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Fábio Porchat, Xuxa e o mito das demissões em massa

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Fábio Porchat está prestes a ser anunciado como novo reforço da Record
As empresas, de uma forma geral, utilizam-se de artifícios para realizar reformulações em seus processos. Não são raras as vezes em que vemos uma companhia demitindo e atribuindo à crise, à queda de receitas, à queda da margem, ao aumento dos impostos ou qualquer outra intempérie que possa afetar direta ou indiretamente a naturalidade do dia-a-dia empresarial.
 
Na televisão, esse movimento não é diferente. Globo, Record, SBT, Band e RedeTV!, apenas para citar as cinco maiores referências do país, invariavelmente promovem alterações em seus quadros de funcionários, realizando demissões e contratações em massa.
 
Não chega a ser novidade, em uma emissora que emprega mais de 3 mil pessoas, que 100 ou 200 sejam demitidas de uma só vez. Um programa extinto, um horário de novelas que não vinga, uma reestruturação nos departamentos. Tudo isso culmina em um processo dessa natureza.
 
 
Vejo a Band, por exemplo, que quase todo final de ano promove o corte de centenas de funcionários em seu quadro. E quase todo final de ano, a culpa é da crise. Quando as demissões ocorrem em época de vacas gordas, a desculpa é a falta de projetos. Mas as centenas de demissões são certas.
 
As empresas, de uma maneira geral, são pouco claras com seus empregados. Os tratam como apenas máquinas, não como seres humanos. Salvo raras e honrosas exceções, os departamentos de recursos humanos apenas se focam em trabalhar números relacionados à quantidade de máquinas vivas que possuem para operar as máquinas não vivas.
 
Convencionou-se que os problemas do empregado são do empregado e a empresa deve se manter afastada para “não deixar o emocional sobressair ao profissional”. Balela. As empresas se mantêm distantes da responsabilidade por vidas, por pessoas, famílias. Quantas pessoas não cometeram suicídio após uma demissão? Qual o impacto de uma demissão no dia-a-dia de uma família?
 
Empresários mantém-se à margem por conveniência. Por comodismo, para não sentirem o peso de suas decisões.
 
Óbvio que profissionais que desagregam ambiente, que trabalham contra a empresa, que fazem corpo mole, que se julgam mais do que são, que não realizam suas funções por desleixo ou que cometem atos que possam ferir a marca devem ser desligados.
 
Não desejo aqui ser o baluarte dos trabalhadores oprimidos contra os grandes empresários opressores, pois a relação não se trata disso, mas apenas de uma relação clara e saudável entre empregado e empregador.

Produtora manda retirar logotipo da Record do complexo de estúdios Recnov
 
O fato de a Record não informar a seus funcionários sobre o arrendamento de sua base no Rio de Janeiro para a (excelente) produtora Casablanca, não informá-los sobre sua demissão e não deixar claro o porquê desse plano, é, por si só, uma deslealdade sem igual. Como exigir lealdade de funcionários que se trata com tanto desdém? Como exigir comprometimento de um funcionário que se trata com tanto descaso? Como exigir organização de um funcionário que se insere em tamanha bagunça?
 
Mas o pior é que, até como forma de desviar o foco, contratações são realizadas justamente nesses momentos. Aí, as demissões caem na conta de Hebes, Xuxas, Porchats, GfKs da vida, sem que, de fato, tenha sido responsáveis por tal situação. Cria-se um clima de guerra entre partes que pouco ou nada têm relação.
 
A eminente contratação de Fábio Porchat não é a responsável pelas demissões. Se uma empresa como a Record precisar demitir um núcleo ativo para montar outro, melhor não fazer o investimento. E, em geral, não o fazem, pois não é seguro trocar o certo pelo duvidoso. E segurança é (quase) tudo no meio empresarial. Assumem riscos? Claro, mas são muito bem calculados, não são meras aventuras.
 
 
O humorista não é responsável, mas apenas mais uma máquina dentro dessa engrenagem, mais um funcionário a dar expediente na emissora, como foram tantos outros. Os fatos são isolados. Porchat, Xuxa ou Hebe não merecem a pecha de “responsáveis pela demissão em massa”, simplesmente porque não o são!
 
Nenhum deles colocou uma arma na cabeça do dono da emissora e exigiu ser contratado. Se o foram, é porque a empresa julga que podem trazer um bom retorno em determinado prazo. Mesmo que tenham “se oferecido” para o canal, este não teria aceito se não visse potencial neles. A responsabilidade por contratações e demissões é única e exclusivamente da empresa, do empregador, dos tomadores de decisões.
 
Não sejamos covardes de atribuir a um inocente tamanha responsabilidade, nem de permitir que os verdadeiros responsáveis se escondam atrás desses artifícios.
 
 
Apaixonado por televisão, Helder Vendramini pesquisa e estuda esse meio há vários anos e é formado no curso de Rádio e TV. Aqui no site, busca fazer análises aprofundadas dos mais variados temas que envolvem a nossa telinha.
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