Coluna do Sandro

O que está por trás da megafusão da Globo?

Em setembro de 2018, Globo iniciou o Projeto Uma Só Globo, que vai unir todas as empresas num único CNPJ


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Divulgação/Globo

Desde setembro de 2018, com o projeto Uma Só Globo, o Grupo Globo vem promovendo a maior mudança estrutural desde a sua fundação, há 94 anos. Com a ajuda da consultoria Accenture, o conglomerado de mídia brasileiro e um dos maiores do mundo irá unir em um único CNPJ as empresas TV Globo, Globosat, Globo.com, DGCORP (Diretoria de Gestão Corporativa) e Som Livre. O processo vem acarretando em demissões e tensão entre seus funcionários. Mas o que está por trás dessa megafusão?

Em primeiro lugar, com esse movimento, a Globo vem buscando corte de despesas fixas em alinhamento com seu lucro líquido. Em segundo, ganhar mais dinamismo e se preparar para enfrentar a concorrência das novas plataformas de mídia que surgem, e que como tendência mundial, estão cada vez mais concentradas.

Podemos citar o exemplo da The Walt Disney Company , que comprou inúmeras empresas, dentre elas a DreamWorks, e mais recentemente a Fox,  e vai lançar seu projeto de streaming na próxima semana para enfrentar a Netflix, o esperado Disney+. Caminho também seguido pela americana CBS, que se fundiu com a Viacom e passou a reunir, em um único conglomerado, os filmes da Paramount Pictures e os canais MTV, Nickelodeon, Showtime e Comedy Central.

É isso que a Globo está propondo: uma megafusão das suas áreas de negócios pra reduzir despesas e ter ganho de volume, tanto de produção quanto de conteúdo, com o intuito de reunir forças para competir com os avanços de grupos de mídia internacionais no país.

Neste momento, você pode estar se questionado os motivos que fizeram a Globo a não iniciar este processo de união das suas empresas antes. É simples. A  Globo sempre teve uma preocupação de não pasteurizar a imagem dos veículos. Ou seja, não dar a impressão que todas as empresas da Globo eram as mesmas coisas. Isso reforçaria muito a teoria de monopólio da comunicação.

Porém, há um custo alto para não ter essa cara de monopólio. A falta de sinergia entre as empresas do grupo chegou a um momento que ficou caro demais e passou a ter a necessidade de corte.

Na última terça-feira (06), a TV Globo demitiu cerca de 100 funcionários. O NaTelinha apurou que este processo de redução deve chegar a 20% dos contratados. Além disso, até o fim do ano, uma nova lista de grandes demissões será disparada. Segundo apurado pela coluna, a maior parte será realizada neste período, para não comprometer os resultados do exercício de 2020, que terá seu balanço demostrativo publicado em 2021.

Sobre as demissões, a Globo foi procurada e enviou a seguinte nota: "Não comentamos questões internas. Todas as grandes empresas modernas passam por processos na busca de eficiência e evolução constante e, nesse contexto, é natural que se façam ajustes. Na Globo não é diferente".

Uma Só Globo

O que está por trás da megafusão da Globo?

Liderada pela executiva Rossana Fontenele, atual diretora-geral de Planejamento e Gestão da TV Globo, com grande prestígio entre os sócios e subordinada ao presidente executivo do Grupo Globo, Jorge Nóbrega, o projeto Uma Só Globo vem sendo pensado há muitos anos.  

Seu pontapé inicial ocorreu quando lançaram, em 2000, o Essência Globo, que teve com meta unir a cultura das empresas, juntando todos os funcionários numa mesma medição de valores. Antes disso, cada empresa do Grupo Globo tinha missão, visão e valores diferentes. Foi tudo unido, inclusive as rádios, que neste primeiro momento ficou de fora do projeto Uma Só Globo, junto com o Infoglobo.

Além do econômico, este processo de mudança estrutural de negócios da Globo tem o impacto cultural.  De acordo com pessoas ouvidas pela coluna, no Grupo Globo, a Globosat era considerada mais jovial, avançada e moderna, enquanto a TV Globo tinha aspectos de repartição pública. O Essência Globo serviu para iniciar uma transição cultural para o  projeto Uma Só Globo, que tem previsão de ser concluído até 2021.

Outra sinalização dessa necessidade de fusão de negócios foi quando a TV Globo e a Globosat, em 2014, começaram a produzir episódios inéditos do Sai de Baixo no modelo de parceria. Poucos entenderam esse formato, já que pertenciam ao mesmo grupo, mas o empecilho é que a TV aberta e o Canal Viva possuem CNPJs diferentes, juridicamente são empresas distintas. Outro exemplo: a exibição do talk show de Tatá Werneck, Lady Night, na grade da TV Globo, sendo uma produção do Multishow, da Globosat.

Uma Só Globo vai reduzir a demanda de pessoal na área de apoio e permitir que pessoas hoje trabalhem pra Globosat, para TV Globo, Som Livre, sem ganhar dois ou três salários.

Ao fim de todo o processo, não apenas Uma Só Globo que surge, mas uma nova Globo, mais enxuta e mais preparada para o futuro, tendo força para enfrentar os lançamentos da Netflix, Disney+, Prime Video e Apple TV; hoje, as maiores concorrentes do poderoso conglomerado de mídia brasileiro.

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