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Galvão Bueno tem narração grandiosa na despedida das vítimas da Chapecoense

Território da TV


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Fotos: Reprodução

Galvão Bueno é uma das maiores figuras da história da televisão brasileira, não apenas da narração esportiva. Daqueles raros brasileiros que se conhece em todo o país de ponta a ponta, seja pela voz, seja pela imagem. E que perdura há gerações como narrador “oficial” de grandes momentos do país.

Foi pela voz dele que boa parte dos brasileiros ouviu os títulos mundiais de futebol em 1994 e 2002, assim como inúmeras conquistas da Copa América e da Copa das Confederações. Em 2010, na África do Sul, o título não veio.

E um pedido de “cala boca” ganhou o planeta durante a Copa da África do Sul. Na final, chegou a cogitar ao vivo a precoce aposentadoria após o Mundial de 2014. Felizmente a decisão foi repensada.

Agora em 2016, monopolizou as atenções, como de costume, durante a Olimpíada. Inclusive no mais feliz momento do futebol brasileiro desde o penta, com a inédita conquista do ouro olímpico.

Naquele 20 de agosto, mal podia imaginar que cerca de três meses depois se veria em uma situação completamente oposta, com o instante mais triste do esporte mais popular do planeta em todos os tempos. Mas ainda assim a condução deu uma condição magistral ao momento.

Coube a ele repetir o papel feito por William Bonner no cortejo do corpo de Ayrton Senna e por Carlos Nascimento no do grupo Mamonas Assassinas. Os acontecimentos deste último sábado (3) mostram que não foi exagero no calor da emoção traçar o comparativo desses casos com a tragédia envolvendo o time da Chapecoense na coluna anterior sobre o tema.  

A imensa cobertura e a comoção sem fim realmente não tem nada similar neste milênio. Milênio este, aliás, que foi aberto na Globo com quem narrando a queima de fogos na virada? Sim, o próprio Galvão Bueno, sinal de relevância para qualquer evento.  

De 7h45 até às 15h, sendo a partir das 9h07 sem nenhuma pausa para intervalo comercial, Galvão conduziu sozinho do estúdio do esporte toda a transmissão dos tocantes momentos da chegada dos voos até Chapecó, o cortejo pelas ruas da cidade e as homenagens na Arena Condá.

Foram sete longas horas sequenciadas. Mais do que um esforço para as cordas vocais, controlar a emoção era o mais complicado. Inclusive para os repórteres, que contaram com o seu apoio direto do estúdio. Além do respeito aos profissionais, também houve o feeling de perceber quando o silêncio era necessário, sem se exceder no óbvio nas intervenções.

Num dia em que as imagens por si só já tocavam o coração dos brasileiros, a narração precisa, sem exageros, ajudou a completar a emoção. Foi assim quando os Hércules da Aeronáutica chegaram ao aeroporto e as “boas vindas” aos agora herois.

Diante do torrencial temporal, a demonstração de fé. E a constatação de que era um dos momentos mais emblemáticos da sua carreira, tão pouco tempo após o Brasil receber os dois grandes eventos do esporte mundial. A tristeza voltava a o dominar, como no 1/5/1994, quando se viu obrigado a narrar o acidente fatal do seu também amigo Senna.

Mas o futuro também já é vislumbrado, com o desejo que a Chapecoense se reerga e torne possível uma transmissão de jogo com sua voz. É o que já poderia acontecer na próxima quarta (7), com a partida de volta da final da Sulamericana que jamais ocorrerá.

Com a confirmação do título da Chape pela Conmebol, na tarde desta segunda (5), essa narração poderá vir a acontecer numa Recopa épica, entre o time catarinense e justamente o Atlético Nacional da Colômbia. Ou até uma partida na Libertadores de 2017.

O fato constatado é que com uma humanidade gigante e sem preterir a informação diante do sentimento pessoal, o que seria até compreensível, Galvão Bueno também ficou eternizado naquela que ele mesmo nomeou como uma “das transmissões mais importantes e mais tristes da história da TV Globo”.


O colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira. Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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