínio.
O NaTelinha apurou que diante da mudança de comportamento do mercado publicitário na transmissão do Carnaval, ficará inviável, do ponto de vista de negócio, a Globo manter os mesmos valores pagos às escolas de samba, com isso, a intenção é negociar uma drástica redução no repasse desta verba, como afirma uma fonte próxima das negociações entre a emissora e a LIESA à coluna.
Em seu espaço no UOL, publicado na última quinta-feira (16), Guilherme Ravache afirma que vendendo apenas uma cota de patrocínio e repassando a porcentagem acordada para São Paulo, quitando os valores fixos das escolas do Rio e pagando os custos na estrutura de transmissão dos desfiles, a Globo terá um prejuízo milionário no Carnaval Globeleza 2023. De acordo com o colunista, a emissora deve ter vendido a única cota de patrocínio para a Ambev pelo valor em torno de R$ 42 milhões.
Segundo fontes ouvidas, sabendo dessas mudanças que atravessa o mercado quanto a transmissão do Carnaval na TV, a LIESA já se movimenta nos bastidores para depender cada vez menos do dinheiro oriundo da Globo.
Além de implementar algumas mudanças no plano comercial dos desfiles das escolas de samba na Sapucaí, nos bastidores, a Liga das Escolas do Rio já se discute transmitir o espetáculo no seu canal no YouTube, o Rio Carnaval, e negociar direto com potenciais patrocinadores. Isso seria um marco histórico na relação entre LIESA e a Globo.
Novo modelo de negócio entre LIESA e Globo
Para isso, a LIESA vem se preparando. O canal Rio Carnaval transmitiu os ensaios técnicos das escolas, ao vivo, realizados entre janeiro e fevereiro de 2023, e teve uma excelente avaliação interna. A apresentação ficou por conta de Milton Cunha, que também comanda os desfiles da Globo.
No último domingo (12), durante uma entrevista no canal, Jorge Perlingeiro, presidente da LIESA, fez uma breve consideração sobre as transmissões no YouTube das escolas de samba: “Está dando um resultado incrível e a audiência é fantástica. Temos aí milhares de pessoas que estão acessando nossas redes. Isso já é uma abertura para coisas maiores”.
As transmissões dos desfiles do Rio Carnaval ocorreram através do auxílio da produtora livestreming Fitamarela. O NaTelinha apurou que foram cerca de 30 profissionais envolvidos, nove câmeras, um drone, microfones especiais para as baterias, mais de 800 metros de cabo e duas gruas.
O novo modelo de negócio da LIESA para vender os direitos de transmissão dos desfiles deve se assemelhar ao que a FIFA fez no Brasil com a Copa 2022. A Globo comprou a exclusividade do evento para TV aberta e paga, mas abriu mão das plataformas digitais. Neste cenário, a FIFA vendeu as partidas para a empresa LiveMode, que fechou parceria com o streamer esportivo Casemiro para o YouTube. A transmissão da Cazé TV fechou patrocínio com cinco marcas e virou um case no mercado.
Sobre essas possíveis mudanças no modelo de negócio dos direitos de transmissão das escolas, a coluna apurou que dentro da Globo ainda é visto, neste momento, como precoce para qualquer avaliação, mas que estão atentos aos movimentos. De acordo com fontes, a emissora estaria tranquila por entender que tem poder de negociação por ser a melhor vitrine para qualquer evento no país.
Procurada pela reportagem desde a última quinta-feira (16), a LIESA e a Globo não responderam aos nossos contatos.