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Quase 20 anos depois, alfinetadas de "Anjo Mau" seguem sendo atuais

"Direto da Telinha": Personagens ainda retratam bastante as idiossincrasias da sociedade


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Reprodução

Elisinha Ferraz (Ariclê Perez) e Clô Jordão (Beatriz Segall), irmãs que outrora desfrutavam de prestígio da alta sociedade e agora tem que conviver com a decadência que várias famílias quatrocentonas paulistas passam.

Rui Novaes (Mauro Mendonça), o homem de prestígio envolvido em diversos atos controversos, como corrupção e coação.

Olavinho Ferraz (Gabriel Braga Nunes), o típico playboy medíocre que não vê que o mundo vai mais além do que suas ambições pequenas e que cai nas graças de um homem duvidoso que o transforma num candidato.

Vívian (Taís Araújo), a negra que conquista seu lugar no mundo sem deixar barato as manifestações racistas que passa. É... Poderia ser uma novela atual. Mas não, é uma reprise do "Vale a Pena Ver de Novo". Uma história feita em 1997, originária do horário das 18h, conhecido por tramas mais amenas e suaves.
 
Anjo Mau”, trama de Maria Adelaide Amaral baseada na obra de Cassiano Gabus Mendes, não é exatamente uma trama segmentada, uma vez que sua história é centrada na saga da babá Nice (Glória Pires), uma cinderela às avessas e tem todos os ingredientes de um novelão tradicional. Mas não poupa em alfinetadas ao mundo político e às idiossincrasias da sociedade em seus capítulos.

Por cenas, diálogos e personagens inteligentes, conduzidas com maestria pela autora, oferecem uma ótima reflexão a quem assiste. E uma mostra de que, apesar da evolução que nossa sociedade viveu de 1997 para 2016, ainda há meandros enraizados na cultura do país que ainda insistem em sobreviver.

Maria Adelaide, em suas obras posteriores, demonstrou seu apreço por esse tom crítico nos arredores de suas histórias. Uma de suas sinopses apresentadas, a da trama “Dança da Vida”, que teria sido uma novela das 18h lá nos idos de 2002, inclusive, chegou a ser cancelada pela emissora por seu tom ácido às vésperas de uma eleição presidencial. Outro caso foi o da próxima novela das 21h, “A Lei do Amor”, que segundo comunicado do canal, foi adiada para substituir “Velho Chico” de modo a não perder sua crítica por ocasião das eleições para prefeito e vereador deste ano.

Mais retratos da realidade virão por aí, como o passado de Alzira (Regina Dourado), que poderia ser a trágica história de alguma mulher por aí. Claro que há espaço para todos os tipos de histórias, e todas têm sua beleza, desde as mais simples e despretensiosas, apenas para puro entretenimento, até as mais reflexivas e críticas.

Mas é de se surpreender que uma reprise vespertina consiga ter, com mais competência e fugindo de didatismos, uma crítica social posta de modo palatável e aconchegante, sem se tornar chata ou presunçosa. Ponto pra autora, que conseguiu fazer uma obra atemporal.


Diogo Cavalcante é formando em jornalismo. Amante de televisão e apaixonado por novelas, fala sobre o assunto na internet desde 2013. É um dos maiores especialistas sobre Classificação Indicativa na internet.

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