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Despretensiosa, "Totalmente" acertou em cheio nas doses de humor e romance

"Enfoque NT" analisa trajetória da novela das sete, "Totalmente Demais"


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Eliza teve seu final feliz com Jonatas - Divulgação/TV Globo
Terminou nesta segunda-feira (30), a novela “Totalmente Demais”, escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, com direção de Luiz Henrique Rios, na Globo.
 
Sucedendo a insossa “I Love Paraisópolis”, “Totalmente” tinha a missão de continuar a fazer subir os índices do horário, que já vinham numa crescente desde o término de "Geração Brasil" e começo de "Alto Astral", no final de 2014.
 
Os autores, além de terem elevado a faixa à um patamar não visto desde 2012 com "Cheias de Charme" e cada vez mais raro de se alcançar por conta de novas mídias, conseguiram contar uma história de amor que realmente fisgou o telespectador como há tempos não acontecia.
 
Particularmente, não via uma movimentação tão grande assim em final de novela desde "Avenida Brasil" (2012). O último capítulo de "Totalmente Demais" ganhou ares de evento e chamadas plasticamente perfeitas da Globo, num grande suspenso. 
 
 
A história pegou. O folhetim ganhou contornos de fenômeno, mas não inventou a roda, nem teve a pretensão de impressionar com imagens exuberantes ou fotografia mais rebuscada. A trama apostou em histórias clássicas, mas certamente o motivo (ou um deles) foi exatamente a maneira cativante como tudo isso acabou acontecendo. 
 
Vamos aqui para um raio-X e "destrinchar" a novela e tentar entender por que "Totalmente Demais" foi uma história de amor que "mexeu com o Brasil" (ganhando elogios até da concorrente Record, que adiou "Escrava Mãe" em função dela), como faz questão de ressaltar as chamadas da emissora. 
 
O verdadeiro romance das sete e o triângulo 
 
Contar a história de uma menina pobre rumo ao sucesso não é novidade. Mas Rosane Svartman e Paulo Halm não ficaram só no básico e adicionaram mais sofrimento na vivência de Eliza (Marina Ruy Barbosa).
 
 
Sofredora, ela vivia no interior do Rio de Janeiro quando seu padrasto, Dino (Paulo Rocha), começou a ter uma visão diferente da afilhada. Depois de sair da infância e a ter seu corpo desenvolvido, o padrasto virou vilão, querendo Eliza pra ele. 
 
O assédio doméstico, um tema bastante delicado, começava a ganhar força, e também a torcida dos telespectadores. Para compor o núcleo, uma mãe cega de amor pelo marido, Gilda (Leona Cavalli), e dois irmãos.
 
O sonho da mocinha? Chegar no Rio de Janeiro, prosperar e levar toda a família pra lá, longe do padrasto. 
 
O romance ganhou uma pequena pincelada logo no primeiro capítulo, quando Arthur (Fábio Assunção) parou seu visto carro vermelho no bar de beira de estrada da família da ruiva e passou a denominá-lo como "príncipe".
 
A trama ganhou força e foi no Rio que Eliza encontrou seu parceiro, Jonatas (Felipe Simas), por quem viria a se apaixonar mais tarde.
 
Mais amor, por favor
 
 
Geralmente, entre o casal protagonista, há sempre o vilão.
 
O que dividiu muita gente na espinha dorsal da trama foi a ausência da tradicional figura tirana e sem escrúpulos. 
 
Arthur, apesar de não ser santo, tem seus encantos, e foi transformado depois que se apaixonou por Eliza. Uma relação construída com a convivência e aprovada por grande parte dos telespectadores, apesar da evidente diferença de idade, o que na opinião de muitos, é motivo de desaprovação. 
 
Já com Jonatas, o sentimento era outro: o de descoberta, o de ter passado por poucas e boas nas ruas, da cumplicidade, parceria. Um amor oriundo da dificuldade. A ruivinha e o ex-vendedor de balas cresceram juntos.
 
Entendo perfeitamente as duas torcidas, mas acredito que os autores tiveram uma escolha coerente com o parceiro de Eliza em seu desfecho.
 
As chamadas já alardeavam: "Um amor que sobreviveu às ruas. Um amor que sobreviveu às armações. Um amor que sobreviveu ao perigo. Mas será que esse amor vai sobreviver à distancia?". Nesta chamada do último capítulo, o final estava decretado com todas as explicações no texto.
 
