CNN Brasil terá repercussão sem a grife Globo?
Neste domingo (15), o novo canal notícias estreia nas operadoras de TVs por assinatura
Publicado em 15/03/2020 às 06:02
A CNN Brasil estreia na TV paga neste domingo (15), um ano e três meses após anunciar sua chegada ao país. Pelas mãos de Douglas Tavolaro, ex-vice-presidente de jornalismo da Record, e o empresário Rubens Menin, o canal caçula de notícias brasileiro terá o desafio de se firmar como uma opção ao jornalismo da Globo e encontrar o caminho de repercussão do seu conteúdo na sociedade. E esta conquista terá que ocorrer sem aparelhamento da máquina do maior grupo de mídia de língua portuguesa do mundo e sua grife.
Até mesmo porque não serviria para nada aportar milhões para produzir um canal de notícias, com pagamento de royalties, estrutura e um caríssimo elenco, se não tiver repercussão.
Nenhum político, formador de opinião, representante do poder judiciário ou do Ministério Público altera sua agenda para acompanhar a abordagem sobre um fato de Brasília ou a atual pandemia do coronavírus nos canais BandNews e Record News, ou aos telejornais do SBT, Record e Band. Porém, mesmo que seja para criticar, sabem que precisam assistir ao Jornal Nacional às 20h30 e que a GloboNews está ao vivo a todo momento. Quebrar essa referência de jornalismo será uma árdua tarefa para a CNN Brasil.
O próprio Douglas Tavolaro, por duas vezes (2007 e 2012), teve a incumbência de emplacar a Record News nos moldes da GloboNews, mas não conseguiu. A CNN Brasil será sua terceira tentativa de criar um concorrente ao jornalismo da Globo. Será que agora vai?
Para não precisar pedir música no Fantástico, Douglas montou o que poderia ser chamado de tropa de guerra pela disputa da repercussão. Desfalcou as redações dos concorrentes e contratou grandes nomes do telejornalismo nacional, como William Waack, Monalisa Perrone, Evaristo Costa e Reinaldo Gottino. Mas são dois passos para frente e um para trás. A CNN Brasil deixa sua isenção editorial em dúvida ao flertar com o governo Bolsonaro em diversos momentos que antecederam sua estreia.
Historicamente, a essência do jornalismo sempre foi a linha de contestação, questionamento e discussão dos governantes. O novo canal de notícias será cobrado por isso. Seguindo a premissa de George Orwell: "Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade".
A Globo é a Globo
O próprio Bolsonaro, feroz crítico a Globo, assiste à GloboNews, sabendo da sua importância e seu poder de reverberação na sociedade.
A Globo é a maior emissora do país e a mais poderosa força de jornalismo da América do Sul. Em 1996, com o surgimento da TV por assinatura, criou a GloboNews como uma versão televisiva da existente CBN, a rádio da notícia.
Suas reportagens são diariamente avalizadas pelo segundo produto mais assistindo da TV brasileira, o Jornal Nacional, além dos inúmeros jornais e revistas impressas do grupo. Qualquer denúncia ali exibida aciona, de forma imediata, atitudes da Justiça e do Ministério Público. Uma vitrine que a CNN Brasil não terá.
Diante da estreia do novo concorrente, a GloboNews já se mexeu. Ampliou sua programação ao vivo, mudou formatos de programas, intensificou chamadas institucionais na TV Globo, com inserções no intervalo da novela das 21h, e vem divulgando mais intensamente seus programas na mídia que cobre televisão.
O mercado vê com bons olhos o surgimento de mais um canal de notícias no país. Mas passado todo frenesi e marketing, que em muitas vezes parecia um reality, em cima da montagem da emissora, a CNN Brasil precisará provar que é possível ter jornalismo que repercuta politicamente fora da Globo, algo que só a TV Manchete (1983 - 1999) conseguiu no passado.