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"Totalmente Demais" fica entre o pop e o preguiçoso

Estação NT


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Foto: Divulgação
Belas cenas no exterior, texto afiado, humor cheio de referências ao universo pop, tentativas de dialogar com o mundo virtual (pelo lançamento do "capítulo zero" na internet), personagens um tanto infantilizados envolvidos em história de Cinderela. O primeiro capítulo de "Totalmente Demais", novela de estreia de Rosane Svartman e Paulo Halm, após o sucesso das duas últimas temporadas de "Malhação", traz vestígios das últimas tramas das 19h da Globo, unindo o ponto de virada realizado por "Cheias de Charme" em 2012, à tradição do horário em apresentar humor e enredos mais leves.
 
Eliza (Marina Ruy Barbosa) planeja fugir do bar de beira de estrada comandado pelo padrasto abusivo para, no jargão rasgado das mocinhas, "oferecer uma vida melhor" à mãe e aos irmãos pequenos. O acaso a faz encontrar Artur (Fábio Assunção), dono de uma agência de modelos, que junto com o seu par romântico de ocasião, Carolina (Juliana Paes, redescobrindo a veia cômica), editora-chefe da fictícia revista que dá nome à trama, lançará o concurso que colocará uma garota comum na capa da publicação. A partir daí, Artur e Eliza se apaixonam, e as situações estão armadas. 
 
Ancorada na ascensão da chamada nova classe C à época, "Cheias de Charme" colocou o Brasil empreendedor, dono de uma cultura própria, frente a frente com o país formado pela classe média inerte, confusa em relação aos seus valores. A partir daí, suas sucessoras repetiram o esquema tanto na forma quanto no conteúdo. Porém, "Totalmente Demais" suaviza as cores do cenário e da tensão entre classes, jogando a história para o triunfo pessoal, ou seja, a sorte dos personagens, trabalhando com emoções mais diretas (ciúmes, paixão à primeira vista, comédia pastelão). 
 
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As cenas às vezes divertidas entre Carolina, seus familiares suburbanos (interpretados por Hélio de La Peña e Samantha Schmutz) e seus pretendentes amorosos (que inclui Humberto Martins, dono de um império dos cosméticos) não raro se perdem em suas intenções juvenis, claramente copiadas de "Malhação" e das narrativas adolescentes estrangeiras, nos quais os adultos rodopiam em torno de comportamentos caricatos, e os mais jovens carregam mais responsabilidades do que deveriam. 
 
Alguns dos diálogos espertos, aliados às cenas ligeiras, se chocam com a ingenuidade melosa das situações enfrentadas pela protagonista Eliza, que compara Artur a um príncipe de contos de fada. Há, aliás, certo desconforto entre Assunção e Ruy Barbosa como casal, provavelmente pelo fato de o ator não mais se encaixar, após décadas de carreira, na mesmice de galã. O quarto trabalho seguido da atriz na tela contribui para certo cansaço por parte do telespectador. 
 
A abertura da novela, com colagens estilo Instagram ao som de hip hop, remonta à sua antecessora, "I Love Paraisópolis". Com potencial para explorar o universo atualíssimo da mídia e da fama instantânea, "Totalmente Demais" deve superar alguns truques preguiçosos para não ser, tais quais algumas das tramas anteriores, apenas mais uma novela simpática, com parafusos (e núcleos) soltos.
 
 
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.
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