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Como se tudo isso não bastasse, o grand-finale ficou por conta do transplante de fígado, onde Eliza se prontificou a doar parte do seu para Jonatas, depois de ter sido esfaqueado. Um amor puro. Sem jogos ou apostas, como a relação que a ruiva teve com Arthur. 
 
Arthur é um cara extremamente presunçoso, arrogante e sempre quando teve a oportunidade, "cresceu" pra cima de Jonatas e sempre o tentou diminuir como o chamando de "jovem proletário". 
 
Questão de ponto de vista. Arthur tem suas qualidades, mas para ficar com Eliza, realmente, os autores foram coerentes (sem guerra!). 
 
Núcleo cômico apurado 
 
Grandes personagens de "Totalmente Demais" roubaram a cena diversas vezes. 
 
Florisval (Aílton Graça), grande fio condutor desse negócio, foi peça chave na divertida novela das sete. Não só ele, como seus dois (ou três?) filhos, a mulher Rosângela (Malu Galli) e a ex, Maristella (Aline Fanju) construíram seus personagens na medida.
 
Todo esse núcleo teve atuações impagáveis, conflitos e situações verdadeiramente engraçadas, a ponto de fazer inveja nos humorísticos da casa. 
 
Já no bairro de Fátima, a mesma coisa. Cassandra (Juliana Paiva) liderou o núcleo com maestria e momentos que era pedido mais drama, a atriz conseguiu desempanhar bem essa função. Coisa que muitos duvidavam. 
 
Outro que teve grande destaque foi Max (Pablo Sanábio). Fez muita gente soluçar de rir.
 
Família Bastille
 
A trama amadureceu como um todo, mas em especial as histórias de Fabinho (Daniel Blanco). No início, fazendo parte de um movimento para que o Rio Tamanduá não fosse poluído, ele tinha, além de seus ideais, um conflito quase que diário com seu pai, Germano (Humberto Martins), na tentativa de provar sua importância e competência. 
 
Germano, aliás, que viveu diversas ocasiões, até a descoberta que Eliza era sua filha. 
 
As apostas 
 
 
O grande ponto de partida aqui é entre Carolina (Juliana Paes) e Arthur. Sobretudo quando Eliza ainda era florista e ele disse que seria capaz de transformá-la numa grande modelo e vencedora do concurso Garota Totalmente Demais. 
 
Carolina, apesar da conduta duvidosa, jamais foi uma vilã tradicional. Teve seu lado humano contado desde o início, como o desejo de ser mãe. 
 
A relação entre Carolina e Arthur também teve torcedores. 
 
Nem tudo são flores... 
 
"Totalmente Demais" não foi perfeita. Teve seus problemas, e acabou irritando o telespectador em alguns momentos.
 
A obsessão de Lu (Julianne Trevisol) por Rafael (Daniel Rocha) no começo da trama foi um deles. As tentativas da jornalista de se aproximar do fotógrafo beiravam a infantilidade, mas essa situação foi resolvida em algum tempo. 
 
A novela destoou de verdade com a volta de Sofia (Priscila Steinman). Atriz competente, sabendo aproveitar bem as nuances e as duas caras da personagem, mas seu regresso à história não colou.
 
O motivo, definitivamente, não convenceu. Um ponto fora da curva, mas que serviu, ao menos, para juntar novamente Lili (Vivianne Pasmanter) e Germano. 
 
Último capítulo
 
O último capítulo cumpriu o que prometeu. Uma ressalva: o chroma key, técnica utilizada para projetar as imagens de Paris ao fundo, ficaram bastante aquém. Até o telespectador menos atento percebeu a qualidade duvidosa da imagem.
 
 
A participação de Gabrielle Aplin, intérprete da música "Home", de Eliza e Jonatas, também não foi bem inserida na cena final. Esperava algo mais natural.
 
Considerações finais
 
"Totalmente Demais", sem dúvidas, entra para o hall de umas melhores telenovelas dos últimos anos. Sobretudo no horário das 19h30, que não emplacava uma boa história há algum tempo. 
 
Os autores conseguiram costurar histórias, entrelaçar personagens e contar bons romances.
 
Fenômenos como esse estão cada vez mais raros de acontecer, e certamente tardará até que chegue outro. 

 
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há 11 anos e assina a coluna Enfoque NT há cinco, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br  |  Twitter: @tforatto

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