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"Catfish Brasil" entrega expectativas baixas mas mesmo assim decepciona

Eu Paguei pra Ver agora analisa os programas da TV por assinatura


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Divulgação

Era uma madrugada gelada de julho de 2014. Estava em Goiânia de férias, quando zapeava pela TV por assinatura. Parei, por algum motivo, na MTV, que voltou às mãos da Viacom havia menos de um ano.

O que me atraiu foi o "Catfish", programa da MTV americana apresentado por Nev Schulman e Max Joseph. É baseado num filme documentário de 2010, de mesmo nome - que é fantástico, inclusive. Recomendo assistirem.

O reality mostrava as verdades e mentiras do relacionamento virtual, baseado numa história que aconteceu com o próprio apresentador Nev Schulman. Ele descobriu que a mulher de 20 e poucos anos com quem ele estava se relacionando online não tinha sido honesta ao se descrever.

"Catfish", para quem não sabe, é uma expressão usada para designar pessoas que enganam outras na web, postando fotos e informações falsas nas redes sociais.

O formato é sucesso no mundo, e naquela noite, havia me pegado. Fiquei me perguntando como aquilo realmente poderia ser real, já que a riqueza de detalhes era assustadora. Pesquisando, descobri que de fato era tudo verdadeiro: o site americano Hollywood.com publicou um relatório detalhado de como tudo acontece.

Virei fã do programa rapidamente, e quando a MTV Brasil anunciou uma versão nacional, gostei da ideia. O formato era bom, e num país continental, não é difícil rolar relacionamentos fakes pela internet.

O problema é que já nas chamadas deu para se notar algo estranho. Um ar teatral tomava conta daquilo, e vindo principalmente dos apresentadores, Ricardo Gadelha e Ciro Sares.

A estreia do programa, acontecida na noite desta quarta-feira (31), reforçou uma expectativa baixa que já se tinha. O pensamento era geral na internet, e vendo, acabei tendo de concordar.

Os nomes dos envolvidos eram Laís e Arthur. O perfil do rapaz tinha apenas 50 amigos e notoriamente uma foto de capa com uma edição de Photoshop bem mal feita. Não dá para crer que uma garota, de 20 anos, e que mora em Brasília - uma cidade com padrão de vida alto - iria cair naquilo por um ano como foi apresentado.

Em alguns momentos, montagens de continuidades me incomodaram. Outro problema foi justamente o que a chamada já havia passado: o ar teatral.

Só que ele não veio dos apresentadores - já vamos falar deles -,mas dos personagens da história. Laís, ao descobrir que as fotos do parceiro não eram reais, deveria ficar decepcionada. No vídeo, não foi o que pareceu. Foi tão falso que até gravei e digo: leitores, vejam vocês mesmos:

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Ricardo Gadelha e Ciro Sales até que funcionam bem juntos e casam bem no ar, mas novamente, o ar teatral deixa até o melhor do programa com cara de falso.

Em alguns momentos, o "Catfish Brasil" me lembrou o "Você na TV", extinto programa de João Kléber na RedeTV!, onde "segredos bombásticos" eram revelados sem a menor parcimônia.

A diferença era que João Kléber não se levava em nenhum momento à sério, e o "Catfish Brasil" sim, até por se tratar de algo delicado. Porém, o ar teatral somado à vontade de ser levado à sério, deixa o programa falso, bem como alguns dos personagens.

O formato do "Catfish" tinha tudo para ser bem utilizado no Brasil, mas parece que não foi.

Reality show pode não ser sempre tão real assim, mas ele não pode deixar tanto na cara que não é. Isso fere a credibilidade, e faz o público achar que é trouxa. O "Catfish Brasil", infelizmente, deixa essa sensação, ao menos na noite de estreia.


Gabriel Vaquer escreve sobre mídia e televisão há vários anos. No NaTelinha, é responsável por reportagens variadas e especiais. Ainda assina as colunas "Antenado", sobre TV aberta, e "Eu Paguei pra Ver", sobre TV por assinatura. Converse com ele. E-mail: gabriel@natelinha.com.br / Twitter: @bielvaquer

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